sexta-feira, julho 28, 2006

Amo-te

Bem, este texto já estava prometido há imenso tempo, portanto aqui vai ele... continuo a não estar muito satisfeito com isto, mas acho que nunca estarei, portanto let's go for it.

"Amo-te".

O que significa isto, ao certo?

Bem, para começar, posso dizer-vos, IMHO, o que não significa. Não significa nem violinos, nem fogo de artifício, nem nenhuma outra analogia idiota criada por contos de fadas, venham eles de Hollywood ou de qualquer outro lugar.

Falando em Hollywood, vem-me à cabeça uma cena de um filme onde o conceito daquilo que entendo por amor estava espelhado de uma forma que compreendi perfeitamente.

Estou a assumir que já toda a gente viu o "Munique"; se assim não for, sorry, mas vou contar uma cena do filme.

Perto do final, há uma cena em que ele está a fazer sexo com a sua mulher. E apesar de o seu corpo estar lá, a sua mente está a milhas. A única coisa que vê à sua frente é o que aconteceu com os reféns, e a forma como morreram. E ela apercebe-se que ele está apenas "going through the motions", i.e., que a sua mente está noutro lugar.

E como é que ela reage? Diz simplesmente "Amo-te".

E é isto. Pura e simplesmente isto. Sim, ele não está lá, e ela compreende. E ela dá-lhe o desconto, e está - aparentemente - preparada para o ajudar a lidar com o problema. E ela não pensa que ele está distante por ter outra, ou porque ela não o satisfaz, ou por nenhum outro disparate qualquer que leu na Cosmopolitan, ou na Activa, ou na Moderna, ou em qualquer outra revista descerebrada.

Dirão vocês "Sim, mas este é um caso especial". Sim, é verdade. No entanto, este "caso especial" serve perfeitamente de contraponto em relação à "normalidade". Que é?

Que é estarmos, por omissão, constantemente prontos a julgar os outros da pior forma possível. À primeira vista, são maliciosos; se não são maliciosos, são incompetentes; se não são incompetentes,... bem, são simplesmente idiotas, e pronto, assunto resolvido. E isto não muda numa relação. Muitas vezes, a forma como julgamos a pessoa que está connosco é exactamente a mesma, só que com um grau de exigência ainda maior.

Então, o que é o amor?

Ocorrem-me imediatamente duas palavras - confiança e cedência.

Nota: O segundo item costumava ser "sacrifício", mas alguém me convenceu a alterá-lo. Bigado, HP :)

Confiança.

Sim, a primeira coisa que vem à ideia é a história da cara-metade que trabalha até tarde; "confiança" significa que não vamos pensar que ela anda a "dar umas voltas" com o chefe, ou com um colega de trabalho. Mas só isto não chega.

É também eu estar à espera dela há meia-hora e saber que existe um motivo perfeitamente válido para ela estar atrasada, em vez de pensar "é sempre a mesma trampa, ela nunca consegue chegar a horas"; é ela dar-me uma resposta torta, e eu conseguir perguntar "o que tens?" com um interesse genuíno em saber o que a está a afligir, e não como se fosse uma acusação, do tipo "se estás mal disposta, a culpa não é minha, ouviste?"; e se ela me der outra resposta torta, é eu conseguir manter a calma, e não desistir enquanto ela não se abrir comigo.

É eu confiar nela de tal forma que me permita abrir-me e contar-lhe tudo o que me vai na alma, e entregar-me sem reservas nem receios. Sabendo que, mesmo que no futuro acabemos com tudo e vá cada um para seu lado, o que lhe contei ficará para sempre entre nós (sim, este passo é difícil de dar, eu sei; e sinto-me imensamente feliz por poder dizer "eu sei").

E a cedência?

A face mais visível deste aspecto é o habitual equilíbrio de parte a parte - "hoje fazemos como tu queres, amanhã fazemos como eu quero". Mas não é assim tão simples.

A cedência só representa o nosso amor pela outra pessoa se for desinteressada. Ou seja, se for um "hoje fazemos como tu queres, mesmo que amanhã não façamos como eu quero"; "hoje fazemos como tu queres porque isso te faz feliz, e não há nada que me faça mais feliz que ver-te feliz".

Mas, dizem vocês, se for sempre o mesmo a ceder, mais cedo ou mais tarde a coisa irá rebentar. É verdade. Mas, se é sempre o mesmo a ceder, então é porque, se calhar, algo tem que ser repensado. Afinal, ambos deveriam ter um objectivo em comum - fazer o outro feliz.

Então, e o romantismo? E os jantares com dezenas de velinhas? E a telepatia? E o "saber, só com um olhar, que estamos perante a pessoa certa"? O "quando olhei para ele, senti não sei muito bem o quê, e sabia que tinha encontrado o homem da minha vida"?

Permitam-me um pequeno desvio, para poder chegar à conclusão...

O que é um filme? Ou um livro? São histórias. Histórias que têm como objectivo principal proporcionar uma experiência de escape. Para escapar a quê? À realidade, claro. E como é que conseguem atrair as pessoas? Simples, prometendo algo diferente da realidade, algo melhor.

Concentremo-nos nos romances (onde irei incluir as comédias românticas). Um dos ingredientes que vão encontrar em quase todos (sim, o "quase" é porque há excepções) é justamente essa coisa dos "fireworks at first sight", do "I was sure you were the one, the moment I saw you", e um conjunto de conceitos idênticos.

Agora, pergunto - porquê? Bem, uma conclusão possível é esta - é a forma de atrair o pessoal, dar-lhes algo melhor que a realidade. Dar-lhes algo que só muito raramente acontece na realidade. Para quem utilizar os romances como ponto de referência, dir-se-ia que a esmagadora maioria das relações começam com um momento "fireworks". Na realidade, tenho sérias dúvidas que assim seja, mas também tenho sérias dúvidas que o objectivo de quem produz um romance seja ter algo a ver com a realidade.

Aliás, por algum motivo se chama a "Holllywood" a "Fábrica de Sonhos". E é isso que são todas essas coisas que os romances nos vendem - no caso dos filmes, acompanhadas por uma banda sonora a condizer. Sonhos. É bom termos sonhos. Mas não é lá grande coisa deixarmos que o seu brilho nos ofusque, a ponto de perdermos de vista a realidade.

But that's just me. YMMV.

PS: Não, amiga. A nossa conversa hoje não motivou este texto, mas ajudou-me a perceber que estava na altura de o publicar, em vez de o continuar a tentar melhorar. Acho que tu és assim porque te concentras demasiado no teu sonho, mas tudo bem. Tens é que fazer um esforço por te aceitares como és. Um :*

Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)

terça-feira, julho 25, 2006

A Not-Quite-So-Perfect Ending For A Lousy Day

Bem, hoje foi a minha primeira experiência vegetariana digna desse nome: Cogumelos com arroz xpto.

Para os cogumelos, segui a receita que aprendi no curso vegetariano: duas cebolas picadas e um fio de azeite na frigideira, alourar, e a seguir espetar-lhe com os cogumelos lá dentro (previamente cortados). Fiz com cogumelos "a sério", e não dos de lata. Sabem, aqueles que compramos e rezamos para que quem os embalou soubesse aquilo que estava a fazer, que é para não aparecermos nas notícias no dia seguinte, com o cabeçalho mais idiota de que há memória - "Homem (ou mulher) envenenado por cogumelos de hipermercado".

Para acompanhar, fiz o arroz xpto. Uma cebola picada, um tomate, às rodelas ligeiramente esmagadas, um fio de azeite, e um pouco de água numa panela (por acaso, enganei-me, e em vez de um pouco de água, coloquei um "muito" de água). Deixar ferver, e juntar o arroz. Quando o arroz está quase pronto, juntar duas cenouras às rodelas.

Acompanhado com uma bela Leffe Blonde... epa, caiu mesmo bem. Enquanto comia, estava a ver o último episódio da Série 3 do Coupling, a cena em que o Patrick faz a sua declaração à Sally. E veio-me à cabeça uma grande verdade, quiçá uma frase batida (pelo menos, para mim) - quando duas pessoas gostam uma da outra, e querem realmente estar juntas, a perfeição é perfeitamente supérflua.

Esta cena (de ficção, é certo) é o melhor exemplo que alguém alguma vez poderia ter criado, para demonstrar a veracidade desta frase.

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Patrick: Sally, you are the most wonderful woman in the history of the entire universe. You're incredible. You've got the looks of a Miss World, with the brains to match. You're more than a woman. You're like... a man! Seriously! You could be a bloke any time you wanted! I mean obviously a bloke with some pretty serious defects but hey, who cares about that? I've seen you down drinks with the best of them! I wish I had a mother like you. Or grandmother, or any kind of ancestor. And since you said what you said, I've had a lot of time to think... but obviously that isn't always possible. Nonetheless I've been able to consider your... application. And, and this is the point. This is the important point. Sally, you need someone good enough for you. You don't want some mutton-headed city boy who spends all his time thinking about his cars and his golf clubs. You want someone who can love you the way you deserve to be loved, the way I want you to be loved. Sally, you need someone who can love you forever... properly. You're my friend sally, and I want to see you with the best. You need Mr. Amazing... Mr. Incredibly, Superbly, Fantastic...ness. Now, in your heart, I'm sure you know I'm right.

Sally (in tears): I don't want Mr. Absolutely Superbly Fantasticness, you stupid, stupid ass! I want you!

P: Oh, for God's sake... Sally...

S: What? WHAT?!

P: I was TALKING about me!
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E o que dizer do cena do anel de noivado, na série 4?

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Sally: This is an engagement ring.

Patrick: Yes it is.

S: An engagement ring!!!! Do you have a girlfriend?

P: Yes, Sally.

S: Who is she??!!

P: You.

S: Me?

P: Yes, you.

S: Who are you proposing to, then?

P: Who do you think?

S: I... I...

P: I was waiting... I was waiting, as it happens, for the right romantic moment.

S (becoming aware she fucked up): Fuck! Fuck...! Fuckitty-fuck!

P: Is that a "yes"?
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Enfim, por algum motivo a história destes dois é a minha preferida da série.

