Chanson Luse
Hoje irei debruçar-me sobre o contributo lusitano para a Chanson Française.
Antes de mais, uma pequena nota - o significado que hoje atribuimos a este termo, Chanson, é, no fundo, um neologismo. Originalmente, a Chanson era um certo tipo de canção da França Renascentista. Só mais tarde é que o termo ficaria associado com o trabalho de Jacques Brel ou Édith Piaf.
E o contributo lusitano? Bem, este é de importância reconhecida, pois surgiu numa altura em que a Chanson estava já, por assim dizer, na sua pré-reforma.
O primeiro contributo lusitano partiu de Alberto, o Ajudante de Torneiro Mecânico. Sua profissão, já a adivinharam, mas sua vocação sempre foram as Artes. Aos 15 anos, partira para terras de França, sob grande risco pessoal, em busca de uma vida melhor, como tantos outros.
Rapidamente aprendeu a Arte do Torneiro Mecânico, demonstrando uma impressionante facilidade de aprendizagem, tendo começado a trabalhar como Ajudante de Torneiro Mecânico com a bonita idade de 30 anos. Ao conseguir, num tão curto espaço de tempo, dominar esta Arte, Alberto, o Ajudante de Torneiro Mecânico, decide experimentar a sua sorte noutras artes.
Um dia, ao passar na rua, repara num grupo de jovens numa esplanada. Bem, mais propriamente, repara nas mamas de uma das mulheres do grupo, e fica hipnotizado. Senta-se numa mesa próxima, e tenta, de forma discreta, ouvir o que discute o grupo.
Apesar do seu fraco domínio do francês, consegue perceber que estão a falar de artistas. Um nome é repetido várias vezes - Brel. Alberto, o Ajudante de Torneiro Mecânico, conseguiu assim descobrir um ponto de interesse da sua musa inspiradora, e ainda bem, pois a sua discrição obteve um resultado retumbante - cinco minutos depois de Alberto, o Ajudante de Torneiro Mecânico se ter sentado na esplanada, o grupo de jovens foi-se embora, talvez um pouco incomodados com o facto de terem a cabeçorra do artista lusitano constantemente a aparecer no seu seio.
Bem, Alberto, o Ajudante de Torneiro Mecânico descobriu, então, o seu objectivo de vida - voltar a encontrar a mamalhuda que havia visto naquela esplanada. Sem olhar a despesas, gasta toda a sua poupança numas cassetes pirata da obra de Jacques Brel, e lança-se na sua carreira de cantor/compositor da Chanson Française.
Num rasgo de criatividade, escolhe o seu nome artístico - Albertô, L'Ajudant de Torniére Mecanique. É com este nome que grava o seu primeiro disco. E assim começa a fazer História.
É no Verão de 1982 que surge o seu primeiro grande sucesso, "Le Cauchechot". Uma música onde Albertô, L'Ajudant de Torniére Mecanique explora o tema da alegria e da camaradagem, sem perder de vista a responsabilidade social que, em tempos idos, lhes estiveram associados, mas que, no início dos anos 80, se começava a perder.
É disto emblemático o refrão deste tema, e um clássico da Chanson (ou, como afirmam alguns puristas, da Nouvelle Chanson):
Regardez vous le Cauchechot
Qu'il ne s'arrete pas d'apiter
Pi-pi-pi pi-ri-pi-pi
Et jamais il desafine
Allez, les mecs,
Mantenaint il faut jouer
Pi-pi-pi pi-ri-pi-pi
Dans le Cauchechot de la jeune fille
Foi um tema que capturou toda uma essência de uma época que se estava a desvanecer na memória de uma França perdida, de uma França que lutava para sacudir a frieza em que se encontrava envolvida, para "retrouver l'âme", reencontrar a sua alma.
E foi no Verão de 82 que Albertô, L'Ajudant de Torniére Mecanique, este artista do Mundo nascido em terras lusas, lança toda a Gália numa viagem em busca da sua alma. E desta vez, posso dizê-lo, foi mesmo toda, pois não houve nenhuma aldeia que se mostrasse resistente.
Animado com o sucesso do seu primeiro single, Albertô, L'Ajudant de Torniére Mecanique lança quase de imediato o segundo, "Je Suis Doublement Énamouré".
Quando estas palavras explodiram na rádio Francesa, a emoção foi indescritível:
Je suis doublement énamouré
Et elles sont trés différentes
Et je n'ai pas la certitude
De ce que j'aime plus
Et je n'ai pas la certitude
De ce que j'aime plus
Je suis doublement énamouré
Et elles sont trés différentes
Esta canção teve o condão de dar início à enxurrada de emoção que dominaria esse memorável Verão de 82. Mas seria apenas o anunciar daquilo que se seguiria.
Três semanas depois, Albertô, L'Ajudant de Torniére Mecanique lançaria aquela que seria a sua obra prima:
Je veux sentir ton bacalhaut, Marie
Je veux sentir ton bacalhaut
Petit Marie, laisse moi aller à cuisine
Laisse moi aller à cuisine
Pour sentir ton bacalhaut
Foi um sucesso retumbante! Por toda a França, nada mais se ouvia senão esta alegoria à viagem que era a Vida, com "V" maiúsculo, onde todos andávamos à deriva, com a esperança de conseguirmos cheirar os bacalhauts que navegavam junto de nós.
De tal forma ficaram os franceses contagiados por este espírito, que 9 meses depois desta época estival, registou-se um record de nascimentos.
Albertô, L'Ajudant de Torniére Mecanique tinha a carreira lançada, e já nada o pararia. A não ser, claro, o autocarro desgovernado que o colheu numa Avenida de Paris, nesse mesmo Verão. A investigação revelaria que toda a gente estava a festejar dentro do autocarro, ouvindo a música de Albertô, L'Ajudant de Torniére Mecanique, incluindo o condutor.
Teve, assim, um fim abrupto a carreira deste brilhante artista de nacionalidade lusa, cujo nome é, para os verdadeiros conhecedores, tão importante no mundo da Chanson Française.
Da próxima vez, irei pegar num outro nome lusitano que se agigantou neste mundo, o de Joachim Barrières.
Link para ver todo o post, Sim, claro que há mais para ler :)