quinta-feira, setembro 28, 2006

Cinco rabiscos

Ora bem, por desafio duplo - da A (que, segundo parece, dada a minha falta de resposta, já conjurou uns Espíritos Infernais, e anda a leiloar a minha alma) e da Lisa - aqui ficam cinco rabiscos dessa tela complexamente simples que é a minha personalidade.

Fica, é claro, o disclaimer, nas palavras sábias e imortais da Mafaldinha: Ninguém é bom Sherlock Holmes de si próprio.

Optimista
Se há 10 anos atrás alguém me dissesse que eu alguma vez iria ter esta opinião sobre mim, eu seria muito bem capaz de sugerir uma mudança de guarda-roupa. Especialmente no que toca às camisas... e, para acompanhar, uma mudança de ares... p.ex., uma temporada numa suite almofadada num estabelecimento de renome numa zona nobre de Lisboa... sei lá... olha, uma Avenida com nome de país-irmão... apenas um exemplo, repare-se...

Foram muitos anos de pessimismo, até este quase se entranhar na alma, de tal forma que pensei que viera para ficar. Felizmente, assim não foi. Consegui afastá-lo, substituindo-o pelo optimismo, numa manobra que ainda hoje não consigo explicar. Depois, perdi o optimismo, mas não compreendi muito bem o que tomou o seu lugar. Entretanto, consegui recuperá-lo novamente, mais uma vez de uma forma que não consigo explicar.

Porque é que este optimismo é importante para mim? Simples - alimenta-me a esperança, que por sua vez volta a alimentar o optimismo, criando assim um feedback loop que me eleva e me faz sentir bem comigo e com a vida; que me faz esquecer receios, mergulhar em oportunidades; que me faz sentir feliz, que me permite tentar fazer os outros felizes.

Às vezes, tenho que fazer um esforço consciente para o conseguir manter, mas dou esse esforço por bem empregue. Aliás, creio que deve ser o esforço mais importante da minha vida.

Idiota
Sim, cheio de ideias. Não há dia que passe, que não cuspa cá para fora uma meia-dúzia delas. A esmagadora maioria são apenas ostras; mas, de vez em quando, lá sai uma pérola. Adoro esses momentos, e já me habituei à ideia que tenho que atirar muitas ao lado para conseguir acertar com uma em cheio.

Sim, sei que muitas vezes faço, realmente, figura de idiota, mas isso não me preocupa.

Anti-social (à falta de melhor termo)
É algo que tem vindo a diminuir progressivamente. Continuo a não me sentir muito à-vontade em grupos relativamente grandes, mas já vou conseguindo lidar bem com isso.

No entanto, algo de útil ficou - consigo lidar muito bem com a solidão. Afinal, somos velhos amigos... foi a minha grande companheira durante muito tempo; por vezes, mesmo quando estava rodeado de pessoas. Já há muito que a solidão e o silêncio deixaram de me preocupar.

Enfim, hoje em dia, o termo a empregar já não deveria ser bem este... em tempos idos, sim... bem, a idade tem que servir para alguma coisa, não?

Indisciplinado
Um toque de irresponsabilidade, outro de desorganização. Tenho bastante dificuldade em manter um plano. E já nem falo do trabalho, porque aí existem demasiadas condicionantes externas.

Mesmo na minha vida privada, a falta de disciplina é notória. Tenho vindo a melhorar, mas muito mais lentamente do que no resto.

Calmo
Outro dos meus esforços mais importantes - manter a calma, em todas as situações. Colocar as coisas em perspectiva, para escolher muito bem aquilo que me possa fazer perder a cabeça.

É difícil. Tal como sucede com o optimismo, trata-se de contrariar um impulso/comportamente que se tornou natural (o pessimismo foi algo que se tornou natural com o tempo; neste caso é pior, porque eu sempre fui uma pessoa relativamente nervosa), e favorecer outro, que corresponde ao que quero ser.

O que me leva de volta a uma velha questão - uma pessoa consegue mudar aspectos da sua personalidade? Eu acho que sim, através de uma luta diária que leva à supressão sistemática dos mesmos. Se por um lado, não podemos dizer que houve realmente mudança, uma vez que esse aspecto ainda lá está (e, se deixarmos de o suprimir, ele voltará a manifestar-se, em toda a sua pujança), por outro, o nosso comportamente muda, abandonando (talvez seja mais realista dizer "diminuindo") a influência que esse mesmo aspecto consegue ter nas nossas vidas.

Bem, desta vez serei eu a parar a onda... Poseidon não vai achar graça nenhuma... ou por outra... não acharia, se não tivesse mais em que pensar.

Quem ler estas linhas e se sentir inspirado para fazer o seu post correspondente, considere-se desafiado.

Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)

domingo, setembro 24, 2006

Gajas Boas

Em tempos (há pouco mais de um ano) houve dois temas seguidos no Mail Melga - um dedicado ao que as mulheres procuram num homem, outro dedicado aos que os homens procuram numa mulher (não, nenhum deles está online, ainda). Obtive resultados positivos no primeiro; falhei miseravelmente no segundo. Como me disse recentemente uma pessoa sábia "É natural. És homem". Sim, e não soube distanciar-me desse facto, não soube separar o que eu gosto do que a maioria dos homens gosta.

Hoje, se não se importarem, não cometerei o mesmo erro. Vou concentrar-me apenas no que eu gosto.

Gajas boas...

Bem, durante este post, convém mantermos uma coisa em mente... o assunto é, antes de mais, físico, sensual, sexual. Se estamos a falar de gajas boas, vou limitar a minha análise a este prisma, e mesmo quando traçar tangentes para outros aspectos da mulher, para mim será sempre nesta óptica, OK? Mesmo que vocês achem que não tem nada a ver.

Avancemos, então...

