Quem não arrisca...
Como introdução ao tema de hoje, apresento-vos um poema da minha amiga Adelina Palma (a quem agradeço ter-me permitido inclui-lo no meu post de hoje):
FAZER OU NÃO FAZER EIS A QUESTÃO
O que há que fazer tem que ser feito
no tempo que nos é dado fazer,
se durante esse tempo não for feito
bem feito poderá nunca mais ser!
S'uma causa provoca um efeito
cujo fim é urgente conhecer
a solução é seguir a direito
assumindo o que tem que se fazer!
É preferível sofrer pelo defeito
de algo que era mister cometer
não ter surtido o desejado efeito,
que viver a dor de se arrepender
de não ter tido coragem no peito
p'ra tentar o que havia que fazer!...
Podem visitar o seu site em http://adelinapalma.com.sapo.pt/, onde estão mais poemas e contos. É uma excelente escritora, e já conseguiu publicar um livro (que recomendo sem reservas), unicamente à custa do seu talento e do seu esforço.
Então, o tema de hoje. Quem não arrisca, não petisca. Nem sempre o risco é apetecido. O salto no desconhecido assusta qualquer um, principalmente quando nos acompanha a percepção de que temos muito a perder, se o voo não correr bem.
Mas, há uns dias atrás, estava eu a pensar nisto, quando me apercebi da ironia da situação. O salto no desconhecido é arriscado, é certo... então, podemos concluir que quem recolhe as asas e se afasta do precipício evitou o risco, certo? Bzzzzt! Resposta errada.
O risco - tal como o IRS - é uma constante humana, e não há como evitá-lo. Quando dizemos a nós próprios "Isto é arriscado, tenho que ponderar bem o assunto, afinal, não preciso de fazer isto agora, tenho muito tempo", o risco da inacção está ali à nossa frente, como um elefante vestido de bailarina a dar triplos mortais em cima da nossa colecção de cristais da Boémia :) Mas quantas vezes vemos esse risco, ou pensamos sequer nele?
Algum de vocês sabe quanto tempo lhe resta, ou que qualidade de vida terá durante esse tempo? Por cada dia em que optamos por não levantar voo, temos uma, e uma só, certeza: É mais um dia que passamos no chão.
E se, por acaso, estamos à espera que o dia de amanhã nos traga mais garantias que o de hoje, convém lembrarmo-nos de um facto incontornável: A única garantia da vida é a morte... nem mesmo o défice tem este grau de inevitabilidade :) A verdade é que, a qualquer instante, podemos descobrir que, afinal, passámos o nosso prazo de validade. E nessa altura, como será? Talvez encontremos dentro de nós um Lance Armstrong... ou não - da última vez que verifiquei, continuava a haver só um.
Se me permitem, vou aproveitar este momento para tirar o chapéu aos gestores. Desta vez, estão um passo à frente de todos nós, pelo menos na sua vida profissional. Nas suas análises de risco, existe um item denominado "risco de oportunidade perdida". Pelos vistos, alguém decidiu prestar atenção a algo que, a nós, nos costuma escapar. Porque, afinal, o risco está sempre ligado à acção, e nunca à inacção, certo...? Bem, pelo menos, vejo que já começam a concordar que não... temos progresso :)
Creio que ninguém discordará, então, que o risco é inevitável, quer sigamos uma determinada acção, quer nos deixemos ficar comodamente onde estamos. Mais ainda - ao ficarmo-nos pela inacção devido à incerteza do futuro, estamos a permitir que um determinado aspecto da nossa vida possa vir a ser decidido por acções de terceiros. E posso garantir-vos que existem poucas coisas mais frustrantes que isso.
Gostaria, agora, de juntar algumas citações, para introduzir a conclusão:
"The love you send out returns to you in time
The wheel gets turned around by those who try
For all their lives" (Triumph, "Time Goes By")
"Which is stronger, your hope or your fear?
Meet the challenge of your life" (Triumph, "Never Say Never")
"All the odds are against you, but somehow you make it through
You can rationalize it away, but it all comes down to you" (Triumph, "Somebody's Out There")
"Where there's will, there's a way" (ditado popular)
Defendo uma teoria sobre o tema de hoje. Não digo "tenho uma teoria", porque não é minha. Aliás, é tão simples que deve ser universal.
Acredito que, no que toca às decisões que estão ao nosso alcance, só não fazemos aquilo que não queremos fazer, aquilo que não temos qualquer vontade de fazer; eu não vos disse que a teoria era simples? :) Porque, se tivermos realmente vontade de fazer algo, não existem riscos que nos façam parar.
Existem poucas decisões mais arriscadas do que ter um filho. Aqueles de vocês que os têm, concerteza devem ter pensado nos riscos. No entanto, isso não vos impediu, pois não? Porquê? Porque vocês queriam ter filhos. Ponto final. Gravidez natural, fertilização, adopção, whatever. Quando há vontade, há solução para tudo.
Quando há vontade, não existe indecisão ao estilo da tragédia grega, "Oh, Deuses cruéis, que fazer, que fazer...? Almôndegas de pescada ou tomates recheados com souflé de salmão e leite condensado?" :) não existe "Eu faria, se..."; não existe "Eu quero fazer, mas..." - ou queremos ou não queremos.
Portanto, permitam-me terminar com uma sugestão - da próxima vez que estiverem a ponderar dar um passo arriscado, façam um favor a vocês mesmos: Não se escondam atrás do risco. Não digam "Epa, eu até gostava, mas é muito arriscado, tenho medo de...". É que, ao fazerem isso, estão apenas a mascarar a verdadeira razão pela qual preferem ficar onde estão. Uma razão que nada tem a ver com um eventual-hipotético-futuro-que-talvez-possa-um-dia-quem-sabe-vir-a-acontecer, mas sim com algo bem concreto e bem presente, aqui e agora. Descubram esse "algo" e, quem sabe, talvez aprendam mais qualquer coisa sobre vocês próprios.
Porque garanto-vos que quem diz "Eu até gostava, mas é muito arriscado", está apenas a enganar-se a si próprio... e, possivelmente, a mais ninguém.
Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)