Talvez seja ficção... talvez toda a gente ambicione de tal forma a perfeição, que cenas destas só tenham cabimento em sitcoms... por mim, sabe-me bem pensar que não. E hoje, neste final de dia, só procuro coisas que me saibam bem. Não precisam de ser perfeitas, basta que me façam sentir bem. Olha, por falar nisso, está a tocar o "Winds Of Carnivale", do Jonathan Cain. Quase perfeito...

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domingo, julho 23, 2006

Cvnnimbriga

Data Original: 2005-11-16

Antes de mais, um grande "Obrigado" ao Rui e à Manuela pela inspiração para o mail de hoje :)

Hoje vou falar-vos um pouco da história dessa gloriosa cidade que foi Cvnnimbriga.

Os romanos chegaram a Cvnnimbriga em 139 AC. Existe alguma polémica relativamente à hora de chegada, mas a maioria dos historiadores aceita o relato de Plinivs, o Velho, que situa a chegada próximo das 15:30, hora local. A comitiva romana era liderada pelo General Decimvs Jvnivs Brvtvs, com o apoio do Prof. Decimvs Primeirvs Jvnivs Brvtvs, e estava a levar a cabo uma visita de estudo pela Península Ibérica.

Existe, igualmente alguma polémica relativamente à origem do nome "Cvnnimbriga", havendo duas teorias com grande aceitação entre os etimologistas:
1. "Briga" é um conhecido sufixo celta que significa fortaleza; "Cvnnim" é um termo ainda mais antigo, oriundo de culturas anteriores, de origem indo-europeia, e que significa "planalto rochoso". Portanto, "Cvnnimbriga" seria um local alto e rochoso, defendido por uma guarnição numa fortaleza.
2. A comitiva romana era composta, maioritariamente, por estudantes. Estes, ao chegarem ao local, começaram a fazer grandes algazarras, a altas horas da noite, e a realizar animados desfiles, muito bem regados. Ora, os habitantes locais é que não ficaram muito agradados com este estado de coisas, e foram queixar-se aos responsáveis pela comitiva, o General Decimvs e o Prof. Decimvs Primeirvs. Por causa desta atitude, os estudantes colocaram aos locais o nome de "Cvni Saponae", e a armar brigas frequentes com eles. Daí, acabaria por nascer o nome pelo qual a cidade romana ficaria conhecida, Cvnnimbriga.

Qual das duas teorias corresponde à realidade? Não vos sei dizer, e não creio que alguém realmente saiba. Será algo que ficará para sempre perdido no Crepúsculo da História.

Mas o facto é que os estudantes romanos apaixonam-se pelo local, falam com o General Decimvs e com o Prof. Decimvs Primeirvs, e conseguem convencê-los a enviar um pedido a Roma, um "Vrbanvs Petoitvm", um pedido para fundar ali uma cidade, cuja grandiosidade iria ajudar espalhar o esplendor do Império, e a sua influência.

Roma concordou, e assim nasce Cvnnimbriga, em 138 AC. A primeira coisa a fazer é criar a universidade, a Cvnnimbriga Academia, onde os estudantes se entregam às nobres artes do canto, da filosofia, do consumo de beberagens (no latim, Biberacvli) alcoólicas, do Engatvs, e, quando o tempo o permitia, do Stvdivm.

É, aliás, da Cvnnimbriga Academia que sai um dos grandes motes da juventude romana da época - Fornicatis Avdatia, Proventvm Infantvs.

É, igualmente, neste período que se verifica uma forte explosão demográfica, e um crescimento acentuado do número de jovens casais. Isto levou um grupo de estudantes empreendedores a dar início ao que seria um dos modos de entertenimento infantil mais popular da época, ao qual chamaram Via Sesamvs. Teve início uma época de grande prosperidade para os Cvnnimbriguenses.

Vou aproveitar aqui a oportunidade para fazer um pequeno excurso sobre um costume da altura, e que tinha a ver com a forma como os habitantes das terras eram designados. Normalmente, utilizava-se o sufixo "ense", que significa "oriundo de"; ou seja, "Cvnnimbrigvense", "oriundo de Cvnnimbriga". Porém, entre os estudantes, e a população mais jovem, era mais comum a utilização do sufixo "eta", mais informal, que significava "g'anda marado"; ou seja, "Cvnnimbrigreta", "g'anda marado de Cvnnimbriga".

Este costume sobreviveu até hoje, como se pode comprovar, p.ex., pela dicotomia "Lisbonense" e "Lisboeta". No entanto, houve algumas terras em que este costume nunca foi popular - p.ex., os habitantes da vila de Punhos nunca viram com bons olhos quem os tratava pela designação mais informal.

Em 110 AC, Cvnnimbriga é abalada pela sua primeira convulsão social. Os estudantes vêm para a rua em protesto contra um decreto do Academia Magister Decimvs Primeirvs, que instaura o pagamento de propinas, o designado "Dispendivm Enormis". Durante semanas a fio, os estudantes, em demonstração da sua precária situação económica, dirigem-se com embalagens de pastéis de nata (no latim, Cremoris Laganvmi), pacotes de açucar (Svcarvs) e canela (Cinnamvm) aos cafés e esplanadas, onde se sentam, pedindo apenas bebidas, e exclamando, indignados, que não tinham dinheiro nem para pagar um bolinho ("Monetae Inconcessvs Laganvm Largitio" eram as palavras de ordem estudantis).

São tempos incertos, que levam à falência de alguns estabelecimentos de repasto, até a crise ser resolvida pelo General Decimvs, fazendo uso de Dialogvs, que era o nome pelo qual era conhecido o seu temível corpo de tropas de elite. Os estudantes acabaram por decidir, numa atitude sensata, que era melhor pagar o "Dispendivm Enormis" que terem de enfrentar o Dialogvs.

O costume não se perdeu, e ainda hoje é comum vermos habitantes da zona de Coimbra a realizar este ritual antigo, sentando-se num café com embalagens de pastéis de nata, e pedindo apenas bebidas.

Entretanto, Cvnnimbriga começa a desenvolver-se - é erigido, no reinado de Avgstvs, o Forum Mvlti-Vsvrae, que servia para fins religiosos, comerciais, e de entertenimento. Neste último aspecto, os estudantes foram os mais beneficiados, uma vez que as grandes tourneés de bardos de sucesso passaram a incluir Cvnnimbriga nos seus roteiros. Uma presença que se fez sentir particularmente no local foi a de Qvim Barreirvs, um bardo muito apreciado pelos estudantes.

Outra obra importante foi o Aqvaedvctvs, que transportava para Cvnnimbriga quantidades impressionantes de água da nascente situada no local que é hoje designado como Alcabideque.

O Balinevm Commvnis, os Banhos Públicos, onde os estudantes passavam a vida a subornar os empregados para terem acesso a áreas de onde pudessem espiar o balneário feminino.

Durante o reinado do Imperador Clavdivs, é construído o Cvnnimbriga Theatrvm, com capacidade para 4,000 pessoas. Este passou a ser o local priveligiado para a actuação dos artistas de renome que passavam pela cidade.

Em pouco tempo, a Cvnnimbriga Academia tornou-se num dos mais conceituados estabelecimentos de ensino do Império. Jovens adultos de ambos os sexos deslocavam-se à cidade para terem a sua formação no importante estabelecimento de ensino.

Isto teve como consequência o florescer da vida nocturna, e dos estabelecimentos que a suportam, o que acabou por tornar Cvnnimbriga num pólo de atracção dos romanos que procuravam noites animadas.

A partir de certa altura, começa a ser frequente a presença de veículos desportivos a circular em alta velocidade por Cvnnimbriga. Particularmente populares eram as quadrigas desportivas da família Ferrarvs, as Ferrari. Tratavam-se de quadrigas pintadas num vermelho vivo, puxadas por cavalos negros, e eram um autêntico terror para os transeuntes.

Em Cvnnimbriga passou a ser hábito começar a correr quando se vislumbrava algo vermelho, pois o mais certo era ser uma Ferrari. Este hábito manteve-se durante séculos, na região, com resultados desastrosos quando foram colocados em Coimbra os primeiros semáforos. Ainda hoje, muitos habitantes da região praticam esta tradição de acelerar quando vislumbram algo vermelho.

Durante o reinado de Vespasiano, a construção em Cvnnimbriga ganha um tom mais monumental, e a cidade atinge o seu auge.

Com a decadência do Império Romano, ocorrem as Barbaricae Incvrsionis, e Cvnnimbriga cai, presa dos imigrantes bárbaros. O plano destes imigrantes era destruir tudo o que pudessem, para depois serem contratados para a construção civil, onde teriam emprego garantido a reconstruir o que eles próprios haviam destruído.

Cvnnimbriga foi arrasada em 468, por imigrantes Suevos, tendo a sua esfera de influência sido transferida para Aeminivm, que deu origem à actual Coimbra.

E Cvnnimbriga? Infelizmente, o concurso para a reconstrução foi embargado por suspeitas de tráfico de influências, e por irregularidades ao nível do Impactvs Ambientae Relatvs, o estudo de impacto ambiental, e a reconstrução acabou por nunca se fazer.

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sexta-feira, julho 21, 2006

Aqui... Serei Feliz?

O post de hoje é inspirado neste texto. Obrigado, A :)

É igualmente inspirado por uma conversa sobre publicidade, que tive com uma pessoa que conheci numa festa de aniversário, na semana passada, e que trabalha no sector.

Para que serve a publicidade? Supostamente, para criar num público-alvo o desejo de comprar um produto/serviço (P/S); ou, pelo menos, para criar nesse público-alvo a consciência que esse P/S existe. Reparem na importância do público-alvo. O facto de vermos publicidade que consideramos completamente idiota surge daí - não somos nós o público-alvo dos mesmos. Bem, muitas vezes, até somos, mas isso já é outra questão :)

A publicidade tem uma constante - a felicidade... total e completa. Seja qual for P/S anunciado, irá resolver todos os nossos problemas, tornar-nos mais confiantes, mais seguros, mais atraentes aos olhos do sexo oposto, ou do próprio sexo, ou até de ambos, conforme a (des)orientação de cada um :)

Nos Bons Velhos Tempos(TM), o enfoque estava no P/S. A promessa de felicidade estava lá, mas o importante era o P/S. Este havia sido criado para abordar um determinado problema, e nós seríamos felizes ao utilizá-lo nesse sentido. A coisa funcionava, até porque ser feliz não era assim tão complicado. Citando os Queensryche:

"Work hard in life boy
There's paradise in the end
Year after year we struggle to gain
The happiness our parents never claimed

They told us all we had to do
Was do what we're told
Buy what was sold,
Invest in gold
And never get old
" (Queensryche - "One More Time")

Nos Tempos Modernos(TM), a história é outra. Somos mais exigentes. Já não acreditamos que uma camisa que mantém um branco puro durante anos nos vá fazer felizes.

