Insatisfações
Data original: 2006-02-10
Antes de mais, um obrigado ao Dinis por me ter enviado o artigo :)
A notícia vem no Correio da Manhã, mas creio que talvez venha no seguimento de um estudo da Sábado - "Metade das portuguesas estão insatisfeitas com o número de investidas dos parceiros, afirmando sofrer com a falta de libido deles, segundo dados de um estudo nacional" (ver artigo).
Achei piada à frase "Há 8% das mulheres a fingir o orgasmo e... 0% dos parceiros a perceber a simulação". Epa, fabuloso! Vejam lá que surpresa. Meu Deus, como é tal possível? Logo o orgasmo feminino, que é cheio de indícios reveladores, e nada fáceis de simular. Homem que é homem vê logo a diferença, claro. Jejúje! Seria de pensar que, por esta altura, já toda a gente teria visto o filme "Um Amor Inevitável". Sim, elas fingem; sim, nós não percebemos. E...? :)
Antes de continuar, permitam-me fazer um pequeno excurso...
Numa atitude *verdadeiramente sensata*, o Conselho Directivo de uma escola primária nos USA (onde mais podia ser?) decidiu suspender um miúdo da primeira classe, por... por... por... assédio sexual! A uma sua colega! Estamos a falar de duas crianças de 6 anos, OK? Ao que parece, o depravado meteu a mão por dentro das calças da rapariga, e tocou-lhe... na pele por debaixo do cinto! Insolência!!!! Suspensão é pouco! Cortem-lhe as mãos! E, se calhar, a castração também seria uma boa ideia, para servir de exemplo para todos esses depravados da sua idade.
Gostei do comentário da porta-voz da Associação de Escolas lá do sítio - "É uma pena que esta situação tenha atraído toda esta publicidade". Que é como quem diz, "É uma pena que agora tanta gente por esse mundo fora vá saber como somos idiotas". Alguém deveria dizer à senhora que ela não precisa ficar preocupada - nós já sabemos.
Podem ver a notícia aqui.
E, perguntam vocês, o que é que tem uma coisa a ver com a outra? É o que veremos de seguida.
1. Repitam comigo: "O Sexo Não É Nada De Extraordinário"
Já o disse e repito - no dia em que as pessoas aprenderem que o sexo é apenas mais um aspecto das suas vidas, e não "O Aspecto Mais Importante" das suas vidas, serão muito mais felizes.
Nesse dia, poderemos aceitar com naturalidade que duas crianças se toquem, ou até que se beijem, emulando o que vêm nos adultos (conceito fabuloso e inovador, não é, esse de as crianças imitarem o comportamento dos adultos?).
Poderemos aceitar que não há - nem deve haver - diferença entre o homem que gosta de sexo e procura uma parceira diferente todos os dias (actualmente designado como "garanhão") e a mulher que faz o mesmo (actualmente designada de "vaca" para baixo); desde que não estejam a iludir ninguém, são livres de fazer o que lhes der na real gana.
Poderemos aceitar que, numa relação, vão haver "dias sim" e "dias não". E que às vezes ambos vão estar no mesmo comprimento de onda, e às vezes não. E que isso não se aplica apenas ao sexo. Simplesmente, como o sexo é aquela
Coisa-Fabulosamente-Fantástica-À-Qual-Devemos-Dedicar-Toda-A-Nossa-Energia (TM), isto transforma-se numa tragédia. O que é facto é que um elemento do casal querer sexo e o outro não é tão trágico como um querer peixe ao jantar e o outro querer ovos mexidos. Porém, por algum motivo que me escapa as discrepâncias gastronómicas na relação não são alvo de muitos estudos. Já o sexo é examinado até à exaustão (sim, o tricadilho - trocadilho tri-partido - foi propositado :) ).
Poderemos dar o real valor a frases como "ao fim de quatro anos de vida a dois o desejo diminui"; ou seja, 0. Qual é o problema com estas frases? São profecias que se realizam a si próprias. Se eu não souber que tenho que me preocupar com o 4º aniversário da relação, não me preocuparei (sim, fico um pouco aquém de La Palisse :) ). Ou seja, uma semana, durante o primeiro ano, em que eu e a minha companheira não temos sexo será exactamente igual a uma semana, durante o quarto ano, em que sucede o mesmo.
