terça-feira, agosto 08, 2006

Guerra... E Paz?

A 4 de Maio de 1980, Tito morreu.

Há umas boas centenas de anos (supostamente em 26 DC), um tipo de barba e cabelo comprido estava de visita a Jerusalém, vindo de Nazaré, a sua terra natal, quando uns brincalhões lhe deram a fumar uma substância alucinogénia e lhe deram direcções erradas, mandando-o para um deserto, conhecido como Negev.

O que é que uma coisa tem a ver com outra?

Voltemos a 1980 e à morte de Tito.

Uma década depois, os ex-jugoslavos andavam a chacinar-se, cheios de entusiasmo. A guerra é quase sempre uma estupidez, mas mais ainda quando as pessoas utilizam como pretexto, entre outras coisas, aquilo que fizeram aos pais, aos tios, aos avós, aos bisavós... não me surpreenderia se alguém justificasse o conflito com o facto de um qualquer Neanderthal ter mijado no tanque de água do outro, o que levaria a uma troca de palavras na feira, seguida de um belo conflito e jantar volante. Obviamente que os espécimes de Neanderthal em questão seriam antepassados - ainda que um tudo-nada distantes - dos elementos em conflito na década de 90.

E o deserto, e o nosso amigo a ver a Lucy in the Sky with Diamonds?

Bem, todos temos seguido o actual conflito entre Israel e o Líbano... ou talvez devêssemos dizer entre Israel e o Hezbollah. O princípio é o mesmo. Só desde o Séc. XX para cá, a lista de conflitos é impressionante. No entanto, as raízes são ainda mais antigas, tanto mais que ambos - judeus e árabes - consideram aquela terra como Sagrada... sim, o Nosso não foi o único a ser enganado pelos supra-citados brincalhões.

Portanto, íamos onde...? Ah, sim, na Terra Sagrada. Ora, sendo uma Terra Sagrada para toda a gente (até para nós), não é de bom tom deixá-la nas mãos do Inimigo. Assim, nada como jurar destruição eterna e duradoura (just to be on the safe side) aos infiéis, assegurando aos nossos seguidores que, uma vez terminado o conflito, todos os seus problemas estarão resolvidos, a sua vida será perfeita, o seu detergente lavará mais branco, etc.

Só que isto nunca irá acontecer... até porque os detergentes são imensamente traiçoeiros. A realidade é que aquele pessoal não sabe fazer mais nada. Os extremistas de cada um dos lados vivem para odiar todas as criaturas que se encontram do outro lado. Odeiam a família toda, desde o bisavô ao periquito, e não vão descansar enquanto não tiverem acabado com todos eles.

Vamos assumir, por um segundo, que isso seria possível. Como é impossível a Israel aniquilar toda a Nação Árabe, vamos supor o contrário - aparece uma gripe das aves em Israel, e limpa aquilo tudo. Não me perguntem como é que não afecta os países vizinhos, que hoje estou um bocado preguiçoso, OK?

O que iria acontecer a seguir? A grande Nação Árabe ia unir-se e festejar. Sim... por uns dias... e depois?

Bem, depois, é só pensarmos no livro "A Odisseia de Astérix" - ao atravessarem o deserto, Astérix, Obélix e Ideiafix (não, não me esqueceria do bravo Ideiafix... ainda por cima, com um nome destes ;D ) encontram inúmeras tribos em guerra umas com as outras.

Ou o filme "A Vida de Brian", dos Monty Python, com os seus "People's Front of Judea", "Judean People's Front", e "The Popular Front of Judea" (splinter!!!! :) ), que se odeiam mais uns aos outros, que aos romanos. Ou a fabulosa situação no Iraque, onde é quase cada chefe de tribo à porrada com os outros, porque adora a Democracia - desde que seja ele a mandar. Como diria Terry Pratchett, "The Patrician believes in the rule 'One Man, One Vote', He is the Man, and he has the Vote".

Enfim, não vale a pena sequer pensar em paz para o Médio Oriente. Porque o Médio Oriente não quer paz. Porque o Médio Oriente está muito bem como está, obrigado. Porque, se algum dia este conflito acabar, surgirá um letreiro que dirá "Prezados telespectadores, lamentamos o fim imprevisto deste conflito. O próximo conflito iniciará dentro de momentos. Agradecemos a vossa compreensão".

As mortes? São lamentáveis, mas inevitáveis. Posso dizer que já me tornei mais ou menos insensível ao facto. O "mais ou menos" é porque ainda tenho algumas recaídas. Mas acredito, realmente, que não há nada a fazer. A única solução seria a mudança do Estado Judaico para outro local, mas eu no lugar deles, também não sei se quereria sair dali.

Além disso, o Ocidente "precisa" de ter ali alguém numa posição estratégica. Afinal, como dizem os americanos "We've got to keep an eye on those ay-rabs, who are sitting on top of our God-given oil".

Termino com uma nota sobre o Médio Oriente e a Democracia. Gostava de ver a experiência do Qatar funcionar (apesar de ter um prognóstico muito reservado), e demonstrar a todos os seus caríssimos vizinhos que é possível mudar, quando existe vontade de o fazer.

Mas vontade é coisa que não abunda por lá, nem de um lado, nem de outro. A não ser a de matar e destruir, claro. Afinal, temos que vingar o que aconteceu ao avôzinho, há 50 anos atrás. O velhinho nunca mais se pôde sentar como deve ser, coitado.

Enfim, que prossigam as festividades. Assim como assim, é o desperdício do costume.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Completamente de Acordo, amigo Paulo. Este é o estado normal da coisa, ou melhor o Statu Quo (não confundir com os excelentes rockers). Espero ansiosamente o dia em que o pessoal no Ocidente se farte e implemente A SÉRIO as energias alternativas para nos livrar do maldito petróleo. Aí sim, podem-se matar todos à vontade porque não fará grande diferença. O problema é que o pessoal da "land of the brave, the free, democracy, etc" não gosta muito dessas coisas de os povos trilharem os seus próprios caminhos e vão fazer tudo para que tudo fique como está. abraço

18:48  
Blogger Llyrnion said...

Hallo, Joey.

Olha, os suecos já estão a tratar do assunto. Definiram um schedule de 20 anos (salvo erro) para ficarem independentes do petróleo. Devo admitir q estou a torcer por eles.

De certa forma, tenho pena q esse pessoal só saiba viver pa a guerra e pa a destruição. É uma merda de um desperdício, mas fazer o q?

Um abraço!

22:32  

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