quinta-feira, setembro 14, 2006

A Matter of Life and Death

Bem, antes de passarmos ao tema de hoje (o último álbum de Iron Maiden), apenas uma palavrinha aos meus amigos virtuais... aos que se queixaram e aos que ainda não se queixaram...

Sim, é verdade, nestes últimos tempos tenho andado um pouco ausente. O blog anda desleixado, parecendo às vezes abandonado.

Bem, peço desculpa. A sério. Afinal, admito-o sem qualquer problema: Devo-vos mais - e estou-vos mais grato - que vocês alguma vez poderão imaginar.

Por outro lado, peço que tentem compreender - há alturas em que o tempo é realmente curto para tudo. Posso apenas dizer que estou um pouco ausente daqui pela melhor Razão que alguém alguma vez poderá ter.

Este weekend vou estar fora, portanto só no início da próxima semana estarei de volta.

Até lá, pessoal, tudo de bom para vocês... e obrigado!

A Matter of Life and Death.

O último álbum de Iron Maiden. Sou fã de Maiden para aí desde 84-85, quando ouvi um álbum deles pela primeira vez. Foi um longo percurso, com um período de cooling off na década de 90, após a saída de Adrian Smith, um dos meus guitarristas preferidos. Foi um percurso retomado em força em 2000, com o retorno dos filhos pródigos, no álbum "Brave New World".

Bem, e este álbum?

Para mim, é o melhor álbum de Maiden desde "Seventh Son Of A Seventh Son". Em termos de letras, é o melhor álbum de Maiden de sempre. É o único álbum deles, até hoje, em que ouço todas as faixas, e não há uma única que diga que curto menos.

É igualmente o álbum mais sombrio. Talvez por se centrar à volta da Guerra, e da influência que a Religião tem tido na mesma. Tem imensos momentos de suavidade, de tristeza, pontuados por prestações fabulosas de Bruce Dickinson, que consegue, finalmente, trazer para Maiden algum do arsenal que criou na sua carreira a solo.

A minha faixa preferida, a Jóia da Coroa deste álbum, é "For the Greater Good of God" (Harris). Poderia citar esta letra em toda a sua plenitude, mas já alguém o fez, e não vale a pena estar a repetir; leiam, se tiverem pachorra; vale a pena.

O que me tocou mais...

"Please tell me now what life is
Please tell me now what love is
Well, tell me now what war is
Again tell me what life is
"

Tantas vezes achamos que sabemos o significado de certos conceitos, ou que conseguimos descobrir esses significados... ou até que vale a pena tentar descobri-los.

Mas, como acontece sempre, é a vida que nos ensina as lições, é a vida que nos leva a encontrar esses significados, muitas vezes tão distantes daquilo que acreditávamos, daquilo que imaginávamos.

Achei genial o "Again tell me what life is", imediatamente após o "Well, tell me now what war is". Acredito que quem souber o que é esta, possa ter uma ideia mais clara sobre o que é aquela, e sobre o seu valor.

"More pain and misery in the history of mankind
Sometimes it seems more like the blind leading the blind
It brings upon us more famine, death and war
You know religion has a lot to answer for
"

Por muito que pensemos que a temos controlada, ao contrário de outros povos, a verdade é que a religião continua a ser um cancro. Atenção, não me refiro à fé. Essa, admiro-a. Mas a fé não precisa da religião para nada - felizmente, ninguém precisa de ir à igreja para ter fé, e para viver de acordo com essa fé.

No nosso caso, o cancro a que me refiro é a interferência que os religiosos insistem em ter em assuntos que caiem claramente fora da sua alçada. Se alguns são caricatos (tal como o Intelligent Design), outros há que nos prejudicam a todos, como a oposição a alguma investigação genética aplicada à medicina - se não fossem por essas mentes tacanhas que pensam saber mais que os outros, talvez a história de dois indivíduos que responderam positivamente a um tratamento experimental de um cancro terminal pudesse ter acontecido há mais tempo. E talvez agora não fossem dois, mas sim seis, a responder a uma segunda ou terceira versão desse tratamento.

São as atitudes e a influência destes indivíduos, que apelam incessantemente à paz e ao respeito pela vida, que estão a contribuir para que se continuem a perder vidas.

"You know religion has a lot to answer for". Sim... e não são apenas os idiotas das jihads que têm contas a prestar. Acredito numa Entidade Divina, não necessariamente a que é retratada em nenhuma das religiões que conheço... mas alimento a esperança que todos estes chulos (os nossos e os outros), que "aqui por baixo" se declaram como "porta-vozes" do seu Deus, tenham à sua espera aquilo que merecem, quando chegaram "lá acima".

Apesar de tudo isto, tenho que admitir que admiro a figura de João Paulo II, pela resistência com que levou a vida até ao fim... não por muito mais, é verdade.