Precisamos de outras coisas... p.ex., um telemóvel que faça com que um conjunto de gajas descerebradas salte de um iate para entrar no nosso bote; uns cereais de pequeno-almoço que nos proporcionem toda a energia da refeição mais importante do dia, mas... sem calorias (talvez isto explique o mau humor que muita gente afirma ter de manhã); ah, e claro... uma água que nos faça emagrecer... por muito que nos empanturremos de chili-burgers e batatas fritas (e Grimbergen Dubbel, claro :) ).

E quanto à roupa? Bem, o branco já não chega. Em breve, imagino que teremos detergentes especiais para cada uma das cores, que teremos que dosear, seguindo fórmulas matemáticas complexas, convenientemente representadas num quadrado de plástico onde as donas-de-casa (toda a gente sabe que são apenas elas que lavam a roupa, acompanhadas das suas mães e avós... estas, por sua vez, têm uma atracção quase lasciva pela lixívia) poderão facilmente calcular qual a mistura correcta para lavar o tal bikini rosa-choque às bolinhas verde-alface, popularizado pela antiga canção.

No fundo, continuam a prometer-nos a mesma coisa - a felicidade. Só que agora, o P/S já não tem o enfoque. O papel principal é dado justamente... a nós, os felizes contemplados (nem que seja apenas por nós próprios). À conta dos mantras da filosofia "customer-oriented" (que eu traduzi, de forma modestamente brilhante, como a filosofia "o cliente que se oriente"), o P/S já nem precisa de resolver o problema para o qual foi criado. O importante é que sejamos felizes. Bem, ou que tenhamos um carro que se transforme em robot, claro.

À primeira vista, esta estratégia poderia parecer algo contra-producente. Afinal, a estrela do anúncio deveria ser o P/S, certo? Bzzzzzt! Resposta errada. Os anunciantes perceberam que nós nos estamos a cagar para o P/S. O que nos interessa é a felicidade. Temos que ser felizes. Temos que perseguir a felicidade, a qualquer custo. Porque a vida tem que ser isso - uma sequência interminável e ininterrupta de momentos perfeitos, plenos de felicidade... tal como os segmentos de anúncios na TV.

É esse o Sentido da Vida, que nós, finalmente, descobrimos - temos que correr atrás da felicidade, cegos a tudo o resto. Porque tudo o resto, afinal, é secundário - o sofrimento, os desaires, as frustrações, o sacrifício... bah! De que é que isto importa, quando na realidade a única coisa de que precisamos é de ser felizes?

Estes diazinhos cinzentões que vamos tendo, nesta sequência à qual chamamos vida...? São apenas compassos de espera, enquanto perseguimos a felicidade, que encontraremos um dia destes. Não sabemos bem como, mas sabemos que a encontraremos. Desculpa...? Não ouvi, podes repetir? Ah, como é que vamos saber, quando a encontrarmos? Epa, é simples, é... é... bem, quero dizer, ...

Ou talvez não queira... ou não saiba...

Tal como toda a gente, procuro a felicidade. Tenho dias em que gostava que a minha vida fosse diferente, com aquele tal je ne sais quois, que - justamente por não saber o que é - me faz sentir tão inadequado. Em tempos, estes dias eram o meu dia-a-dia. Hoje em dia, felizmente, são raríssimos.

Porque aprendi, entre outras coisas, que esta felicidade baseada num suposto "realizar o potencial máximo de perfeição que cada momento tem para me oferecer" (aka, "viver a vida ao máximo") não é para mim. Não preciso de disfarçar ou apagar o cinzento da minha vida.

Até porque isso é inútil, porque a vida é, maioritariamente, o cinzento. Como disse George Orwell: "Most people get a fair amount of fun out of their lives, but on balance life is suffering, and only the very young or the very foolish imagine otherwise". Por mim, subscrevo sem reservas.

O meu cinzento é importantíssimo. Não me quero livrar dele nunca. Não acredito na vida sem cinzento, que creio existir apenas num conjunto de revistas, livros, filmes, novelas, etc, que tentam, de forma quase desesperada, levar as pessoas a esquecer a existência desta cor tão importante; ou, por outras palavras, afastar as pessoas da realidade, "protegendo-as" com um escudo cor-de-rosa.

Eu quero o meu sofrimento, as minhas frustrações, os meus vícios e defeitos, que tenho que combater diariamente, a minha rotina, que é minha, e que eu tenho que apreciar, pois é uma das melhores coisas que a vida me dá - sem a rotina, eu não teria como dar o verdadeiro valor àquilo que a quebra. É por tudo isto - o bom e o mau - que vivo.

Aprendi que não preciso de ir desvairar ao weekend para me esquecer da existência cinzenta do dia-a-dia semanal, porque... o meu dia-a-dia semanal tem, felizmente, outras cores, que se entrelaçam no cinzento, sem nunca o obliterarem.

Porque o meu dia-a-dia semanal tem almoços que são almoços, durem meia-hora ou duas horas e meia. E isto acontece porque tenho a sorte de ter, no meu local de trabalho, amigos, e não apenas colegas. Amigos que me aturam. Amigos que me picam e me provocam. Amigos que discutem comigo e uns com os outros. Amigos que me dizem "Estás a dizer merda" quando acham que estou a dizer merda. Amigos que me inspiram. Amigos que gozam com as minhas "pseudo-desgraças", e que permitem que eu goze com as deles. Sim, a palavra "amigos" inclui-vos também a vocês, as amigas, OK? :)

Porque o meu dia-a-dia semanal tem contactos com outros amigos. Alguns, aqui tão perto, outros nem por isso. Alguns que um dia são quase íntimos e que noutro precisam de erguer barreiras, por algum motivo que não querem - nem têm qualquer obrigação de - confessar. Afinal, também eles procuram o seu equilíbrio.

Porque o meu dia-a-dia semanal é preenchido com tudo aquilo que a vida tem, em doses diferentes, que me obrigam a estar em permanente busca do meu equilíbrio, por muito desequilibrado que este possa parecer aos outros. Porque é aí que encontro a paz.

Se chega? Nem sempre. Às vezes, sinto falta de algo mais, que tem estado ausente da minha vida há já algum tempo. Mas não deixo que isso me cegue, nem que me impeça de aproveitar aquilo que tenho neste momento. Quanto mais não fosse, porque a vida é demasiado incerta para viver no amanhã - hoje estou aqui, vivo e aparentemente são; amanhã...? Sei lá.

Mas uma coisa eu sei - abraço o cinzento, e revejo-me nele, e sei que faz parte de mim. E quando um desses momentos memoráveis se cruza no meu caminho, e eu tenho a imensa felicidade de estar preparado para ele, disfruto-o, dure ele segundos ou anos. E depois, quando ele passa, regresso à minha realidade; sem problemas, sem dramas, sem quem-me-dera-que-a-vida-fosse-sempre-assim... com a saudade, sem qualquer sombra de dúvida... a saudade de um "Que bem se está no campo", ou de um "A tua tigrinha adora-te"... ou até mesmo de um "Acho-te mesmo giro" (eu era jovem, e ela também; além disso, ela tinha graves problemas de visão, coitada... :D ).

Regresso àquilo que sou, hopefully enriquecido por aquilo que fui. Para mim, neste momento, é isto a vida - uma imensa tela cinzenta, onde tenho a felicidade de, por vezes, poder dar umas pinceladas de outra cor, e permitir que outros o façam. É esta a felicidade que procuro.

E, já agora, termino com uma questão completamente tangencial - para que raio serve a campanha publicitária da Santa Casa, que deve ter sido estupidamente cara? Seria de pensar que, com tantas obras para ajudar, eles tivessem mais onde gastar o dinheiro do que numa publicidade faraónica, não?

Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)

quarta-feira, julho 19, 2006

Bullshit

Data original: 2005-09-15

Existe um conceito fabuloso chamado "bullshit". Não sei bem como traduzir isto para português; talvez "tretas" seja o mais indicado, mas parece-me que lhe falta alguma força. Um dos exemplos mais perfeitos de bullshit são os discursos políticos; aliás, eu diria que os políticos são o exemplo supremo do "bullshit artist".

No entanto, estava há uns tempos a ver o "Coupling", quando me deparei com uma pérola do "bullshit" à qual nunca tinha prestado a devida atenção. A certa altura, a Susan diz o seguinte: "As mulheres querem homens que não aceitem um 'não' como resposta".

Parei o DVD e fiquei a ouvir o som de engrenagens a trabalhar furiosamente. Por fim, decidi que, por muito que pensasse no assunto, aquilo não fazia qualquer sentido, e lá reduzi a actividade da minha máquina cerebral. Entretanto, coloquei a ideia de molho, e deixei-a apurar; utilizei uma receita de molho de cerveja com mostarda, que deve ser fabulosa (ouvi dizer que é uma das preferidas do colesterol). Até que um dia abri a janela e fui, finalmente, atingido por uma teoria que passava por ali (a Compreensão estava de folga nesse dia).

Mais uma vez, não vou dizer que esta teoria é minha, apesar de nunca a ter visto antes do tal dia em que abri a janela. Se alguém souber quem é o seu proprietário, podem dar-lhe o meu contacto, que eu devolvo-a.

Se levarmos à letra a frase "As mulheres querem homens que não aceitem um 'não' como resposta", então a violação deixaria de ser crime; dizer que isto é uma péssima ideia seria o mesmo que dizer que o Hitler foi um gajo chatinho que andou a melgar meio mundo durante meia dúzia de anos. Como tantas outras frases feitas (que soam bem mas não servem para nada), também esta exige uma certa análise sensata e conclusiva para conseguirmos obter algo que faça um mínimo de sentido.

No início, há milhões de anos atrás, as coisas deveriam ter sido mais simples. Até que, um dia... imaginemos um diálogo entre duas mulheres pré-históricas (Nurmaltchuka e Tatatchuka), há alguns milhares de anos atrás, no final do Paleolítico, durante a festa de aniversário da revista "Cosmagnon", na s'pé-famosa gruta/bar/restaurante/discoteca/lavandaria/sex shop/cabeleireiro/ervanária "Selva de Pedra".