Temos as gajas universalmente boas. Aquelas que toda a gente considera umas deusas. Este "toda a gente" é proporcional ao grau de exposição da gaja em questão. Pode ser a gaja do Coro da Igreja, que distrai até o crucifixo; pode ser a gaja que trabalha no café, que leva sempre as maiores gorjas (talvez para condizer com o tamanho das mamas); pode ser a gaja da direcção comercial, que todos na empresa gostavam de levar para dar umas voltas; pode ser a estrela de cinema, que está constantemente nas capas das revistas.

E o que torna estas gajas boas? Invariavelmente, o corpo. São gajas boas porque têm um corpo bem-feito; o rosto é, geralmente, secundário na avaliação da gaja boa. É a tal história da diferença entre um avião (boa, com sotaque do norte) e um helicóptero (gira e boa).

Ou seja, a gaja boa tem um corpo belo... e cá voltamos nós à beleza... que, da última vez que vi, estava nos olhos de quem via. Não me consta que esta lei tenha sido revogada.

Portanto, o je e as gajas boas...

Não tenho uma experiência hands-on por aí além com gajas que me permita realizar um estudo com uma vasta amostragem estatística. Mas posso fazê-lo em segundo grau, uma vez que nunca me inibi de frequentar o Bairro da Luz Vermelha na net. Aliás, não sei se já vi de tudo, mas sei que já vi mais que o que gostaria de ter visto.

Anyway...

In the Beginning, era a Gaja Boa. E nasceu uma opinião, que mantenho até hoje - há muitas mulheres na pornografia que têm corpos que considero mil vezes mais belos que os de todas as top-models que me possam apresentar.

Olha, uma das primeiras que me hipnotizou está aqui; a secção "Gallery", logo a seguir à mini-bio, tem três fotos dela, com progressivos níveis de nudez (se fizerem scroll para baixo, têm as capas dos DVDs, algumas das quais são um pouco mais explícitas - fica o aviso). É uma mulher bonita, sem dúvida, mas tem um corpo cheio, que está longe do exagero a que me habituaram as passerelles; é um corpo cuidado, mas normal. Não sou um perito em top-models, mas, de todas as que conheço, não há nenhuma que considere tão bela como esta mulher.

Portanto, para que conste, também curto a Gaja Boa.

Depois, com o passar do tempo, comecei a reparar numa coisa curiosa - gajas boas, há muitas. Mas depois, há um conjunto - bem menor - de gajas que são realmente excitantes, e algumas - tendo a sua beleza, sem dúvida - até nem têm nada que as distinga enquanto belezas estonteantes. São mulheres atraentes, mas perfeitamente normais, talvez até com uns quilitos a mais (que se notam, por vezes, na barriguita), ou talvez não. Mas todas têm uma coisa me comum - uma desinibição e entrega quase totais ao que fazem.

E a partir daí, pelo menos para mim, o mito da Gaja Boa perdeu o interesse. Não quer dizer que não goste, simplesmente não chega. Tal como já disse anteriormente, uma gaja boa atrai-me o olhar... nada mais.

Mais tarde, vi alguns videos com entrevistas a mulheres que pousavam nuas (num site com nús, mas sem cenas de sexo), e só a forma como algumas delas falavam sobre os mais variados assuntos (de índole sexual, claro) era espectacular, era algo que trascendia a beleza, enfim, foi algo que me fascinou. E, hoje em dia, é aquilo a que dou mais importância.

Não tenho, obviamente, uma check-list de truques que uma mulher precisa de fazer para me satisfazer. Tenhos as minhas preferências, e ela terá as suas. O que me dá gozo é justamente a revelação de parte a parte, a vontade de experimentar (ou não, porque muitas vezes é preciso compreender que há gostos que não são partilhados), a entrega progressiva a cada novo passo que se dá. O facto de uma gaja ser boa não é garante que tenha desinibição para este tipo de entrega. Logo, o facto de uma gaja ser boa não me diz muito.

Entretanto, lembrei-me recentemente de uma situação, passada há uns 10-13 anos com o tipo que me ensinou a tocar guitarra. Estávamos a falar com uma amiga dele, que eu vi pela primeira vez na altura, e quando nos viémos embora, eu disse "Epa, a tipa era boa"; e ele respondeu "Não. É muito simpática, e cativa por isso, mas não é o que chamaria uma gaja boa. Não tem um corpo muito bem feito".

Levei um certo tempo a pensar nisso, na altura. Não cheguei a grande conclusão, mas arquivei. Anos mais tarde, estava finalmente em condições de dar uso a esta pepita de informação. Percebi, finalmente, um dos motivos pelos quais muitas das gajas universalmente boas não me dizem muito. É que a simpatia é um critério importante para mim; e muitas das gajas boas parecem criar a ideia que uma carinha de enjoada é um must. Bem, serve realmente para muita gente. A mim, tem o condão de me afastar.

Não quer isto dizer que a beleza não conta para nada. Estaria a ser hipócrita se o dissesse. Obviamente, o físico da mulher tem que me atrair; neste aspecto, não sou diferente de qualquer outro homem. No entanto, tal como eu disse num comentário, sou eu que decido se a mulher que estou a ver é boa ou não. Não são os leitores do "Fashion Today" nem os votadores da "Lista das 10 Mais Sexy do Mundo". E os meus critérios podem ser diferentes dos deles. Não são necessariamente as escolhas deles que me inspiram, que me levam a fantasiar.

Enfim, para terminar... por agora, claro :)

Cada um é livre de viver a sua vida como quiser, de ceder às pressões que quiser, de o fazer como quiser, de escolher os seus parceiros/parceiras da forma que quiser, e com as formas que quiser... desde que se sinta bem consigo próprio. Eu esforcei-me por apresentar a visão que utilizo neste assunto, da melhor forma que consigo, neste ponto da minha vida.

