quarta-feira, maio 31, 2006

Quem não arrisca...

Data original: 2005-08-08

Como introdução ao tema de hoje, apresento-vos um poema da minha amiga Adelina Palma (a quem agradeço ter-me permitido inclui-lo no meu post de hoje):

FAZER OU NÃO FAZER EIS A QUESTÃO

O que há que fazer tem que ser feito
no tempo que nos é dado fazer,
se durante esse tempo não for feito
bem feito poderá nunca mais ser!

S'uma causa provoca um efeito
cujo fim é urgente conhecer
a solução é seguir a direito
assumindo o que tem que se fazer!

É preferível sofrer pelo defeito
de algo que era mister cometer
não ter surtido o desejado efeito,

que viver a dor de se arrepender
de não ter tido coragem no peito
p'ra tentar o que havia que fazer!...

Podem visitar o seu site em http://adelinapalma.com.sapo.pt/, onde estão mais poemas e contos. É uma excelente escritora, e já conseguiu publicar um livro (que recomendo sem reservas), unicamente à custa do seu talento e do seu esforço.

Então, o tema de hoje. Quem não arrisca, não petisca. Nem sempre o risco é apetecido. O salto no desconhecido assusta qualquer um, principalmente quando nos acompanha a percepção de que temos muito a perder, se o voo não correr bem.

Mas, há uns dias atrás, estava eu a pensar nisto, quando me apercebi da ironia da situação. O salto no desconhecido é arriscado, é certo... então, podemos concluir que quem recolhe as asas e se afasta do precipício evitou o risco, certo? Bzzzzt! Resposta errada.

O risco - tal como o IRS - é uma constante humana, e não há como evitá-lo. Quando dizemos a nós próprios "Isto é arriscado, tenho que ponderar bem o assunto, afinal, não preciso de fazer isto agora, tenho muito tempo", o risco da inacção está ali à nossa frente, como um elefante vestido de bailarina a dar triplos mortais em cima da nossa colecção de cristais da Boémia :) Mas quantas vezes vemos esse risco, ou pensamos sequer nele?

Algum de vocês sabe quanto tempo lhe resta, ou que qualidade de vida terá durante esse tempo? Por cada dia em que optamos por não levantar voo, temos uma, e uma só, certeza: É mais um dia que passamos no chão.

E se, por acaso, estamos à espera que o dia de amanhã nos traga mais garantias que o de hoje, convém lembrarmo-nos de um facto incontornável: A única garantia da vida é a morte... nem mesmo o défice tem este grau de inevitabilidade :) A verdade é que, a qualquer instante, podemos descobrir que, afinal, passámos o nosso prazo de validade. E nessa altura, como será? Talvez encontremos dentro de nós um Lance Armstrong... ou não - da última vez que verifiquei, continuava a haver só um.

Se me permitem, vou aproveitar este momento para tirar o chapéu aos gestores. Desta vez, estão um passo à frente de todos nós, pelo menos na sua vida profissional. Nas suas análises de risco, existe um item denominado "risco de oportunidade perdida". Pelos vistos, alguém decidiu prestar atenção a algo que, a nós, nos costuma escapar. Porque, afinal, o risco está sempre ligado à acção, e nunca à inacção, certo...? Bem, pelo menos, vejo que já começam a concordar que não... temos progresso :)

Creio que ninguém discordará, então, que o risco é inevitável, quer sigamos uma determinada acção, quer nos deixemos ficar comodamente onde estamos. Mais ainda - ao ficarmo-nos pela inacção devido à incerteza do futuro, estamos a permitir que um determinado aspecto da nossa vida possa vir a ser decidido por acções de terceiros. E posso garantir-vos que existem poucas coisas mais frustrantes que isso.

Gostaria, agora, de juntar algumas citações, para introduzir a conclusão:

"The love you send out returns to you in time
The wheel gets turned around by those who try
For all their lives" (Triumph, "Time Goes By")

"Which is stronger, your hope or your fear?
Meet the challenge of your life" (Triumph, "Never Say Never")

"All the odds are against you, but somehow you make it through
You can rationalize it away, but it all comes down to you" (Triumph, "Somebody's Out There")

"Where there's will, there's a way" (ditado popular)

Defendo uma teoria sobre o tema de hoje. Não digo "tenho uma teoria", porque não é minha. Aliás, é tão simples que deve ser universal.