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Nurmaltchuka: Oooh Urgh Iaaargh Ah Ah Ih Ah Oh?
Tatatchuka: Airgh Airgh Iak Iak Iak Urgh Ia Ah...

(bem, se calhar é melhor passarmos para uma versão dobrada, não acham? Os turistas que me desculpem)

N: Achas mesmo que o Urgh está interessado em mim?
T: Não tirou os olhos de ti a noite toda...
N: Sim, mas...
T: E aproveitou todas as oportunidadea para vir conversar contigo. É óbvio que está interessado. Sabes o que tens a fazer, certo?
N: Bem, OK, vou abrir o jogo e dizer-lhe que também estou interessada e...
T (em pânico): Nãããããoooo!
N (surpreendida e alarmada): Que foi?
T: Estás parva ou quê? Vê lá se queres levar com o jornal na cabeça! (pode não parecer uma grande ameaça, até nos lembrarmos que os jornais eram feitos de pedra. A edição de Domingo era particularmente dolorosa; apanhá-la do chão sem deixar cair nos pés nenhum dos suplementos que se encontravam no seu interior era uma arte).
N: Mas, se eu estou interessada nele, e ele parece interessado em mim, porque é que não poss...?
T: Não podes! A mulher moderna já não é assim. Tu parece que ainda vives no tempo das Australopithecas!
N: Então, o que tenho que fazer...?
T: Repara... tu estás interessada nele, certo?
N: Certo.
T: E achas - mas não tens a certeza - que ele está interessado em ti, certo?
N: Sim...
T (fazendo aquela cara de felicidade parva e fingida que costumava ver no final dos anúncios de detergentes): Então, é simples! É só dares-lhe a entender que não estás interessada nele, percebes?
N (fazendo aquela cara de confusão bastante genuína, que raramente aparecia nos anúncios de detergentes, ou em qualquer outro anúncio): Não.
T: Não importa. Faz o que te digo, que vais ver que resulta. Quando ele perceber que não estás interessada, vai ficar ainda mais interessado.
N: Então, e se não ficar?
T: Nesse caso, não tiveste que lidar com o facto de te mostrares interessada e levares uma trampa. E ficas com a certeza de que ele não estava realmente interessado, porque não reforçou o seu interesse ao perceber que tu não estavas interessada, que seria a primeira reacção que teria alguém que estivesse realmente interessado e que fosse confrontado com a falta de interesse por parte da pessoa por quem estivesse interessado.
---

Bem, quando é explicado de uma forma simples, até faz sentido, não acham? Há milhares de anos atrás, quando uma mulher demonstrava interesse num homem e ele não estava interessado, a tradição era que ele tinha que lhe atirar com um monte de trampa para cima; a expressão utilizada era "levar uma trampa", que evoluiu para o moderno "levar uma tampa".

Portanto, por uma questão não tanto de dignidade, mas mais de higiene, a mulher começou a utilizar o subterfúgio de ocultar o seu interesse por detrás de "nãos" que queriam dizer "sim", e deixar que o homem assumisse - e mantivesse, mesmo contra todos os indícios - a iniciativa. E hoje em dia, apesar de já nenhum dos actuais macacos da jaula pertencer ao grupo original, quem é que se atreve a contrariar isto e subir ao banco para apanhar o cacho de bananas?

E pronto, é esta a minha teoria, com uma explicação lógica para este tipo de comportamento sem sentido.

Ou então...

Se calhar, isto nunca aconteceu. Se calhar, a minha teoria deveria ser a seguinte: A malta (homens e mulheres) curte o jogo de sedução, com toda a sua teia de subtilezas, porque lhes permite retirar a equipa de campo de forma discreta, como se nunca tivessem pretendido jogar. Não é que toda esta dissimulação seja divertida ou dê realmente grande gozo, mas é que a alternativa é abrir o jogo colocando as cartas na mesa, e a malta (homens e mulheres) tem alguns problemas sérios a lidar com a rejeição.

Porque a malta (homens e mulheres), quando é confrontada com a rejeição, não pensa... (bem, poderia acabar a frase aqui, que faria sentido, e seria uma grande verdade, mas vou continuar) não pensa "OK, desta vez não deu, next please"; ao que parece, é muito mais divertido pensar "Oh, meu Deus, fui rejeitado(a)! E agora? O que será de mim? Certamente que existe algo de errado comigo, senão não teria que passar pelo suplício da rejeição! Será do meu mau hálito?". O que acaba por dinamizar a economia, criando um conjunto considerável de postos de trabalho no campo da psicologia/psiquiatria, para além de um possante mercado para as revistas do bullshit.

No fundo, tratam-se de deficiências de dois nutrientes essenciais para o equilíbrio psíquico: Auto-confiança, para poder acabar com o jogo de dissimul... er, quero dizer, subtileza; e auto-estima, para aceitar que haverá pessoas que não estão interessadas, que isso é normal, e que não é o fim do mundo. Talvez esteja aqui uma oportunidade de negócio para o pessoal que vende suplementos alimentares - arranjar um produto que elimine as deficiências destes nutrientes.

Na série "Coupling", há um personagem chamado Patrick, que é o engatatão lá do sítio. A sua filosofia resume-se esplendidamente nos dois seguintes diálogos:

Sally: Existe alguma forma de comportamento feminino que não interpretes como sendo uma indicação de que és atraente?
Patrick: Acho que nunca vi tal coisa.

Sally: Como é que chamas a alguém com quem sais, mas com quem não queres ter sexo?
Patrick: Homem.

Tem imensos defeitos, todos retratados - naturalmente - da forma mais cómica possível. Mas há um aspecto que considero admirável - é apresentado como sendo o tipo de pessoa a quem a rejeição pouco ou nada afecta; faz-se ao piso sem qualquer tipo de dissimulação ou ambiguidade, leva uma tampa, e continua como se nada tivesse acontecido, à procura do próximo "piso" para "se fazer". Neste aspecto específico, lembra-me o verso da música "Easy Come, Easy Go" dos Winger - "Play the game like you've already won".

Geralmente, este tipo de comportamento é rotulado de insensível, superficial, e coisas piores (principalmente se se verificar numa mulher). Talvez o seja, talvez não... só acho piada que, por oposição, o que imagino que seja considerado sensível - até mesmo sensato - é sermos dissimulad... er, perdão, subtis. Qual era mesmo o tema de hoje? Ah, sim... bullshit!

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segunda-feira, julho 17, 2006

SIEL 2.0

Bem, e lá fui então visitar o Salão Erótico, graças a um convite que um amigo me arranjou.

Assim que entrei, o primeiro ponto negativo (epa, isto não há como o portuga para criticar, não é? :) ) - o barulho. Era para aí uma dezena de sistemas de som, cada um deles a tentar provar aos outros que o seu volume era o mais comprido :) Qualquer um deles obrigado a uma performance que já não conseguia aguentar, e diria mesmo que alguns já deveriam estar na reforma, pelo menos as colunas.

Enfim, não é que não estivesse à espera do barulho, mas admito que a falta de qualidade do mesmo me surpreendeu, pela negativa.

Bem, depois, o perceber do porquê dos 20 euros que pediam por cada bilhete - para quem curte espectáculos de strip, é uma pechincha.

Dar uma vista de olhos pelos stands, para aí em meia-hora... e pronto, está visto! A sério! O que dá um pouco de colorido à coisa são os referidos espectáculos, para o menino e para a menina; sim, gajas, tinham lá um stand exclusivamente para vocês, e outros tinham uma filosofia mista - no palco, ora haviam gajas, ora haviam gajos.

É claro que subir ao palco ali deve causar uma certa frustração devido à imensa e efervescente falta de entusiasmo do portuga; as únicas manifestações que vi eram num palco onde elas atiravam umas t-shirts no fim da performance. Aí era só ver braços no ar, e a malta toda a pedir uma t-shirt. Pode parecer-vos estranho tanto entusiasmo por uma t-shirt, mas é que as moçoilas iam-nas esfregando por zonas estratégicas do corpo, o que para um verdadeiro conaisseur (sim, é um trocadilho bastante óbvio, eu sei, patenteado pelo erro, yadda, yadda, yadda... também tenho direito a descambar de vez em quando, não? :) ) tem um valor inestimável.

Aliás, foi nesse palco (mesmo defronte do stand da Private) que vi os melhores shows. Não é que elas fossem mais bonitas ou mais bem feitas... era a atitude. É verdade que houve uma moçoila que me deixou deslumbrado. Para isso contribuiu o facto de ter passado por nós mesmo à entrada... tive de fazer um esforço para não ir buscar o queixo ao chão (sim, Davide, eu disse que já não me lembrava, porque pensei que tinhas dito que ela tinha passado por nós lá dentro).

A propósito, a foto não lhe faz justiça; ela é muito mais bonita ao vivo. De qualquer forma, é melhor que a foto que a organização escolheu para colocar atrás do palco - nessa foto, a beleza dela estava completamente destruída pela maquilhagem.

Mas, enfim, estávamos na atitude. Para além da Jennifer Stone (a moça de que falo acima), vi também a Sónia Baby (já lá voltaremos), sem correntes :) e uma moça francesa, cujo nome me esqueci - não tenho nada contra ela, antes pelo contrário, mas foi das primeiras que vi, e quando saí de lá já estava um pouco saturado daquilo tudo, além de estar à rasca dos ouvidos e da garganta. Houve pormenores que se perderam.

O que gostei em qualquer uma destas três mulheres foi justamente o facto de terem conseguido fazer uma actuação daquelas com uma desinibição do tamanho do mundo. Don't get me wrong - qualquer uma daquelas pessoas - homens e mulheres - que actuou em qualquer um dos palcos tem um grau de desinibição anos-luz à frente do que eu conseguiria ter. Mas estas três conseguiram deixar todos os outros anos-luz atrás delas - o sorriso, a forma como se tocavam, os movimentos... epa, admito que fiquei fascinado.

Mais uma vez, uma questão que não consigo compreender foi-me colocada constantemente diante dos olhos - o raio dos saltos altos! Todas elas utilizavam saltos que dariam para fazer umas torres aí numa urbanização qualquer. E eu continuo sem perceber porquê.