Ah, mas imaginemos agora que eu estou armado com esta valiosíssima pepita de conhecimento. Ao chegar à segunda situação (uma semana sem sexo no nosso quarto ano juntos), direi "Oh, meu Deus! Chegámos ao declínio!"; e pronto! Uma situação perfeitamente inócua corre o risco de se transformar num drama.
Mas, acima de tudo, poderemos esquecer de uma vez por todas o "sexo como desporto de competição", para roubar uma expressão do Coupling. Não interessa se eu hoje não atingi o orgasmo, ou se ontem foi ela que não chegou lá. Não é um objectivo. Não é suposto haver a preocupação de "cortarem a meta" juntos; não é suposto haver sequer a preocupação de "cortarem a meta". É uma experiência, uma viagem. E o destino dessa viagem é aquele que ambos quiserem, e não é obrigatório que seja sempre o mesmo destino.
Se, de facto, o que ambos desejam é o orgasmo simultâneo, força! Não há nada de errado nisso. Mas não existe motivo nenhum para isso se transformar num Santo Graal, procurado por toda a espécie humana.
Enfim, damos demasiada importância a este aspecto das nossas vidas. E isso significa que temos dificuldade em tratá-lo com o desprendimento que ele exige.
Acham que estou a exagerar? Então vejam a quantidade de artigos que aparecem semanalmente sobre o assunto nas "revistas de gaijas" e nas "revistas de gaijos armadas em revistas de gaijas"). Curiosamente, tudo artigos onde grandes "peritos" e "peritas" nos explicam o que temos que fazer para sermos felizes. Tenho alguma curiosidade em conhecer a vida desse pessoal, que deve ser plena de felicidade, mas isso será tema para outra altura :)
2. Let's talk about what??!!
Vivemos rodeados por referências sexuais. Basta ver a publicidade à nossa volta. Mas isso não serve para nos libertarmos dos tabús que nos perseguem.
E isso significa que somos capazes de dizer à nossa cara-metade que não gostamos de bróculos, detestamos sumo de tomate, não suportamos as novelas da TVI, e que a roupa das lojas chinesas é uma porcaria. Mas não somos capazes de lhe dizer que hoje gostaríamos que ela nos desse umas palmadas no rabo, ou perguntar-lhe se lhe podemos puxar o cabelo durante o "doggie style". Ao que parece, anda para aí muita gente que não é capaz sequer de dizer que hoje lhe apetecia o "doggie style".
É que há uma coisa que eles dizem no artigo, e têm toda a razão - "As fantasias sexuais são fundamentais". Só acho que a frase peca por não ser suficientemente explícita. Se me permitem, vou refazê-la: "É fundamental que cada um dos elementos do casal divulgue ao outro as suas fantasias sexuais"; tal como faz com as suas outras fantasias - p.ex., os locais que gostaria de visitar.
E aproveito para, depois de ter pensado um pouco mais no assunto, explicar o motivo pelo qual dou tanta importância à conversa sem ambiguidades - obriga-nos a assumir as coisas. Conversa pode ser apenas conversa, mas desde que seja clara não deixa lugar para o mal-entendido, tão comum na subtileza.
No mail que me enviou, o Dinis referia um ponto com o qual concordo completamente, e que defendo - a telepatia, por sistema, não funciona. Sim, todos nós temos momentos especiais, em que um olhar diz tudo, em que um único toque nos dá uma sensação indescritível, nos provoca arrepios por todo o corpo. Nem uma palavra precisa de ser dita. Mas são apenas isso... momentos. Não faz qualquer sentido esperar que toda a vida decorra assim. E, para usar a expressão do Dinis, passamos da "telepatia" para a "tele-apatia", porque a outra pessoa não nos compreende. Como raios esperamos nós que a outra pessoa nos compreenda, se não temos sequer coragem para nos explicarmos?! :)
Sim, "coragem". A pessoa que não consegue falar do assunto não é uma pessoa "sensível que apanha todas as indirectas e as subtilezas, e que é cheia de grandes momentos de revelação". É simplesmente alguém que não tem coragem para dizer claramente à sua cara-metade aquilo de que gosta.
Não me vou prolongar muito mais neste ponto, porque já disse tudo isto milhentas vezes. Mas termino com uma frase que acabou de me ocorrer - nunca subestimem o papel da língua no sexo >:>
3. Egos vs. Eros
A certa altura, o artigo diz "Não tenho dúvidas que há um certo egoísmo masculino".