Podem dizer-me "O mundo não é assim". Lá fora, a corrida é às gajas boas, e é por isso que uma mulher anda numa roda-viva eterna para não perder a figura, para não ser trocada por outra. Que seja - os gajos perseguem as gajas universalmente boas, e estas perseguem a manutenção da sua "bondade universal" :) Mas lá porque anda toda a gente a fazer isso, eu não sou obrigado a fazer o mesmo, pois não?

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sábado, setembro 23, 2006

Changes

Ela: O pessoal não vai muito aos teus outros blogs, pois não?

Eu: Heh! O tempo também não dá para tudo, não é? O pessoal vai onde pode. Além disso os meus posts não são propriamente rapidinhas... até porque não tenho muito jeito para isso.

Nota: Isto, apesar do tamanho deste post.

Ela: Mas devias fazer mais publicidade.

Eu: Boa ideia! Vou já preparar os outdoors e os spots televisivos.

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Pensando bem, mudei de ideias. Se os outdoors são um balúrdio, então os spots televisivos, nem queiram saber.

Assim sendo, fico-me por esta remodelação. Livrei-me do tal vermelho de que nunca gostei, e decidi fazer mais publicidade aos outros blogs, tornando-os mais visíveis. Quem sabe, talvez ela tenha razão.

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quinta-feira, setembro 21, 2006

Perfeitização

Data original: 2006-03-13

Há uma tira da Mafalda em que ela entra no quarto da mãe e vê um frasco que diz "Creme de Beleza". Coloca um pouco no rosto e depois fica a olhar para o espelho. Como nada acontece, começa a ficar impaciente, e diz "Então!?" :D

A semana passada recebi, repetidas vezes, o artigo do RAP (o tipo do Gato Fedorento) sobre a sessão fotográfica das "Jardins". Foi curioso, porque eu andava há alguns dias a preparar um mail sobre o assunto - não sobre as "Jardins", mas sobre o "Efeito Photoshop" no mundo moderno.

Basicamente, é um fenómeno ao qual chamarei "Perfeitização" (e pronto, aqui fica a minha demonstração de ignor... er, quero dizer, o meu contributo de hoje para a língua portuguesa :) ).

Dei-me conta da Perfeitização pela primeira vez há alguns anos, quando estava ver umas fotos da Playboy. Depois, comecei a olhar com mais atenção para a publicidade, e para as revistas de gajas. Yep, ali estava o mesmo fenómeno. Apesar de apresentar aqui a questão apenas no feminino, não tenho dúvidas que as fotos de homens sofram do mesmo problema. Afinal, o objectivo é o mesmo.

E qual é esse objectivo? É um dois-em-um - criar o desejo de uns e a inveja de outros. No caso das fotos de mulheres, criar o desejo dos homens e a inveja das mulheres. Até aqui, nada de novo. Mas a evolução da Perfeitização faz com que este processo atinja novos patamares.

Imagino que, nos seus primeiros passos, a Perfeitização deveria ser relativamente arcaica - o sucesso do operação dependia, em grande parte, das qualidades da mulher. Isto significava que tudo acabava por ser mais saudável. As mulheres que liam as revistas e ambicionavam ter um aspecto daqueles tinham hipóteses de o conseguir, de uma forma relativamente natural (apesar dos exageros das dietas).

Entretanto, com a Era Digital, as possibilidades aumentaram. As qualidades da mulher, apesar de manterem ainda um papel importante no resultado final, passam a ter uma quase dependência de técnicas de manipulação de imagem - é a Perfeitização Moderna.

E é aqui que se perde todo o senso de equilíbrio - quando a mulher cuja inveja é despertada pelo que vê um pouco por toda a parte (em outdoors, em revistas, na TV) decide embarcar numa odisseia para conseguir "ser como aquela tipa". Só que isso é uma batalha inglória. Inglória, no sentido em que, mesmo quando é ganha, os recursos investidos foram de tal ordem que qualquer pessoa sensata ficaria a interrogar-se se terá valido realmente a pena. Além de que é uma batalha constante, que se pode descrever claramente com a expressão "parar é morrer".

Analisemos, então o processo da Perfeitização...
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1. Encontrar uma mulher atraente
Esta é fácil. É claro que podemos subir a fasquia, e dizer que não basta que seja atraente. Não! Queremos o tipo de mulher capaz de fazer parar o trânsito! Aí já se torna um pouco mais difícil. De qualquer forma, é tudo uma questão de método. Basta ficar à espreita numa qualquer avenida movimentada, e esperar. Quando aparecer aquela mulher que atravessa com o vermelho para os peões e obriga os condutores a travagens mais ou menos bruscas, já está! Aí têm a vossa mulher que faz parar o trânsito :)

2. Pré-processamento
Geralmente, isto implica estucar a desgraçada da senhora com cremes e maquilhagem suficiente para pintar uma moradia de dois andares, com garagem para dois carros, um barracão e um pequeno pavilhão para refeições ao ar livre. O objectivo parece ser, IMHO, fazer com que desapareçam todos os traços que tornam a mulher realmente única, e - em última análise - interessante, na tentativa de a transformar num qualquer suposto estereótipo de fantasia masculina (de certa forma, lembra-me a utilização dos espartilhos, em tempos idos).

De facto, o meu sonho sempre foi que uma daquelas deusas tipo Playboy saltasse da página (ou, mais recentemente, do monitor) e ganhasse vida, para depois podermos passar +/- uma hora a aplicar-lhe cremes (talvez fosse melhor diluente) para remover todas as camadas de maquilhagem, na esperança de descobrir, afinal, que mulher é aquela.

3. Criar situações/momentos de beleza com a referida mulher
Às vezes saiem melhor, às vezes saiem pior. Mais uma vez, demonstro o meu minimalismo, indicando que quanto mais simples a envolvência, melhor o resultado.