Sim, já toda a gente me disse que as torna mais elegantes, mais sexy, mais isto, mais aquilo. Por mim, tenho a mesma opinião que tenho sobre o marisco - não é que seja mau, mas dá demasiado trabalho a descascar, para o prazer que dá a comer. Quanto aos saltos altos, dão demasiados problemas para o efeito que causam (sim, eu sei... estou na minoria; mas não me importo).

Enfim, acho que o efeito dos saltos altos, no meio de toda a equação que torna uma mulher excitante, é desprezável. E, voltando então à Sónia, posso apenas dizer isto - uma mulher que tem desinibição para colocar uma garrafa de água entre as pernas, despejar metade para dentro de si, andar pelo palco sem deixar cair uma gota, deitar-se, abrir as pernas para o público, e - utilizando apenas força muscular - lançar um jacto de água para cima deles, conseguindo inclusivé fazê-lo descrever um arco... epa, até me podia aparecer de chinelos de enfiar o dedo.

E pronto. É só. Ah, e acabei até por fazer uma compra e tudo, vejam lá :)

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domingo, julho 16, 2006

O Polvo

O post de hoje poderá parecer-vos algo... enigmático. Se tiverem pachorra para isso, humor me. Senão, vão dar uma volta pela net, a ver gajas... sim, isto é um conselho para os gajos. E as gajas? Enfim, vão fazer aquilo que vocês costumam fazer online, seja lá isso o que for :)

Eu trabalho numa empresa com dimensão suficiente para me corresponder por e-mail com pessoas que não conheço. Não saberia quem são, se elas me aparecessem à frente no preciso momento em que eu estive-se a criticar a sua fraca utilização do imperfeito do conjuntivo.

Quando essa comunicação é burocrática, não há nada mais a acrescentar. Eu envio um mail a dizer "O projecto de envio de tomates assassinos para Marte arrancou com sucesso, dentro do prazo previsto", e recebo uma resposta que pode ir de um trepidante "OK" até um entusiasmante "Tomei conhecimento".

Por vezes, a comunicação adquire um outro cariz. P.ex., quando há problemas - podemos entrar em conflito, ou podemos ter que nos aliar para atac... er, perdão, para obter a colaboração de uma terceira pessoa. Formam-se laços, cumplicidades até, entre pessoas que nunca se viram.

Formamos ideias sobre essas pessoas - a sua aparência, o que vestem, o que comem... nascem dúvidas - utilizarão palito ou fio dental? Ou ambos, num misto de modernismo enlightened sem abdicar do tradicionalismo?

Depois, às vezes, o acaso faz com que as conheçamos. No aniversário de um colega; num jantar organizado pela empresa; numa viagem organizada por um grupo que insiste, por pura carolice (abençoada seja), em organizar eventos que permitam que estas pessoas que não se conhecem (e que por vezes até moram em cidades diferentes) possam conviver um pouco; em cursos de cozinha vegetariana, organizados pelos mesmos "carolas".

E depois é engraçado quando finalmente podemos colocar caras nos mails... Ah, então tu é que és a brux... er, quero dizer, a colega que me está constantemente a dizer que tenho que justificar aqueles 10 segundos que me atraso de vez em quando. Epa, não és nada como te imaginei... Sim, se soubesse que tinhas esse par de mamas, já tinha ido lá ao teu estaminé protestar... não, pessoal, nunca disse isso... nem pensei :D

Enfim, foi muito giro poder conhecer alguns dos tentáculos do polvo. Não conhecia a maioria das pessoas, mas isso é o menos. Afinal, estes eventos existem mesmo é para a malta se conhecer. Para tentarmos dar a conhecer quem somos, de onde vimos, para onde vamos, etc. Curti bastante.

A este polvo só faltou um pouco do que tem o outro (o da série de TV). Não, não é uma mente criminosa, porque isso acho que até se arranjava com facilidade :) Faltou uma unidade central de comando. Mas isso acabou por ter a vantagem de me proporcionar um conhecimento mais extenso de Benfica e de outras terriolas circundantes, cujos nomes desconheço, e onde não seria capaz de voltar, nem que fosse para ganhar o jackpot do EuroMilhões :) Desde voltas "tipo carrocel" a rotundas até viagens pela faixa do bus (que, por acaso, era a única no sentido em que íamos), houve de tudo um pouco. Foi só rir :D

Por mim, adorei. Apesar de ter acabado por me perder dos restantes tentáculos, no final da noite. Tal como disse no SMS, Another time, another place. Haverá outra oportunidade.

Podem contar comigo. Ou, só para picar alguém, "Adorei. Vou voltar" :P

Se me deixarem voltar, claro :)

:* & []

PS: Boa sorte, rapaz! Vai tudo correr bem! Daqui a uns anos poderás contar ao miúdo o susto que ele vos pregou.

PPS: O "À Volta da Lareira" não é só para contos de fadas/infantis. Quando voltar a pegar nele (salvo seja :) ), poderão ter oportunidade de verificar isso.

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sábado, julho 15, 2006

Odds & Ends

Hoje, fico-me por algumas notícias...

1. Uns têm apitos dourados...

Outros fazem as coisas como deve ser...

Dias depois de terem sido campeões do Mundo, aqui estão os italianos a dar novamente uma lição de futebol a tudo e todos. Veremos se é para valer, ou se irão recuar nas decisões.

E pronto... é por isto que, apesar de não ser grande fã de bola, até admiro o futebol em alguns países, e me estou a cagar completamente para o futebol de cá.

2. Messengices
Não sou um grande fã do messenger.

Até hoje, ainda ninguém me conseguiu fazer ver uma vantagem clara do messenger sobre o e-mail. Quanto ao velho argumento de que o messenger é mais imediato,... eh eh... depende da forma como utilizarem o mail. Por mim, há "conversas" em que mal fiz reply, já lá tenho mais meia-dúzia deles para ler.

A verdade é que, desde que haja algo para dizer, tão imediato é um como outro.

Anyway, para todos os fãs destas coisas, aqui vai uma boa notícia. A Microsoft e a Yahoo vão finalmente fazer aquilo que já deveriam ter feito há séculos, e permitir a interoperabilidade entre os seus messengers.

3. Misticismo
Epa, vejam lá vocês! Quem diria?

Um estudo demonstra que uma droga alucinogénica provoca experiências místicas e espirituais. No shit??!!

Bem, tendo em conta que o efeito da droga é descrito como sendo "comparable to those of a shorter LSD trip", só me ocorre dizer que fiquei muito, muito, muito, muito, muito pouco surpreendido.

A certa altura, diz-se que «61% of subjects reported a "complete mystical experience"». Não??!! A sério??!! Depois de tomarem uma droga alucinogénica??!! Fuck! Ele há com cada coisa mais estranha, não é?

Já agora, gostava que tivessem partilhado com a malta relatos dessas tais experiências. Tenho uma certa curiosidade em saber se se teriam passado com Jesus, com um canguru verde-alface a beber cerveja e a cantar a "Philosopher's Song", ou - para os mais espiritualmente avançados - com ambos.

No meio disto tudo, há um pormenor que talvez deva ser levado a sério - "Two months after taking psilocybin, 79% of the participants reported moderately to greatly increased life satisfaction and sense of well-being". Se calhar, convinha investigar quais foram os danos ao cérebro, para que isto se tivesse verificado.

E, já agora, começar a tomar cuidado. É que se os governos se interessam por isto, o nosso "Brave New World" pode chegar mais depressa que o que esperamos.

Sim, gosto de sexo, e o Brave New World tem alguns factores imensamente atraentes... mas também dou valor a outros aspectos da vida... nem tanto ao 8, nem tanto ao 80 :)

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quarta-feira, julho 12, 2006

Orgulhosamente só

Data original: 2005-09-13

Há uns tempos fiz um post acerca de formas de gerir conflitos numa relação. Disse na altura que o método que me metia mais confusão era o que se baseava na telepatia, i.e., na capacidade que cada um precisa de ter para adivinhar o que o outro está a sentir/pensar. Afinal, sendo uma relação entre duas pessoas algo tão simples e linear, compreende-se que seja necessário acrescentar propositadamente um pouco de dificuldade, para que a coisa não se torne demasiado aborrecida.

Dizia eu nesse post que não percebia muito bem o que levava as pessoas a fazer isto. Alguém me respondeu, apontando para um motivo que faz algum sentido - o orgulho. Este manifestar-se-ia em dois aspectos:
- Orgulho puro e simples. Não falamos porque sabemos que temos razão e a outra pessoa tem mais é que se tocar.
- Não dar parte de fraco. Não seremos nós os primeiros a ceder e a dizer que algo está errado, nem que a vaca tussa.

O primeiro aspecto é de entendimento fácil - chama-se arrogância.

O segundo deixou-me bastante confuso. Devo ter perdido algum episódio da novela... mas talvez vocês, gente mais informada do que eu, me possam explicar desde quando é que admitir que algo vai errado numa relação e querer analisar/resolver os problemas é "ceder" ou "dar parte de fraco"?

Imaginemos o seguinte cenário...

---
(O Anacleto está na sala a ver a bola. A Maria Engrácia está na cozinha a passar a ferro e a ver as novelas da TVI, antes que estas se transformem em propaganda da IURD)

Anacleto: Mary!

Maria: Sim, 'mor?

A: Trazes-me uma jola?

M: Estou a passar a ferro, querido.

A: Sim, eu sei, e eu estou a ver a bola. Se me levanto para ir buscar a jola posso perder uma jogada perigosa, ou até mesmo um golo.

(Ouve-se o barulho de vapor a alta pressão na cozinha. Contrariamente ao que pensa Anacleto, não é uma avaria na porcaria do ferro - ele bem a avisou para não comprar aqueles ferros todos pipis, e comprar um ferro à antiga, como o que a mãe dele sempre usou - mas sim a "Mary" que já está a ferver)
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Bem, agora se a "Mary" se dirigir à sala e disser algo do género "Levanta a (pi) do (pi) da (pi) do sofá, e vai tu buscar a (pi) da cerveja, meu filho da (pi) de (pi), (pi), (pi), (pi), etc", será caso para suspeitarmos que ela poderá estar um tudo-nada na defensiva, no que respeita ao desenrolar da vida do casal; digo "na defensiva" porque, como todos sabemos, a melhor defesa é o ataque.