Acredito que, no que toca às decisões que estão ao nosso alcance, só não fazemos aquilo que não queremos fazer, aquilo que não temos qualquer vontade de fazer; eu não vos disse que a teoria era simples? :) Porque, se tivermos realmente vontade de fazer algo, não existem riscos que nos façam parar.

Existem poucas decisões mais arriscadas do que ter um filho. Aqueles de vocês que os têm, concerteza devem ter pensado nos riscos. No entanto, isso não vos impediu, pois não? Porquê? Porque vocês queriam ter filhos. Ponto final. Gravidez natural, fertilização, adopção, whatever. Quando há vontade, há solução para tudo.

Quando há vontade, não existe indecisão ao estilo da tragédia grega, "Oh, Deuses cruéis, que fazer, que fazer...? Almôndegas de pescada ou tomates recheados com souflé de salmão e leite condensado?" :) não existe "Eu faria, se..."; não existe "Eu quero fazer, mas..." - ou queremos ou não queremos.

Portanto, permitam-me terminar com uma sugestão - da próxima vez que estiverem a ponderar dar um passo arriscado, façam um favor a vocês mesmos: Não se escondam atrás do risco. Não digam "Epa, eu até gostava, mas é muito arriscado, tenho medo de...". É que, ao fazerem isso, estão apenas a mascarar a verdadeira razão pela qual preferem ficar onde estão. Uma razão que nada tem a ver com um eventual-hipotético-futuro-que-talvez-possa-um-dia-quem-sabe-vir-a-acontecer, mas sim com algo bem concreto e bem presente, aqui e agora. Descubram esse "algo" e, quem sabe, talvez aprendam mais qualquer coisa sobre vocês próprios.

Porque garanto-vos que quem diz "Eu até gostava, mas é muito arriscado", está apenas a enganar-se a si próprio... e, possivelmente, a mais ninguém.

14 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Antes de mais, adorei o poema da tua amiga - os meus parabéns!
A seguir... como tens razão no que disseste!!! Concordo plenamente contigo quando dizes que "Por cada dia em que optamos por não levantar voo, temos uma, e uma só, certeza: É mais um dia que passamos no chão". Quantas vezes o medo de tomar esta ou aquela indecisão nos faz perder as grandes oportunidades da nossa vida... O medo bloqueia e impede de avançarmos mais longe no Eu que todos temos dentro de nós. Adorei - já tens uma fã! Marta

16:16  
Blogger Llyrnion said...

Obrigado, Marta :)

Volta sempre, e não tenhas problemas em dizer o que te estiver a passar pela cabeça - seja bom ou mau.

23:41  
Blogger Sea said...

De afcto, quem não arrisca não petisca. Eu gosto de arriscar, de me atirar de cabeça. Prefiro, ainda que caia, que bata com a cabeça, dizer que fiz alguma coisa do que nada fiz. A dúvida, essa é certa, mas, se nada fizermos, não ficaremos também com a duvida do: "e se....".
Beijo e good game today! Ah! És como eu, pouco fã dessas coisas ;)gosto sempre mais é do "combibio"

19:03  
Blogger homempasmado said...

Lyrnion:

O teu exemplo é mau e bom ;-)
Será que não existem pessoas que têm filhos sem considerarem os riscos?

É que o auto-engano de que falas, também funciona por esse lado! Fechamos os olhos ao que não queremos ver!

Por vezes, essa cegueira levanta-nos, por vezes afunda-nos…
:-(

Se bem que, como alguém disse, fracassado não é aquele que tentou e falhou, é aquele que nem sequer chegou a tentar!

--

Como penso que já sabes, discordo contigo sobre o “tudo” que supostamente se é capaz de fazer quando se quer!

Mas concordo com a ideia geral de que é a nossa fraqueza nos leva a não avançar, camuflada de dificuldades enormes e intransponíveis!

15:20  
Blogger Llyrnion said...

«se nada fizermos, não ficaremos também com a duvida do: "e se...."»

Yep, ficamos sim. E essa é garantida.

22:48  
Blogger Llyrnion said...

"Se bem que, como alguém disse, fracassado não é aquele que tentou e falhou, é aquele que nem sequer chegou a tentar"

Acabaste de responder à tua própria pergunta.