4. Captar essas situações/momentos em foto/filme
Óbvio, eu sei :)

5. Pós-processamento
Outra designação para este passo poderia ser "Photoshop até à morte".

Não basta que a mulher esteja bela; tem que estar também etérea, difusa, perfeita - numa palavra, irreal. Seja para encobrir "defeitos", seja para "realçar" qualidades, a verdade é que este é o passo mais abusado de todos, ainda mais que o pré-processamento. E é uma pena. Mais uma vez, desvirtua-se completamente a beleza natural da mulher, que consegue ser mais excitante e surpreendente do que os "Artistas do Photoshop" costumam criar.

Aliás, ao contrário do que escreveram uns idiotas numa campanha que se encontra aí nos outdoors, existem alguns "eles" (OK, pelo menos um :) ) que não ligam à celulite, da mesma forma que não deixam de apreciar a beleza de uma mulher se ela tiver alguns pontos ou manchas na pele, ou qualquer outro "defeito" que se lembrarem de inventar para vender um determinado produto.
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Bem, como já devem ter percebido, não sou grande fã dos passos 2 e 5, e é a todos os abusos que se cometem nestes passos que chamo Perfeitização. Estou farto de mulheres que parecem todas iguais. Prefiro mulheres "ao natural" (sim, em todos os sentidos da palavra ;) ).

Mas o mais irónico de tudo é o seguinte - foram as mulheres que acabaram por justificar este processo, que validaram a Perfeitização. Em vez de terem dito uma reacção inicial sensata, i.e., dizer simplesmente "Sim, de facto a tipa da foto é deslumbrante. Mas quando a vir à minha frente sem essa produção toda, logo darei uma opinião", aparentemente deixaram-se - mais uma vez - dominar pela insegurança, e o que saiu foi um "Oh, meu Deus! Eu também tenho que ser assim!"

Em vez de se aperceberem que estavam a ser manipuladas com um único objectivo, a comercialização de produtos e serviços, mergulharam de cabeça nesse admirável mundo novo do Estilo de Vida da Mulher Moderna - um pouco aquilo que tentaram fazer depois aos homens, com essa patranha dos Metrossexuais :)

E assim, chegámos a uma situação, no mínimo, cómica - os homens admiram as "mulheres de papel", talvez até fantasiem com elas, mas procuram mulheres de verdade; e as mulheres de verdade, aparentemente, ambicionam ser como as "mulheres de papel". Enfim, é o que temos.

Termino com três exemplos que considero salutares.

No entanto, antes de os apresentar, alguns disclaimers. Os sites em questão são NSFW (Not Safe For Work); ou seja, o meu conselho é que, caso queriam visitá-los, evitem fazê-lo a partir do vosso local de trabalho. São sites de nús femininos, estando um deles na fronteira com a pornografia (na secção lésbica). Contêm apenas imagens de mulheres (pelo menos, nos previews; sendo sites pagos, não tenho grande informação sobre o seu conteúdo total, mas não tenho qualquer motivo para acreditar que seja diferente do que é apresentado).

Não faço qualquer "patrocínio" ou recomendação de adesão aos sites; limito-me a comentar sobre os mesmos, enquanto exemplos daquilo que mais gente deveria fazer no que respeita à apresentação da mulher - não tanto no que se refere ao facto de estarem sem roupa, mas sim devido ao facto de estarem naturais :)

Não vos digo "vão ver"; também não vos digo "não vejam". É suposto sermos todos adultos, e sabermos o que fazemos :)

1. www.domai.com
O autor do site apresenta-o como um repositório de nús femininos, sendo as fotografias tiradas por si.

A primeira coisa que salta à vista é o baixo nível de "produção" das mulheres fotografadas, mesmo no que toca à maquilhagem. As fotos são simples, e pareceu-me ser o mais soft dos três sites.

Tanto quanto me pude aperceber, não existe propriamente um tema para cada sessão fotográfica - o tema é a mulher, e a sua beleza, com o mínimo de interferência possível. Escolhe-se uma envolvência agradável, e já está. É um conceito que vence pela simplicidade, a todos os níveis.


2. www.femjoy.com
Este pareceu-me o mais elaborado dos três. Mesmo assim, é infinitamente mais simples do que é normal ver em sites do género, ou na publicidade com que somos "massacrados" diariamente.

É um pouco mais "explícito" que o anterior, no sentido em que alguém disse há alguns anos atrás "Uma coisa é pousar nua, outra é pousar escancarada" :)

De resto, o conceito é muito idêntico ao do site anterior, com algumas diferenças; p. ex., cada sessão fotográfica apresenta a mulher enquadrada num tema, que parte da envolvente em que esta se encontra - pode ser uma sessão num bosque, numa praia, em cima de um telhado (por acaso, nunca me lembraria desta :) ), etc.


3. www.abbywinters.com
Este é o tal que está na fronteira da pornografia. Tal como disse, tirando a "secção lésbica", não classificaria nada mais como pornografia, mas admito que a minha fronteira possa ser um pouco mais... flexível que a de muita gente :)

Anyway, o conceito deste site é habitualmente designado como "The Girl Next Door", ou "Amadoras". Ou seja, a ideia é apresentar fotografias de mulheres que não estão "na indústria" (do erotismo/porn, entenda-se).

Para começar, é o site onde as mulheres aparecem da forma mais natural. Apesar de não ser um perito no assunto, algumas delas parecem até não ter sequer qualquer maquilhagem. São normais. No melhor sentido que esta palavra alguma vez possa ter. Têm sorrisos normais (e lindos, IMHO). Têm corpos normais. Têm "defeitos" (não na minha opinião, mas no que parece ser o consenso geral) normais, como, p. ex., os tais pontos negros, as tais manchas na pele, a tal celulite; "defeitos" que, volto a afirmar, não são capazes de danificar a beleza de uma mulher.