Será uma maneira de fazer passar a mensagem, mas talvez não seja a melhor, a não ser que o objectivo seja limpar as teias de aranha das cordas vocais do casal, e vingar-se dos vizinhos de baixo, que insistem em aspirar a casa todas as quartas-feiras, às 03:15 da manhã.

No entanto, se a "Mary":
- contar até 10, para deixar sair o vapor (poderá ter que incluir as centésimas na contagem, i.e., "1, 1.01, 1.02, 1.03, etc");
- chegar à sala;
- desligar a TV;
- sacar da perna de presunto que levava escondida atrás das costas e der com ela na cabeça do Anacleto, para pôr fim às suas reclamações incoerentes e indignadas de que estava a ver a bola;
- esperar que ele recupere os sentidos;
- e, por fim, conseguir ter uma conversa franca e aberta sobre o que está a correr mal na relação...

alguém terá que me explicar onde, no meio de tudo isto, está o "dar parte de fraco".

Eu defendo justamente o contrário. A pessoa que toma a iniciativa de dizer "precisamos de falar" é justamente aquela que, potencialmente, poderá demonstrar mais auto-confiança e maior segurança naquilo que sente e pensa; por oposição, aqueles que optam por evitar a discussão dos assuntos que os incomodam demonstram apenas uma coisa: receio de pegar no conjunto de valores pelos quais regem a sua vida e colocá-los in the spotlight. Talvez evitem a discussão não por uma questão de orgulho, ou para evitar uma hipotética "demonstração de fraqueza", mas porque não têm confiança suficiente nos seus argumentos e nas suas razões para os submeterem a um teste.

Cheira-me um bocado a cobardia... mas também é certo que muitas "demonstrações de força" (expressão utilizada por oposição à tal "demonstração de fraqueza") não passam disso - cobardia.


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domingo, julho 09, 2006

Deve ser complicado ser mulher... II

Não, este post não tem nada a ver com o anterior...

Ofereci o "Diário da tua ausência" à minha irmã. A conselho de uma gaja, meninos e meninas, não se assustem - nunca me ocorreria, de minha livre e espontânea vontade, oferecer um livro com tal apresentação...

E foi justamente essa apresentação que me fez pegar nele e começar a lê-lo... sabem, aquela habitual bi-polaridade, aquela coisa de "a mulher, enquanto criatura corajosa, sensata, sábia" e outros adjectivos plenos de superlatividade e "all things good & fine", que neste momentos não me ocorrem... tendo por extremo oposto "o homem, com o seu corpo musculado q.b. e as suas qualidades que fazem com que a mulher não tenha outra alternativa senão apaixonar-se por ele"... but, alas... ele está possuído pela imaturidade, pela intranquilidade, pelo desejo de percorrer todos os caminhos, de palmilhar todas as quintas, de visitar todas as sex-shops... enfim, dava um grande filme, se calhar... mas não um filme grande, a não ser que fosse filmado pelo Manoel.

Por mim, resumo a minha opinião a uma única exclamação - Jejúje!!!!! Abrenúnchio, Chenor, shalbai-nos!!!!

Gajas... digam-me lá, a sério... pelo menos uma vez na vida, sem duplos significados, nem "enigmatices", nem outras merdas acabadas em "ices" e "ezas"... vocês são mesmo assim? Vocês pensam mesmo assim?

Para quem me responder "sim"... só posso dizer "Lamento, caríssima. Fazes-me pena".

"Os homens não fazem a mínima ideia do que é o amor antes dos trinta anos. E depois, a maior parte das vezes, não sabem o que fazer com ele" (Margarida Rebelo Pinto, "Diário da tua ausência")

Só posso encarar isto como um mantra, para ser entoado vezes sem conta, com um objectivo auto-reconfortante. Sim, existem outros métodos para o auto-reconforto, normalmente recorrendo a instrumentos vibratórios, mas o objectivo aqui é massajar o ego, e não o corpo. Basicamente, é uma daquelas formas que as mulheres utilizam para criarem a bi-polaridade - ilusória - de que falo acima.

As mulheres, esses seres superiores, plenos de sabedoria, sabem perfeitamente o que é o amor. Aliás, de tal forma o sabem, que a autora, no parágrafo seguinte, utiliza a definição de amor apresentada por um homem!!!! Hello! Inconsistency, anyone? Deve ser, certamente, um desses homens que encerra no seu corpo uma alma de mulher, claro.

Sim, quase que consigo imaginar legiões de gajas por esse país fora a lerem isto, e engolirem cada patranh... er, quero dizer, palavra, e a aceitarem este mantra como verdadeiro, e a entoarem fabulosos cânticos, que irão controlar as suas vidas por um longo período de tempo... que, infelizmente para algumas, poderá ser demasiado longo.

E ainda me perguntam porque digo "Fazes-me pena"...?

"Hoje quase todas as pessoas o são!..." (nota: levianas) "Falam em amor como se fosse um frasco de amaciador para a alma, acessível a todos, à distância de um braço numa prateleira de supermercado" (Margarida Rebelo Pinto, "Diário da tua ausência")

Epa, lamento imenso estar a perturbar a fantasia de alguém com a minha intervenção político-amorosa, mas... sim, é verdade. Não sei o que é o amor (faço a minha ideia, mas é minha), mas se há característica que não duvido que tenha é a democracia.

Está ali mesmo, ao alcance de toda a gente. Não na prateleira dos amaciadores, mas sim naqueles expositores mesmo ao pé das caixas, juntamente com todas as outras coisas que temos tendência a ignorar e a esquecer-nos. Sim, meninos e meninas, esses expositores existem devido a inúmeros estudos, realizados por aindas mais inúmeros cientistas dedicados e inteligentes, que provaram que há um conjunto de itens que temos tendência a ignorar, excepto quando nos são colocados mesmo à frente do trombil. Ora, o amor, se estiver em alguma prateleira de supermercado, tem tudo para estar aí.

Sim, eu sou daqueles que acredita não só que o amor é acessível a todos, como ainda por cima está realmente à distância de um braço. Se as pessoas não querem esticar o braço, isso já é problema delas. E, muito sinceramente, clichés idiotas sobre como os homens abaixo dos 30 são isto e acima dos 30 são aquilo só têm uma consequência - manter quieto um número cada vez maior de braços.

E ainda me perguntam porque digo "Fazes-me pena"...?

E agora, vamos rir um pouco...

"O desejo é tão evidente na natureza masculina como o amor o é na natureza feminina. Primeiro, eles desejam-nos como presas e troféus. E só depois, muito raramente, se apaixonam por nós. Nós só os desejamos se já os amamos" (Margarida Rebelo Pinto, "Diário da tua ausência")

Não consigo fazer aqui um comentário sério porque é muito difícil fazer um comentário sério quando me estou a rebolar a rir no chão. Sendo assim, e porque fiquei tão contagiado por este exemplo de sensatez e insight, decidi retribuir, com alguns pensamentos igualmente sensatos e insightful, nomeadamente:
- A nabice ao volante é tão evidente na natureza feminina como a perícia na condução o é na natureza masculina. Primeiro, elas aceleram como se estivessem a disputar troféus. E só depois, quando já têm o carro enfiado na árvore, se lembram de nós. Nós só desejávamos que elas amassem tanto o travão como amam o acelerador.
- A tendência para se desfazer em lágrimas por dá-cá-aquela-palha é tão evidente na natureza feminina como a falta de pachorra para com essas manifestações lacrimejantes o é na natureza masculina. Primeiro, parecem estar presas nas garras de Balbucius, e não conseguem dizer uma frase com nexo. E só depois, muito raramente, se apercebem da figura que estão a fazer. Nós só desejávamos que elas se calassem mais rapidamente.

Enfim, muitas outras "grandes verdades" haveria para dizer, mas está na altura de terminar.

Li o livro todo. Não vou dizer à minha irmã que não o leia. Não vou dizer a gaja nenhuma que não o leia. Não por achar que o devem ler, mas porque, sendo eu um gajo, a minha opinião contará menos que a do periquito que está na gaiola, na marquise, a apanhar sol.

Como cantou o Adam Duritz:
"I wish I was a girl
So that you could believe me
" (Counting Crows, "I Wish I Was A Girl")

Epa, é, basicamente, um conto de fadas. Como na maioria dos contos de fadas pós-modernos, a gaja parece acabar sozinha, mas não é bem assim. Está acompanhada por toda aquela sabedoria, sensibilidade, sensatez, tranquilidade, etc, etc, etc que as gajas por vezes têm, e que gostam de pensar que os homens não têm. Enfim, desde que ela pense que está em boa companhia, é o que interessa.

Eu até gosto de um ou outro conto de fadas... ocorrem-me, assim de repente, alguns que me lembro de ter gostado muito: "Ata-me", de Pedro Almodovar; "Jet Lag", de Danièle Thompson (sim, é um filme francês; nem todos os franceses são idiotas); "Million Dollar Baby", de Clint Eastwood; "Uma Casa, Uma Vida" ("Life As A House", no original), de Irwin Winkler.

Experimentem vê-los. Há contos de fadas que valem a pena.

Mas outros há que... olha, aproveitando a deixa deixada ("deixa deixada"... hum, gostei desta :) ) aqui (obrigado, a), apenas me ocorre dizer o seguinte: Caríssimas, vão-se foder mais os vossos contos de fadas (que as fadas me perdoem, que não têm culpa nenhuma), nas suas milhentas encarnações, inclusivé naquelas que dizem:

"Sei que a vida quase nunca é como nos livros e muito menos como nas histórias exemplares, do tempo dos reis e das fadas" (Margarida Rebelo Pinto, "Diário da tua ausência")

Tenho realmente pena das incautas que vão ler este livro, e que se possam deixar influenciar pelo que lá está escrito... mas há já algum tempo que cheguei à conclusão que vocês devem gostar disto... enfim, cada um(a) tem aquilo que merece...

:* & [] & façam por ser felizes...

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sexta-feira, julho 07, 2006

Deve ser complicado ser mulher...

Data original: 2005-07-25

Quando um homem aprecia uma mulher, existe um conjunto de características que, invariavelmente, lhe atraem o olhar - coxas (ou, num sentido mais lato, pernas), ancas (complementadas com a cintura), rabo, mamas... existem outros pontos de interesse, claro (os olhos, os lábios, o nariz, o pescoço, a nuca), mas estes são os mais universais. Bom, e perguntam vocês, "E depois? Qual é a novidade?"