"He gave his life for us
He fell upon the cross
To die for all of those
Who never mourn his loss
It wasn't meant for us
To feel the pain again
Tell me why, tell me why
"

Sim, confrontados com um Jesus Cristo moderno, a maioria de nós não choraria a sua perda. Chamar-lhe-íamos idealista, sonhador, e outros nomes piores. Se esquecermos os embelezamentos da Bíblia, não deve ter sido muito diferente, há pouco mais de 2000 anos.

Ironicamente (ou talvez não), aqueles que durante séculos foram acumulando poder e sangue em seu nome também não seriam capazes de o reconhecer, se o vissem hoje em dia.

Na segunda faixa do álbum (outra das minhas preferidas), "These Colours Don't Run" (Smith, Harris, Dickinson), entramos de pedra e cal no tema que ocupa todo o álbum - a guerra. Os versos de abertura deixaram-me um nó na garganta:

"It's the same in every country
When you say you're leaving
Left behind the loved ones
Waiting silent in the hall
"

Os "loved ones"... os tais que, muitas vezes, têm que enterrar os mortos e seguir em frente. E, quando nos perguntamos porquê... o pior é que, quando nos perguntamos porquê, o mais certo é ninguém ter um resposta realmente sincera para dar.

Trouxe-me à memória um poema de Fernando Pessoa, "O Menino de Sua Mãe", que ouvi declamado por João Villaret... dois génios, cada um na sua Arte... o resultado é indescritível... pelo menos, eu não tenho o domínio suficiente da língua portuguesa para lhes conseguir fazer justiça. Bem hajam.

Voltando à música, é um tema sóbrio, diria mesmo triste; não só pelo que se canta, mas pela forma como se canta, pelo próprio instrumental. E sempre pontuado por uma certeza - todos somos iguais:

"For the passion, for the glory
For the memories, for the money
You're a soldier, for your country
What's the difference, all the same
"

Nem todas as músicas são relativas à guerra. O álbum abre com a faixa "Different Worlds" (Smith, Harris). É uma malha espectacular. A letra fez imediatamente ressonância comigo, uma vez que trata da insatisfação auto-infligida, sem qualquer razão aparente que não seja apenas o achar que o que não temos é que nos fará felizes:

"Tell me what you can hear
And then tell me what you see
Everybody has a different way to view the world
I would like you to know, when you see the simple things
To appreciate this life, it's not too late to learn

Don't wanna be here
Somewhere I'd rather be
But when I get there
I might find it's not for me
"

É o desperdício puro e simples. Ainda se se pudesse dizer "são assim, mas são felizes"... mas, geralmente, é exactamente o contrário. É pena, mas já me habituei a aceitar que existe muita gente que só encontra satisfação na insatisfação.

"Out Of The Shadows" (Dickinson, Harris) demonstra claramente ser uma faixa de Bruce Dickinson. É impossível não estabelecer o paralelismo com o "Tears Of The Dragons", sem dúvida a obra-prima de Dickinson, na sua carreira a solo.

Esta é daquelas faixas em que cada um constrói o seu tema, cada um interpreta á sua forma, cada um cria a sua imagem. Para mim, fica o seguinte:

"Dusty dreams in fading daylight
Flicker on the walls
Nothing new, your life's adrift
what purpose to it all?
Eyes are closed and death is calling
Reaching out its hand
Call upon the starlight to surround you
"

Mais uma vez, a vida. O que fazer com ela? O que procurar? Abandonar os sonhos? Ou tentar encontrar o nosso brilho antes do cair do pano? E depois, sempre a mesma pergunta - como? Falando por mim, não sei. Por isso, vou experimentando, e tentando viver com atenção ao Destino, e às Oportunidades que me são enviadas.

"Brighter Than a Thousand Suns" (Smith, Harris, Dickinson) é a terceira faixa. Tanto quanto me recordo, é a faixa mais dark que Maiden já fez; lembra novamente o trabalho de Bruce Dickinson a solo. O tema é a bomba atómica, tão "desejada" por todos.

Há um momento fabuloso na letra, que diria que se destina a todos nós, que levamos as nossas vidas numa total auto-anestesia, escolhendo não olhar para aquilo que consideramos demasiado incómodo:

"Bury your morals and bury your dead
Bury your head in the sand
"

Lembrou-me uma faixa de Queensryche:
"Mourn the dead... on the screen,
Mourn the dead... on the screen,
Mourn the dead... on the screen,
Mourn the dead... while they scream
" (Queensryche - "Spool")

A quinta faixa, "The Longest Day" (Smith, Harris, Dickinson) retrata um tema que me é particularmente caro - o Desembarque na Normandia. O título vem do livro de Cornelius Ryan, que retrata as primeiras 24 horas de Operação Overlord, relatando os movimentos de todos os envolvidos, e lembrando-me, mais uma vez, como o Destino, ou a Acaso, ou a Sorte, ou o que quer que seja que lhe queiram chamar têm tanta importância no desenrolar das vidas de todos, até daqueles que fazem História.