Uma coisa que me surpreendeu foi a qualidade das imagens. A maioria dos sites que implementam este conceito cai numa de duas categorias:
- Imagens que parecem ser, realmente, de pessoal amador, e com uma qualidade a condizer
- Imagens de alta qualidade, mas em que o pessoal parece ter tanto de amador como eu tenho de profissional :)

Este foi o primeiro site que vi que consegue combinar na perfeição o melhor dos dois mundos. Quase me dá vontade de ir visitar a Austrália ;) Sim, o site é australiano; e as mulheres, supostamente, também. E sim, sei perfeitamente que pode ser um engano, e que elas podem ser todas da Europa de Leste :)

De qualquer forma, pelo grau de normalidade e naturalidade com que apresenta estas mulheres, foi o que preferi, dos três sites acima. E dou-lhes os parabéns. A forma como apresentam o conceito do site e as imagens de exemplo que escolheram para ilustrar esse conceito formam um todo excelente. O facto de nem todas terem corpos deslumbrantes não as impede de aparecerem; o facto de terem aparelhos nos dentes (que mete tanta confusão a tanta gente) não as impede de aparecerem; e nenhuma parece envergonhada com o que a Natureza lhe deu - ou são excelentes atrizes, ou também elas estão de parabéns.


E pronto. Mais uma vez, não vos estou a tentar incitar à pornografia (simplificando a designação :) ). Simplesmente, no Mundo "Real" (publicidade, revistas de gajas, etc.) parece que ainda anda tudo a ambicionar viver num qualquer Mundo de Fantasia, cheio mulheres irreais. Gostei de descobrir que no suposto Mundo da Fantasia há quem se esforce por, pelo menos, parecer real (sim, eu sei, os/as Irrealistas continuam a ser muito mais, mas pode ser que um dia a coisa mude).

E, acima de tudo, gostei de saber que existe por esse mundo fora muito boa gente que partilha da minha opinião - a Beleza chega-se a si mesma, e não precisa da Perfeição para nada.

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terça-feira, setembro 19, 2006

Um modelo a seguir...?

Conheço muita gente que não gosta de espanhóis. Eles são isto, eles são aquilo.. eles são do pior que há. Talvez algumas das críticas tenham fundamento. Eu conheço um, e não tenho nada a apontar-lhe, mas admito que não é propriamente um universo estatístico representativo.

Hoje, ao jantar, liguei a TV e apanhei a meio uma análise sobre a anorexia e a moda, devido a algo que se havia passado em Espanha. Não consegui descobrir o quê. Na SIC, a mesma coisa, até com um mini-debate, com convidadas.

Fiquei curioso. Cheguei a casa, e fui ver o que raio se passou em Espanha. A notícia está aqui.

Enfim...

Por um lado, parece-me uma medida discriminativa. Se uma mulher quer parecer um pau de fósforo andante, está no seu direito. Ainda para mais, se tivermos em conta que por esse mundo fora há otários que acham isso sexy, e que ficam fascinados com as top models. Como em tantas outras coisas, o mercado decide.

Por outro lado, compreendo a preocupação. Apesar de as coisas terem vindo a melhorar, basta recuar meia dúzia de anos para nos recordarmos do "ideal de beleza" feminina que nos assaltava, em toda a sua pujança... bem, "pujança" talvez não seja a melhor palavra para descrever aquelas criaturas, que mais pareciam saídas de um qualquer campo de refugiados. Mas, mais uma vez, assumo o meu estatuto de minoria. Afinal, se elas eram consideradas mulheres sexy, é porque deveria haver imensos homens que as adoravam.

Eu confesso que nunca conheci nenhum que manifestasse essa opinião, mas deve ser, certamente, por me movimentar em meios rudes, pouco sofisticados. Haverá, com toda a certeza, milhões de homens que participavam nas eleições que diziam ao mundo que estas é que eram as mulheres realmente sexy, e que todas as outras deveriam aspirar a ser como elas.

Como disse, compreendo a preocupação. A mulher tem tendência a dar importância a estas coisas, mais que o homem... aliás, bem mais que o homem. A idade em que estão mais vulneráveis a estas influências é a adolescência, onde cada "imperfeição" é logo uma tragédia grega, e onde a impaciência exige soluções milagrosas e imediatas. É uma receita para o desastre, claro. Felizmente, não é assim tão comum como isso.

Bem, e como ficamos? Parece-me uma medida discriminativa, mas compreendo a preocupação. Vai daí...?

Vai daí, que creio que o mundo do féshôn está apenas a colher o que semeou. Durante anos a fio, ouvíamos histórias de modelos, algumas delas famosas, a admitirem que passaram por problemas de anorexia e/ou bulimia, para se manterem no topo da sua profissão. Durante esse mesmo tempo, não ouvi ninguém - mas ninguém - com autoridade nesse mesmo mundo a enfrentar o problema de forma consistente e insistente. Parecia mais uma atitude de "se eu fingir que não vejo o problema, pode ser que ele se toque e desapareça".

E o mundo do féshôn continuou, tão glamoroso como sempre. Um mundo cheio de beautiful people, onde estes pequenos aborrecimentos não existem, onde todos são felizes, estão felizes, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Um mundo povoado por mulheres doentiamente magras (atenção, é a minha opinião, de acordo com o meu gosto pelo corpo feminino. YMMV), que eram constantemente apresentadas como o objectivo a atingir, pelas revistas femininas.

E nunca ouvi ninguém a dizer "Reparem, isto não é bem o que parece. Para começar, estas mulheres estão maquilhadas até à morte. Elas têm que ser magras para que a passerelle aguente o peso delas com a maquilhagem. Depois, essas fotos fabulosas onde vocês as vêem, supostamente lindas de morrer? Deixo-vos três palavrinhas - Photoshop, Photoshop, Photoshop. Pois... por fim, esta «elegância» toda? Bem, lá haverá uma ou outra que são realmente assim, naturalmente. As outras? Olha, não sei que vos diga, a não ser uma coisa - não queiram ser assim, meninas".