Bem, a novidade é que este weekend ocorreu-me que as mulheres têm, realmente, uma vida mais complicada. Imaginemos a seguinte situação...

---
Chico Zé sentia-se a flutuar. Estava deitado de peito na cama, e estava a fazer todos os esforços para não se mexer, com medo de perturbar essa sensação maravilhosa. Era Verão, e as janelas estavam abertas, para combater o calor. A corrente de ar arrefecia-lhe o suor espalhado pelo corpo, percorrendo-o de arrepios de alto a baixo, que pontuavam esse flutuar divinal.

Maria Albertina estava deitada ao seu lado, e roçava levemente o seu braço no dele. Ela tinha uma leve penugem nos braços - não chegava realmente a merecer o nome de "pêlos" - e sabia como utilizá-la; Chico Zé sentia essa penugem tocar ao de leve nos pêlos do seu braço, como uma carícia etérea, que lhe provocava uma sensação que estava muito além de meras palavras.

- Estás bem? - perguntou-lhe ela.

- Hmmmm... - o gemido de resposta não deixava qualquer dúvida.

Na posição em que estava, Chico Zé não conseguia ver os olhos castanhos de Maria Albertina. Se conseguisse, teria ficado imediatamente alarmado, pois esses olhos exibiram, subitamente, o brilho que lhes era habitual quando ela decidia que estava na altura de puxar um pouco mais por ele.

- Querido...?

- Hmm...?

- O que é que te atraíu em mim?

- Hmmm...??

- Quando me viste, o que é que te despertou a atenção?

- Os teus olhos e as tuas mamas... não necessariamente por esta ordem - respondeu Chico Zé. Por um lado, sentia-se demasiado extasiado para mentir; por outro, Maria Albertina conhecia-o demasiado bem para ele lhe dizer as balelas que costumava dizer às mulheres, como p. ex., "O teu sorriso. Lembro-me perfeitamente que o dia me estava a correr pessimamente, e foi o teu sorriso que me salvou o dia. Acreditas que quando te vi, foi a primeira vez que sorri naquele dia? Foi o destino". Enfim, aquels patranhas à filme de Hollywood, que elas tanto gostam de ouvir.

Maria Albertina sorriu. Não que fosse excessivamente vaidosa, mas tinha um certo orgulho nos seus peitos... e no resto do seu corpo, que muito trabalho lhe dava a manter.

- E tu...? - perguntou Chico Zé, que - ainda a curtir a "pedrada hormonal" - se imaginava como um planador a percorrer os céus, numa total liberdade.

Maria Albertina queria continuar com a conversa que lhe tinha vindo à ideia, mas achou que era justo responder à pergunta dele.

- O que é me despertou a atenção?

- Simmm...

- As tuas costas em "V".

Ouviu-se uma explosão. Chico Zé olhou para o solo, e viu que estava pejado de baterias anti-aéras, manejadas pelas criaturas mais estranhas que ele alguma vez havia visto - das suas cinturas saíam dois troncos, formando um "V", cada tronco com uma cabeça e dois braços. Chico Zé olhou para a sua asa esquerda, e viu que o seu motor estava em chamas; nem lhe passou pela cabeça perguntar o que raio fazia um motor na asa de um planador. Começou a perder altitude, e sabia que se ia despenhar... em poucos segundos embateu violentamente contra o solo, e derrapou por dezenas de metros, até se imobilizar junto a uma estátua de Vénus, com braços e com umas mamas lindas - um pouco maiores que o normal para as estátuas de Vénus do período Clássico.

- Desculpa??!!

Maria Albertina apercebeu-se imediatamente pelo tom dele - e pelo facto de ele se ter levantado - que algo se tinha perdido na mensagem. Chico Zé estava agora de pé, em frente ao espelho, a tentar ver as suas costas.

- O que é que as minhas costas têm de "V"?

- Não é nada de errado. Foi um elogio. Só quis dizer é que tens os ombro largos, e tens umas costas bem feitas, tens uns quartos traseiros bonitos.

Chico Zé começou a ficar seriamente preocupado. Uns "quartos traseiros"? Aquilo parecia uma aula de Biologia. Será que ela queria fazer outra vez a brincadeira de professora/aluno que tinham experimentado há duas semanas? Não, se fosse isso, tinham ido buscar a bata, o uniforme escolar, a carteira de liceu, o chantilly e a tabuada.

Maria Albertina apercebeu-se pelo olhar que ele lhe lançou que não valia a pena continuar. Se ela lhe elogiasse os bicípetes ou os inter-costais, a situação só iria piorar...

- Estou a brincar contigo. - disse ela, rindo-se - O que me chamou a atenção em ti foi esse teu rabo giro.

- Ah... OK. - respondeu Chico Zé, com um sorriso de alívio, deixando-se cair na cama - Que raio de brincadeira. Parva... - acrescentou em tom de brincadeira, e beijou-a.
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Portanto, minhas caras, tudo isto é só para vos dizer que compreendo o vosso drama. E sei que nunca haverá verdadeira igualdade entre os sexos enquanto vocês tiverem que utilizar estes termos desajeitados para demonstrarem a vossa aprovação pelo nosso físico.

Para aquelas de vocês que acham que estes termos até têm piada, aconselho um estudo mais aprofundado, de forma a poderem utilizar pérolas como "Já viram aquele tipo? Tinha uns belos glúteos" ou "Um pescoço forte, com um esternoclidomastoideu bem definido" :)

Good luck, Janes!

Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)

domingo, julho 02, 2006

O silêncio e o ouro - Parte II

No seguimento do post de quarta-feira, vamos então ao terceiro método de gestão de conflitos que conheço.

3. O Sábio telepático
Este método pode tornar-se muito idêntico ao anterior no que respeita às consequências, mas a motivação é completamente diferente.

No método anterior, não se discutiam os problemas na esperança que estes se resolvessem por si mesmos. Neste método, não se discutem os problemas porque a pessoa que os está a causar tem a obrigação de saber que está a agir mal. Ou, se não o sabe, tem a obrigação de o descobrir por si própria, com uma ou outra pista que deverão primar pela subtileza - um olhar, um gesto, um tom de voz... mas é de evitar toda e qualquer indicação explícita.

Analisemos mais uma vez um exemplo (como verão, é, de facto, muito parecido com o anterior):

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(A porta fecha-se. Ele entra em casa já de cuecas, pois vem a despir-se desde que entrou no elevador do prédio. Tem a roupa amontoada nos braços, e larga-a imediatamente no chão do hall, dirigindo-se à cozinha)

Ele: Oi, querida. Cheguei. Está um caloraço que não aguento!

(Ele despe as cuecas e atira-as por cima do ombro, o que as leva a efectuar uma aterragem de emergência no pato de louça que está em cima do frigorífico)

Ela (olhando para o monte de roupa no chão e para as cuecas em cima do frigorífico, em cima do pato que a sua mãe lhe deu de presente, sem conseguir acreditar no que vê): Pois é.

(Ela lança-lhe um olhar de reprovação gélida, que é uma dica bastante útil, principalmente se tivermos em conta que ele já está abraçado a ela, e tem o rosto enterrado no seu pescoço)
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E o facto é que, tal como no método anterior, enquanto os problemas não forem discutidos, não haverá a percepção de que está a ser cometido um acto que incomoda a outra pessoa. E se é verdade que cuecas sujas em cima do frigorífico é algo que pode ser considerado como universalmente incomodativo (principalmente para o pato de louça), outras coisas são mais, por assim dizer, subtis... p.ex., "não gosto nada que assobiem a 'Quinta Sinfonia' de Beethoven quando estou na cozinha a fazer bacalhau à Brás com batatas fritas de pacote".

Portanto, este método exige não apenas que o casal partilhe um conjunto de valores perfeitamente igual, para que seja coincidente naquilo que ambos consideram próprio e impróprio, mas também que ambos possuam uma boa dose de telepatia, para conseguirem detectar todas aquelas coisas que não são exactamente impróprias, mas que a outra pessoa, em determinadas condições muito específicas, não gosta.

Agora, cada um de vocês imagine o seguinte (aqueles que já encontraram a sua "pessoa certa" podem seguir o raciocínio, mas estão dispensados do exercício): Conheces alguém que se assemelha bastante à tua "pessoa certa", apesar de ser necessário limar algumas arestas. Como consideras que essa pessoa deveria ser capaz de detectar por si própria as arestas e limá-las sozinha, decides que o teu papel se resume a dar-lhe umas pistas subtis nesse sentido. Passado algum tempo, a coisa não funciona e vai cada um para seu lado.

Anos mais tarde, encontras novamente essa pessoa, e verificas, com surpresa, que está "no ponto". As tais arestas que te incomodavam desapareceram. E, após uma conversa, apercebes-te que houve alguém que não esteve à espera que a telepatia funcionasse, que se abriu com essa pessoa, e que fez um esforço no sentido de ambos limarem as arestas. Bem, vocês conversam amavelmente, despedem-se, e depois tu vais à procura de um local suficientemente discreto para dares fortes cabeçadas na parede, o que te exige algum cuidado com as tuas orelhas, que acabaram de ficar um pouco longas.

Imagina agora isto: Vais ter um colega novo, e recebes instruções para lhe passares algumas das tuas tarefas. O objectivo é que ele te alivie do trabalho mais operacional, para que possas dedicar o teu tempo a tarefas mais estratégicas. Manda o bom senso que faças a passagem de pasta com informação o mais detalhada possível, que indiques tudo da forma extremamente explícita e inequívoca, de forma a que o teu novo colega não tenha a menor dúvida sobre o que lhe estás a dizer, o que permitirá que o processo corra pelo melhor.

Portanto, temos que:
- Numa relação profissional, é esperado um grau máximo de clareza. Não há lugar para a ambiguidade. A troca de informação deve ser explícita, e todas as dúvidas devem ser esclarecidas.
- Numa relação pessoal - que é algo infinitamente mais importante e onde há muito mais em jogo - é aceitável não dizer à outra pessoa o que pensamos e sentimos, é aceitável obrigar a outra pessoa a adivinhar as nossas motivações e intenções, é aceitável basear aspectos da relação na subtileza, na ambiguidade, naquilo que não se diz.