Mas atenção, q uma coisa é não conhecer os riscos; outra é conhecê-los, e seguir por um "hope for the best", mesmo q seja sem um "plan for the worst". Fechamos os olhos, sim, pq se calhar a esperança é a única coisa q nos resta.

«Como penso que já sabes, discordo contigo sobre o “tudo” que supostamente se é capaz de fazer quando se quer»

Yep :) No fundo, isso só prova q temos experiências diferentes.

22:52  
Blogger Sea said...

por isso, mais vale fazer... Desde que, claro, não dependam outras vidas, de nós.

20:12  
Blogger Llyrnion said...

"Desde que, claro, não dependam outras vidas, de nós."

Sim, aí a coisa fia mais fino.

22:17  
Blogger homempasmado said...

Llyrnion:

“… Acabaste de responder à tua própria pergunta. …”

Qual pergunta, esta?
Será que não existem pessoas que têm filhos sem considerarem os riscos?

--

“… Fechamos os olhos, sim, pq se calhar a esperança é a única coisa q nos resta.” …”

- Sim, nesse sentido tens razão, mas não era dessa cegueira que falava.

--

Como penso que já sabes, discordo contigo sobre o “tudo” que supostamente se é capaz de fazer quando se quer

“… Yep :) No fundo, isso só prova q temos experiências diferentes. …”

Pois é…
:-)

21:20  
Blogger Llyrnion said...

"Qual pergunta, esta?"

Yep.



"Sim, nesse sentido tens razão, mas não era dessa cegueira que falava."

Então, falavas de qual? Se estamos a fechar os olhos ao que não queremos ver, sabemos o que lá está, mas optamos por o ignorar. Se optamos por o ignorar, é pq temos esperança q a coisa corra bem. E, muitas vezes, não temos mais nada senão esta esperança.

Sendo assim, consegues explicar melhor o teu ponto de vista?

11:13  
Blogger homempasmado said...

L:

Creio que não respondi à minha pergunta:

Penso que existem pessoas às quais não se pode aplicar esse ditado.
Que têm filhos sem pensarem nas dificuldades que podem ter, no quanto é difícil fazer um bom trabalho de educação!

Têm filhos como os animais têm: regidos por um imperativo biológico!

--

“…Se estamos a fechar os olhos ao que não queremos ver, sabemos o que lá está, mas optamos por o ignorar. …”

- Creio que te está a escapar uma possibilidade no raciocínio:
Que ao fechar-mos os olhos, pode acontecer deixar-mos de ver o que está lá e, nesse sentido, deixamos de ter opção!

11:35  
Blogger Llyrnion said...

"Têm filhos como os animais têm: regidos por um imperativo biológico! (...) Que ao fechar-mos os olhos, pode acontecer deixar-mos de ver o que está lá e, nesse sentido, deixamos de ter opção!"

OK, tens razão. De facto, nem estava a pensar nesses.

Posso estar errado, mas acho q se nem sequer tens consciência dos riscos, então não estás a arriscar.

Ou, por outra, na realidade estás a arriscar, mas não passas pela angústia de ter q enfrentar o risco, pq nem sequer dás por ele.

Ignorei, de facto, estes casos, pq não existe o ponderar do risco, não existe uma escolha consciente para seguir em frente, apesar dos riscos.

21:37  
Blogger homempasmado said...

L:

Tens razão nessa parte risco/consciência, mas também existe um risco baseado na irresponsabilidade e na ignorância.

Quando alguém decide fazer algo sem saber quais as consequências e sobre os riscos pensa algo como: vamos em frente e depois logo se vê!

A pessoa sabe que existem riscos, problemas, mas não quer ter de pensar neles até se apresentarem.

--

Um aparte sobre consciência/risco/acção.
Por vezes, não conhecer os riscos tem vantagens. A consciência nem sempre é vantajosa, sobretudo quando se requer acção física rápida e instintiva. Pelo contrário, atrapalha!

O inconsciente pode muitas vezes tornar-se herói, ou fazer as maiores asneiras…
Pelo mesmo e exacto motivo: não pensa no que faz, simplesmente age por impulso.

11:16  
Blogger Llyrnion said...

"O inconsciente pode muitas vezes tornar-se herói, ou fazer as maiores asneiras…
Pelo mesmo e exacto motivo: não pensa no que faz, simplesmente age por impulso.
"

Há alturas em q n há outra coisa a fazer :)

23:51  

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