Se há coisa a que o mundo do féshôn nunca me habituou foi à sinceridade, à frontalidade. Sendo um mundo de ilusão, também os problemas são escondidos por detrás de umas poucas toneladas de maquilhagem, e o que, mesmo assim, ainda se notar, é depois removido na fase de edição digital.

Dito isto, não posso dizer que a medida me choque, nem que tenha muita pena de todas as pessoas que se sentem, para parafrasear a notícia, "ultrajadas". Passaram demasiado tempo a olhar para o outro lado e a assobiar. Resultado: Não viram o que lhes estava a cair em cima.

Agora, estão a ver-se a braços com o que parece ser um problema de peso.

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quinta-feira, setembro 14, 2006

A Matter of Life and Death

Bem, antes de passarmos ao tema de hoje (o último álbum de Iron Maiden), apenas uma palavrinha aos meus amigos virtuais... aos que se queixaram e aos que ainda não se queixaram...

Sim, é verdade, nestes últimos tempos tenho andado um pouco ausente. O blog anda desleixado, parecendo às vezes abandonado.

Bem, peço desculpa. A sério. Afinal, admito-o sem qualquer problema: Devo-vos mais - e estou-vos mais grato - que vocês alguma vez poderão imaginar.

Por outro lado, peço que tentem compreender - há alturas em que o tempo é realmente curto para tudo. Posso apenas dizer que estou um pouco ausente daqui pela melhor Razão que alguém alguma vez poderá ter.

Este weekend vou estar fora, portanto só no início da próxima semana estarei de volta.

Até lá, pessoal, tudo de bom para vocês... e obrigado!

A Matter of Life and Death.

O último álbum de Iron Maiden. Sou fã de Maiden para aí desde 84-85, quando ouvi um álbum deles pela primeira vez. Foi um longo percurso, com um período de cooling off na década de 90, após a saída de Adrian Smith, um dos meus guitarristas preferidos. Foi um percurso retomado em força em 2000, com o retorno dos filhos pródigos, no álbum "Brave New World".

Bem, e este álbum?

Para mim, é o melhor álbum de Maiden desde "Seventh Son Of A Seventh Son". Em termos de letras, é o melhor álbum de Maiden de sempre. É o único álbum deles, até hoje, em que ouço todas as faixas, e não há uma única que diga que curto menos.

É igualmente o álbum mais sombrio. Talvez por se centrar à volta da Guerra, e da influência que a Religião tem tido na mesma. Tem imensos momentos de suavidade, de tristeza, pontuados por prestações fabulosas de Bruce Dickinson, que consegue, finalmente, trazer para Maiden algum do arsenal que criou na sua carreira a solo.

A minha faixa preferida, a Jóia da Coroa deste álbum, é "For the Greater Good of God" (Harris). Poderia citar esta letra em toda a sua plenitude, mas já alguém o fez, e não vale a pena estar a repetir; leiam, se tiverem pachorra; vale a pena.

O que me tocou mais...

"Please tell me now what life is
Please tell me now what love is
Well, tell me now what war is
Again tell me what life is
"

Tantas vezes achamos que sabemos o significado de certos conceitos, ou que conseguimos descobrir esses significados... ou até que vale a pena tentar descobri-los.

Mas, como acontece sempre, é a vida que nos ensina as lições, é a vida que nos leva a encontrar esses significados, muitas vezes tão distantes daquilo que acreditávamos, daquilo que imaginávamos.

Achei genial o "Again tell me what life is", imediatamente após o "Well, tell me now what war is". Acredito que quem souber o que é esta, possa ter uma ideia mais clara sobre o que é aquela, e sobre o seu valor.

"More pain and misery in the history of mankind
Sometimes it seems more like the blind leading the blind
It brings upon us more famine, death and war
You know religion has a lot to answer for
"

Por muito que pensemos que a temos controlada, ao contrário de outros povos, a verdade é que a religião continua a ser um cancro. Atenção, não me refiro à fé. Essa, admiro-a. Mas a fé não precisa da religião para nada - felizmente, ninguém precisa de ir à igreja para ter fé, e para viver de acordo com essa fé.

No nosso caso, o cancro a que me refiro é a interferência que os religiosos insistem em ter em assuntos que caiem claramente fora da sua alçada. Se alguns são caricatos (tal como o Intelligent Design), outros há que nos prejudicam a todos, como a oposição a alguma investigação genética aplicada à medicina - se não fossem por essas mentes tacanhas que pensam saber mais que os outros, talvez a história de dois indivíduos que responderam positivamente a um tratamento experimental de um cancro terminal pudesse ter acontecido há mais tempo. E talvez agora não fossem dois, mas sim seis, a responder a uma segunda ou terceira versão desse tratamento.

São as atitudes e a influência destes indivíduos, que apelam incessantemente à paz e ao respeito pela vida, que estão a contribuir para que se continuem a perder vidas.

"You know religion has a lot to answer for". Sim... e não são apenas os idiotas das jihads que têm contas a prestar. Acredito numa Entidade Divina, não necessariamente a que é retratada em nenhuma das religiões que conheço... mas alimento a esperança que todos estes chulos (os nossos e os outros), que "aqui por baixo" se declaram como "porta-vozes" do seu Deus, tenham à sua espera aquilo que merecem, quando chegaram "lá acima".

Apesar de tudo isto, tenho que admitir que admiro a figura de João Paulo II, pela resistência com que levou a vida até ao fim... não por muito mais, é verdade.