Se alguém me quiser explicar porque é que isto faz sentido, sou todo ouvidos...

É que parece ser não só aceitável, mas também expectável, assumir um comportamento que coloque a relação em risco sem qualquer razão aparente; só porque "a outra pessoa tem a obrigação de saber"... algo; de estar com atenção às nossas subtilezas. E nós, ao que parece, não temos a obrigação de fazer a nossa parte do trabalho em manter a relação, chamando à atenção para esse "algo" da forma mais explícita que nos for possível. Não, isso não tem piada! Vamos antes mostrar que sabemos ser subtis, porque afinal a subtileza é uma virtude, e não podemos desperdiçar nenhuma ocasião de demonstrar até que ponto somos virtuosos.

3.1. Vantagens:
- A telepatia é algo que dá sempre jeito, p.ex., em entrevistas de emprego, para pessoal que tenha actividades comerciais, ou de fiscalização, etc.

2.2. Desvantagens
- A probabilidade de encontrarmos a nossa "pessoa certa" é infíma. Se, para além de todas as inúmeras características que procuramos (e não estou a sugerir que abdiquemos delas), ainda vamos exigir que tenha capacidades telepáticas, estamos a reduzir dramaticamente essa probabilidade. Se, ainda por cima, não estamos dispostos a trabalhar uma relação com uma pessoa que até está muito próxima daquilo que procuramos, e poderá estar receptiva a mudar para se adaptar a nós, bem... assim se passa uma vida... ou duas.

Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)

sábado, julho 01, 2006

Comentário Assentado

Bem, comecei a fazer um comentário a este post, mas depois o comentário começou a crescer, a crescer, a crescer... até que decidi transformá-lo num post aqui.

Obrigado, Schmeichel.

«A questão é que como já sabemos os totós não atraem as mulheres. E eu sei do que estou a falar porque já fui muuuuito totó. Não abram essas bocas de espanto nem ousem dizer “balelas”! É mesmo verdade (e para ser sincero acho que continuo a ser, só que disfarçado). Quantas vezes não ouvi delas: "és demasiado certinho para mim!"

A partir dessa constatação tive de tomar uma resolução: tens de mudar, se não…»

Epa, quanto ao "és demasiado certinho para mim"... é aquilo que chamei um dia de "frases ouvidas na altura errada, que decidem tudo e não servem para nada". Também já ouvi isso, em tempos idos. Da última vez, disse "Não percebi, Explica-me, pls". E ficámos assim. Eu era "muito certinho" (whatever that was), por um conjunto de motivos aparentemente inexplicáveis.

Só te posso dizer uma coisa - muda à vontade. Mas não o faças por causa de clichés que os outros te dizem.


"Agora que aqui cheguei, estou a concluir que as mulheres que conheço acham que sou demasiado maluco e que nunca conseguirei assentar. :-)) Quero pensar, a bem da minha (in)sanidade mental, que isso acontece porque ainda não desenvolvi a arte de lhes demonstrar na altura certa – e tem de ser exactamente certa, caso contrário perdem o interesse – que posso efectivamente acalmar."

Há aqui uma expressão que me faz logo eriçar os pêlos todos - "e tem de ser exactamente certa, caso contrário perdem o interesse". Isto é um jogo? Ah e tal, eu gosto de ti, mas só se fizeres as coisas assim, e se for tudo perfeito... Este tipo de atitude só me dá para dizer "Minha querida, perfeito é o Príncipe Encantado. Vai à procura dele e não me chateies".

Já tive imensa preocupação em fazer tudo perfeito, no momento certo. Mas sabes o que é engraçado? Os meus relacionamentos tiveram a sua génese justamente quando eu não estava minimamente preocupado com isso. Se calhar, porque tive a sorte de encontrar mulheres que estavam demasiado ocupadas a conhecer-me (e eu a elas) para se preocuparem com perfeições e momentos certos.


"O sonho de todas as mulheres (consciente ou inconsciente) é claro: dominar uma fera!!! Pronto, também não sou grande fera, faço barulho mas nem sequer arranho, só abano o rabo e ponho a língua de fora, se calhar é isso. :-) O truque é que não nos podemos deixar dominar completamente, se não acaba logo tudo. Temos de ser uma fera que pode ser amansada, mas sempre à custa de muito mimo e passar de mão pelo pêlo."

Acho piada a esse conceito de "sonho das mulheres". Não digo que não tenhas razão, repara. Parece-me apenas algo demasiado vazio para utilizar como critério de selecção de algo tão importante como a nossa alma gémea, but what do I know? Afinal, há por aí tanta gente que acha que a telepatia também deve ser um destes critérios, portanto... ah, e devo dizer-te q isso de abanar o rabo já te deverá permitir marcar imensos pontos junto das potenciais "domadoras" :)

Admito que não tenho jeitinho nenhum nesse equilíbrio entre demonstrar o amansado e o selvagem. Pela minha experiência, fiquei com a ideia que as mulheres pensam que eu estou amansado com um olhar e um sorriso; depois, um dia, levam uma bruta arranhadela (não por ser realmente bruta, mas por não estarem minimamente à espera), e ficam extremamente surpreendidas e magoadas. Bem, também eu tenho uma regra - se o assunto não me interessa para nada, exibo automaticamente o meu lado amansado; a vida é muito curta, e eu tenho mais com que me preocupar. Quando considero que o assunto é sério... bem, algumas "domadoras" descobrem que, afinal, ainda há vida no bicho - salvo seja ;)


"Quer dizer, se ela não se lança e não o procura nem demonstra abertura à idéia (não, não estou a falar de sexo, estou a falar de algo muito maior que isso), também não é o que quero."

Hum... parece que não sou o único a ter uma teoria tipo "bi-toque" :D Já não te lembras do que estou a falar? Vai ver a Newsletter Melga (vulgo, "o mail") de 2005-11-15.


"Essa é para mim uma grande questão. Se não há encantamento no princípio como é que ele vai surgir? É possível?"

Claro que é. Se, com o tempo, fores descobrindo afinidades com a pessoa, e se se forem revelando cada vez mais. Já me aconteceu duas vezes. Aliás, eu sou justamente o oposto de ti, então - não acredito no encantamente à primeira vista. Aliás, já nem acredito na tesão à primeira vista, quanto mais :D


"Eu acho que o meu amigo Llyrnion tem razão quando diz que não há altura certa, não há cedo demais, não há tarde demais. Não há que guardar as coisas e esperar pelo momento. O momento é agora! É para jogar a bola para a frente a aproveitar a vida. O que for, logo se saberá. Só gostava de conseguir colocar isto em prática. :-)"

Bem, sabe bem ler isto. Sim, estou a falar a sério. E já que me deste algum crédito, vou abusar e pedir um pouco mais, só para te dizer isto - a forma de pores isto em prática é não te preocupares com o assunto.

Tal como tu, também eu dou muito valor às letras, e vou buscar inspiração onde quer que a veja. Neste caso:

"If you start to feel like there's no time to waste
Baby try to let go
There's nothin' that strong, can't break your heart
Easy come easy go
And the only, only, only way to find it
Is if you're not diggin' too deep, though it's easier said than done
You've got to feel it in your blood
Play the game like you've already won" (Winger, "Easy Come, Easy Go")

A questão é simples, mas é fantástico como tão pouca gente consegue lidar com ela; eu tento, mas nem sempre consigo, admito. Se tivesse que traduzir o "Easy Come, Easy Go", utilizaria apenas uma palavra - desprendimento. Para pores isso em prática, basta deixares de pensar demasiado no assunto.

Um problema com que me defronto é que a maioria das pessoas não é assim, e vê este desprendimento como desinteresse por tudo o que me rodeia. Como me disseram uma vez, "Contigo está sempre tudo bem, não é?". Sim. No que depender de mim, comigo estará sempre tudo bem. Até já aprendi a levar tampas, e a estar tudo bem, logo ali no momento em que sou "tampado" :)

Por outro lado, não deixa de ser tristemente cómico ver essas mesmas pessoas a consumirem-se por coisas que são tão pequenas, quando colocadas em perspectiva. Com pessoal da nossa idade a morrer de repente, a torto e a direito, por dá cá aquela palha... achas que vale realmente a pena perder tempo com estas questões?

Sim, eu também o perco, e não estou a menosprezar ninguém por isso. Mas mesmo quando o faço, tenho consciência que estou a perder tempo com algo que não me deveria afectar. E, tal como costumo dizer, o tempo é o recurso mais valioso que temos. É o tempo que dedicamos às pessoas e às coisas que revelam o verdadeiro valor que lhes damos.


"Um pouco confuso, não é? Não é de admirar, eu sou mesmo assim"

E não somos todos? O que me mete mais confusão é justamente ver pessoas com tanto para serem felizes, com toda uma vida para aproveitar, e preferem consumir-se com problemas que muitas vezes nem conseguem sequer explicar. Mais uma vez, não estou a menosprezar estas pessoas. Mete-me confusão, é só.

Aproveitar a vida é simples. Mas tens que aceitar que o que estás a fazer poderá não te trazer nada. Aceitar que estás, em grande parte, a colocar a tua vida nas mãos do Destino, e que não há garantias. Aceitar que um dia, daqui a muitos anos, poderás ter que olhar para trás e dizer "Porque é que eu me deixei andar?".

"Aceitar" significa não te consumires a pensar no assunto; significa saberes que vai haver alturas em que a solidão vai apertar, e em que terás imensas dúvidas sobre tudo, e que isto é normal, e que passa - se passa rapidamente ou não, depende apenas de ti.

Mas, mais uma vez, sabes o que é mais irónico? Todas essas pessoas que não conseguem aceitar muito bem o desprendimento... as suas vidas têm exactamente as mesmas condicionantes. Não é por elas se matarem a pensar nisto e naquilo, com grandes preocupações sobre o futuro, e com grandes planos, teorias, e jogos sobre a melhor forma de lá chegar... não é por causa disto que essas pessoas conseguem evitar o Destino, ou sequer influenciá-lo.

Enfim, Dum loquimur fugerit invida aetas. Carpe diem quam minimum credula postero. Numa tradução (bastante) liberal - Enquanto estamos para aqui na conversa, o invejoso Tempo esgota-se. Aproveita o dia de hoje, e não coloques demasiada fé no dia que se lhe segue (retirado daqui).

Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)