É mais uma música dark, como não poderia deixar de ser, dado o tema. Não só musicalmente, mas também na letra.

"Sliding we go, only fear on our side
To the edge of the wire, and we rush with the tide
Oh the water is red, with the blood of the dead
But I'm still alive, pray to God I survive
"

Imagino que no meio do caos que foi aquele desembarque, não haveria tempo para muito mais senão para pedir a Quem Quer Que Seja para conseguir chegar vivo à praia.

"Lord of Light" (Smith, Harris, Dickinson). Esta faixa tem uma frase que me lembra algo que escrevi aqui - "Revenge is living in the past". A esmagadora maioria dos idiotas que se deixam convencer pelos oportunistas a chacinar entusiastamente outros idiotas (por sua vez, convencidos por outros oportunistas), são convencidos quase sempre pelo desejo de vingança, contra uma qualquer ofensa, real ou imaginária.

Por fim, algo que nos define admiravelmente bem, enquanto espécie:

"We are cast out by our bloody father's hand
We are strangers in this lonely promised land
We are the shadows of the one unholy ghost
In our nightmare world the only one we trust
"

Quando arranca o riff principal, é quando se percebe como o som deste álbum está cru. É um som de guitarra fabuloso, com um mínimo de pós-processamento. Quase que conseguia visualizar as colunas, ao ouvir aquele som. É muito idêntico ao som de Scorpions, nos 80s.

Enfim, há quem os considere irrelevantes, que já passaram a idade da reforma, que já não fazem nada de positivo... bem, to each his own. Para mim, continuam a ser uma das melhores bandas do mundo.

Termino com a performance deste álbum (o lugar mais alto que ocuparam nos tops de vários países), extraído de uma Press Release da EMI, em www.ironmaiden.com:

CHART BREAKDOWN SUMMARY TO DATE

#1 Germany, Sweden, Italy, Finland, Greece, Slovenia, Czech Republic, Croatia, Poland, Brazil
#2 Canada, Switzerland, Norway, Hungary, Columbia
#3 Chile
#4 UK, Austria, Spain, India
#5 France, Ireland, Arabia
#6 Iceland, Belgium
#7 Holland
#8 Denmark
#9 USA (é o seu primeiro álbum a entrar no Top 10 nos USA)
#10 Mexico
#11 Portugal, Japan
#12 Australia
#15 Hong Kong
#16 New Zealand

8 Comments:

Blogger A said...

eheheheheheheh

Como vês, estou atenta :)

- acho que foi do café a mais e toda a minha gente a dormir...

Não gosto muito de Iron Maiden, nunca foi a minha onda, mas os primeiros parágrafos do teu post foram música para os meus "olhos".

Beijo grande e bom weekend ;)

00:57  
Blogger segurademim said...

... membro daquele grupo que ainda não se queixou talvez por saber what life is ...

apesar dos pesares... afirmo solenemente, que o teu blog é uma lufada de ar fresquinho que sabe bem, mesmo sem a regularidade habitual

bom fim de semana . muiiiita música . beijocas

09:34  
Anonymous Anónimo said...

Tenho que confessar que não sou fã, e que em 84-85 ainda nem sabia escrever, quanto mais ouvir Iron Maiden :-)

Mas depois de ler o teu post fiquei curiosa. Vou aprofundar o tema e depois deixo feed back.

Bom fim de semana.

17:59  
Blogger Patrícia said...

Nunca ouvi Iron Maiden, confesso, Llyrnion... Eu sei, eu sei, shame on me. :D

Maaaaaaaas... enjoy yourself to the upmost! Shaves, polvo ou vitela, dá no mesmo. ;) Mas sei o que queres dizer... as miiiiigaaaas... :D

Beijo e um abraço graaaaande

P.S.: you'll hear from me ;)

23:00  
Blogger Llyrnion said...

Hallo, A.

Atenta, sim, ainda bem :)

E ainda bem q curtiste a "música"... afinal, foste tu quem levou á sua criação.

:*, amiga.

22:42  
Blogger Llyrnion said...

Hallo, Segura.

Bigado :)

O setnimento é mútuo. Os votos, apesar de atrasados, tb o são :)

:*

22:43  
Blogger Llyrnion said...

Hallo, Raquel.

Ouve à vontade, mas se n curtias Maiden antes, tb n os deverás curtir agora. É q posso dizer sobre eles o mm q digo sobre AC/DC - durante estes anos tds, mudaram mt pouco.

:*

22:44  
Blogger Llyrnion said...

Hallo, Patrícia.

Qual shame, qual q! Cd um ouve o q quer, amiga, e o q gosta.

Sim, as migas, n é? :)

:* & [], amiga :) Fico à espera.

22:46  

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