"He gave his life for us
He fell upon the cross
To die for all of those
Who never mourn his loss
It wasn't meant for us
To feel the pain again
Tell me why, tell me why
"

Sim, confrontados com um Jesus Cristo moderno, a maioria de nós não choraria a sua perda. Chamar-lhe-íamos idealista, sonhador, e outros nomes piores. Se esquecermos os embelezamentos da Bíblia, não deve ter sido muito diferente, há pouco mais de 2000 anos.

Ironicamente (ou talvez não), aqueles que durante séculos foram acumulando poder e sangue em seu nome também não seriam capazes de o reconhecer, se o vissem hoje em dia.

Na segunda faixa do álbum (outra das minhas preferidas), "These Colours Don't Run" (Smith, Harris, Dickinson), entramos de pedra e cal no tema que ocupa todo o álbum - a guerra. Os versos de abertura deixaram-me um nó na garganta:

"It's the same in every country
When you say you're leaving
Left behind the loved ones
Waiting silent in the hall
"

Os "loved ones"... os tais que, muitas vezes, têm que enterrar os mortos e seguir em frente. E, quando nos perguntamos porquê... o pior é que, quando nos perguntamos porquê, o mais certo é ninguém ter um resposta realmente sincera para dar.

Trouxe-me à memória um poema de Fernando Pessoa, "O Menino de Sua Mãe", que ouvi declamado por João Villaret... dois génios, cada um na sua Arte... o resultado é indescritível... pelo menos, eu não tenho o domínio suficiente da língua portuguesa para lhes conseguir fazer justiça. Bem hajam.

Voltando à música, é um tema sóbrio, diria mesmo triste; não só pelo que se canta, mas pela forma como se canta, pelo próprio instrumental. E sempre pontuado por uma certeza - todos somos iguais:

"For the passion, for the glory
For the memories, for the money
You're a soldier, for your country
What's the difference, all the same
"

Nem todas as músicas são relativas à guerra. O álbum abre com a faixa "Different Worlds" (Smith, Harris). É uma malha espectacular. A letra fez imediatamente ressonância comigo, uma vez que trata da insatisfação auto-infligida, sem qualquer razão aparente que não seja apenas o achar que o que não temos é que nos fará felizes:

"Tell me what you can hear
And then tell me what you see
Everybody has a different way to view the world
I would like you to know, when you see the simple things
To appreciate this life, it's not too late to learn

Don't wanna be here
Somewhere I'd rather be
But when I get there
I might find it's not for me
"

É o desperdício puro e simples. Ainda se se pudesse dizer "são assim, mas são felizes"... mas, geralmente, é exactamente o contrário. É pena, mas já me habituei a aceitar que existe muita gente que só encontra satisfação na insatisfação.

"Out Of The Shadows" (Dickinson, Harris) demonstra claramente ser uma faixa de Bruce Dickinson. É impossível não estabelecer o paralelismo com o "Tears Of The Dragons", sem dúvida a obra-prima de Dickinson, na sua carreira a solo.

Esta é daquelas faixas em que cada um constrói o seu tema, cada um interpreta á sua forma, cada um cria a sua imagem. Para mim, fica o seguinte:

"Dusty dreams in fading daylight
Flicker on the walls
Nothing new, your life's adrift
what purpose to it all?
Eyes are closed and death is calling
Reaching out its hand
Call upon the starlight to surround you
"

Mais uma vez, a vida. O que fazer com ela? O que procurar? Abandonar os sonhos? Ou tentar encontrar o nosso brilho antes do cair do pano? E depois, sempre a mesma pergunta - como? Falando por mim, não sei. Por isso, vou experimentando, e tentando viver com atenção ao Destino, e às Oportunidades que me são enviadas.

"Brighter Than a Thousand Suns" (Smith, Harris, Dickinson) é a terceira faixa. Tanto quanto me recordo, é a faixa mais dark que Maiden já fez; lembra novamente o trabalho de Bruce Dickinson a solo. O tema é a bomba atómica, tão "desejada" por todos.

Há um momento fabuloso na letra, que diria que se destina a todos nós, que levamos as nossas vidas numa total auto-anestesia, escolhendo não olhar para aquilo que consideramos demasiado incómodo:

"Bury your morals and bury your dead
Bury your head in the sand
"

Lembrou-me uma faixa de Queensryche:
"Mourn the dead... on the screen,
Mourn the dead... on the screen,
Mourn the dead... on the screen,
Mourn the dead... while they scream
" (Queensryche - "Spool")

A quinta faixa, "The Longest Day" (Smith, Harris, Dickinson) retrata um tema que me é particularmente caro - o Desembarque na Normandia. O título vem do livro de Cornelius Ryan, que retrata as primeiras 24 horas de Operação Overlord, relatando os movimentos de todos os envolvidos, e lembrando-me, mais uma vez, como o Destino, ou a Acaso, ou a Sorte, ou o que quer que seja que lhe queiram chamar têm tanta importância no desenrolar das vidas de todos, até daqueles que fazem História.

É mais uma música dark, como não poderia deixar de ser, dado o tema. Não só musicalmente, mas também na letra.

"Sliding we go, only fear on our side
To the edge of the wire, and we rush with the tide
Oh the water is red, with the blood of the dead
But I'm still alive, pray to God I survive
"

Imagino que no meio do caos que foi aquele desembarque, não haveria tempo para muito mais senão para pedir a Quem Quer Que Seja para conseguir chegar vivo à praia.

"Lord of Light" (Smith, Harris, Dickinson). Esta faixa tem uma frase que me lembra algo que escrevi aqui - "Revenge is living in the past". A esmagadora maioria dos idiotas que se deixam convencer pelos oportunistas a chacinar entusiastamente outros idiotas (por sua vez, convencidos por outros oportunistas), são convencidos quase sempre pelo desejo de vingança, contra uma qualquer ofensa, real ou imaginária.

Por fim, algo que nos define admiravelmente bem, enquanto espécie:

"We are cast out by our bloody father's hand
We are strangers in this lonely promised land
We are the shadows of the one unholy ghost
In our nightmare world the only one we trust
"

Quando arranca o riff principal, é quando se percebe como o som deste álbum está cru. É um som de guitarra fabuloso, com um mínimo de pós-processamento. Quase que conseguia visualizar as colunas, ao ouvir aquele som. É muito idêntico ao som de Scorpions, nos 80s.

Enfim, há quem os considere irrelevantes, que já passaram a idade da reforma, que já não fazem nada de positivo... bem, to each his own. Para mim, continuam a ser uma das melhores bandas do mundo.

Termino com a performance deste álbum (o lugar mais alto que ocuparam nos tops de vários países), extraído de uma Press Release da EMI, em www.ironmaiden.com:

CHART BREAKDOWN SUMMARY TO DATE

#1 Germany, Sweden, Italy, Finland, Greece, Slovenia, Czech Republic, Croatia, Poland, Brazil
#2 Canada, Switzerland, Norway, Hungary, Columbia
#3 Chile
#4 UK, Austria, Spain, India
#5 France, Ireland, Arabia
#6 Iceland, Belgium
#7 Holland
#8 Denmark
#9 USA (é o seu primeiro álbum a entrar no Top 10 nos USA)
#10 Mexico
#11 Portugal, Japan
#12 Australia
#15 Hong Kong
#16 New Zealand


Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)

sexta-feira, setembro 08, 2006

Destino

Acredito no Destino.

Não no Destino Bibliotecário, que guarda os livros com todas as nossas vidas, futuras e passadas, e se diverte a espreitar os capítulos com cenas de sexo.

Não...

O Destino no qual acredito é um Tipo com sentido de humor, que aprecia uma boa piada (infelizmente, muitas vezes à nossa custa), e que se reúne diariamente com um conjunto de Velhinhas Divinais, para um jogo de "Coincidências & Oportunidades", que é mais ou menos como o bingo caseiro, só que em vez de chá e torradas estas Velhinhas bebem cerveja e mordiscam uns amendoins com piri-piri... ou os orelhas do Destino, quando este, por Coincidência, lhes dá a Oportunidade... sim, é um jogo com regras muito próprias.

É este o Destino que todos os dias acorda, levanta-se (com uma coçadela discreta nos penduricalhos), faz a sua higiene matinal, e coloca de imediato mãos à obra. E é das suas mãos que saiem todas aquelas coisas q nos irrompem Vida dentro, e sobre as quais não temos qualquer tipo de controle.

Acontecimentos maravilhosos... ou terríveis... cruéis, até, às vezes. O Destino é imprevisível... bem, excepto no que diz respeito ao seu funcionamento intestinal, claro. Esse é previsível como um relógio helvético.

Bem, então e depois?

Epa, depois, andamos nós aqui em baixo feitos baratas tontas, cheios de teorias e verdades e certezas, plenos de conhecimento sobre aquilo que queremos, e, de repente...

De repente, reparamos, por puro acaso, num olhar, num sorriso... e reparamos porque, por puro acaso, nos encontramos no lugar certo, na hora certa, com o estado de espírito certo, que nos faz olhar para o rosto dos outros, e não apenas para o nosso umbigo.

E, de repente, esse sorriso transforma-se numa frase... numa frase sorridente... talvez uma frase como "Olhe, eu não costumo fazer isto, mas...".

E, de repente, essa frase transforma-se num diálogo, e o diálogo assume uma vida própria, e desata num bailado hipnotizante, de cores, e histórias, e cheiros, e toques... e olhos nos olhos, o bailado não pára, hipnotizante.

E, de repente, reparamos nas coincidências... no dia em que a conversa teve início, no dia em que a conversa atraíu os lábios e se afastou, para os deixar à vontade... mas não muito, porque a conversa nunca anda longe.

E, de repente, apercebemo-nos dos anos q passámos à espera que algo assim acontecesse, sem nos atrevermos a ter esperança, sem nos atrevermos a deixá-la partir, sem nos atrevermos...

Até que um dia, ouvimos alguém bater aos portões. É a Oportunidade, a perguntar se nos atrevemos a abrir.

E colocamos as nossas máscaras e subimos ao cimo das muralhas que construímos à nossa volta, para ver o que nos espera.

E abrimos portões.. e deixamos cair máscaras... docemente embalados num sorriso...

Porque não há nada melhor que mergulharmos numa Oportunidade.

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terça-feira, setembro 05, 2006

Algodão doce

As nuvens são um espanto.

Flutuar por aqui, rodeado de paz e calma por todos os lados, mas ao mesmo tempo, ao mínimo pretexto, sentir o sangue a pulsar e a adrenalina a tomar o controle, e mergulhar novamente no turbilhão... para depois regressar calmamente às nuvens.

É extenuante... mas, como disse alguém, é doce... very much so.

O que me trouxe à ideia um trocadilho com uma música que adoro... e que aplico neste dia, por inúmeras razões:

'Cause these are the days of our lives
They flow with the sweetness of time

Nota: Chamo-lhe trocadilho porque alterei a letra, OK? O Freddie nunca cantou isto :)

Fez-se tarde... e depois, fez-se cedo... e entretanto, fez-se... um momento

Porque a vida é feita de momentos, e há momentos que ficarão claramente para sempre.

PS: A 5 de Setembro de 1946 nasceu Freddie Mercury. Desconfio que hoje a festa vai ser tal que os demónios não vão ter sossego :) May you always have champagne for breakfast, Freddie. And fireworks, too!

PS2: Podem clickar no link abaixo, mas hoje não há mais nada para ver. Sim, hoje vão ter tempo de ler este blog e, talvez, quem sabe... olha, para aí mais uns três :D

Nuvens de algodão... doces...

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