Se houve uma coisa que eu me fartei de ouvir foi "O homem é mais egoísta que a mulher". Tradicionalmente, até acredito que fosse verdade. Mas isso era porque a mulher tinha um papel demasiado submisso e dependente para poder ser egoísta. Agora, hoje em dia??!! Não, pessoal, hoje em dia é ela por ela... e ele por ele :D
Qual é a fronteira entre individualismo e egoísmo? Entre altruísmo e submissão? Como é que se mantém esta conta-corrente? Esta gestão existe - de forma mais ou menos consciente - em todas as relações. Quid Pro Quo - hoje, eu faço-te isto; amanhã, tu fazes-me aquilo.
A coisa começa a descambar quando o saldo se desequilibra. Quando, de uma forma consistente, começa a ser sempre o mesmo a ceder. Parece simples de evitar, claro. Mas depois, entra em campo uma nova variável - para além da quantidade de cedências, existe igualmente a qualidade das mesmas. E, como tudo o que involve qualidade, os conceitos são extremamente subjectivos e muito dados a interpretações distintas.
Ou seja, eu até posso achar que fiz imensos sacrifícios, mas a minha companheira pode achar que eu cedo apenas em coisas sem importância e que ela é que está sempre a ceder nos assuntos realmente importantes.
Aqui, não tenho muito para dizer. Não faço ideia de como gerir isto de forma a evitar conflitos. Até porque esta questão abrange toda a relação, ou seja, não se esgota no aspecto sexual.
Mas não tenho dúvidas que quanto mais cedo nos livrarmos do mito do egoísmo masculino vs. o altruísmo feminino, melhor. Da mesma forma, talvez fosse boa ideia não apresentar um problema de ambos como "as mulheres sofrem por causa dos homens". Mas para quê mudar o mundo? Como costumo dizer, temos o que queremos; se a mudança depende unicamente de nós, e tudo continua na mesma, é porque estamos contentes com o que temos, ou seja temos - claramente - o que queremos.
Antes de mais, um obrigado ao Dinis por me ter enviado o artigo :)
A notícia vem no Correio da Manhã, mas creio que talvez venha no seguimento de um estudo da Sábado - "Metade das portuguesas estão insatisfeitas com o número de investidas dos parceiros, afirmando sofrer com a falta de libido deles, segundo dados de um estudo nacional" (ver artigo).
Achei piada à frase "Há 8% das mulheres a fingir o orgasmo e... 0% dos parceiros a perceber a simulação". Epa, fabuloso! Vejam lá que surpresa. Meu Deus, como é tal possível? Logo o orgasmo feminino, que é cheio de indícios reveladores, e nada fáceis de simular. Homem que é homem vê logo a diferença, claro. Jejúje! Seria de pensar que, por esta altura, já toda a gente teria visto o filme "Um Amor Inevitável". Sim, elas fingem; sim, nós não percebemos. E...? :)
Antes de continuar, permitam-me fazer um pequeno excurso...
Numa atitude *verdadeiramente sensata*, o Conselho Directivo de uma escola primária nos USA (onde mais podia ser?) decidiu suspender um miúdo da primeira classe, por... por... por... assédio sexual! A uma sua colega! Estamos a falar de duas crianças de 6 anos, OK? Ao que parece, o depravado meteu a mão por dentro das calças da rapariga, e tocou-lhe... na pele por debaixo do cinto! Insolência!!!! Suspensão é pouco! Cortem-lhe as mãos! E, se calhar, a castração também seria uma boa ideia, para servir de exemplo para todos esses depravados da sua idade.
Gostei do comentário da porta-voz da Associação de Escolas lá do sítio - "É uma pena que esta situação tenha atraído toda esta publicidade". Que é como quem diz, "É uma pena que agora tanta gente por esse mundo fora vá saber como somos idiotas". Alguém deveria dizer à senhora que ela não precisa ficar preocupada - nós já sabemos.
Podem ver a notícia aqui.
E, perguntam vocês, o que é que tem uma coisa a ver com a outra? É o que veremos de seguida.
1. Repitam comigo: "O Sexo Não É Nada De Extraordinário"
Já o disse e repito - no dia em que as pessoas aprenderem que o sexo é apenas mais um aspecto das suas vidas, e não "O Aspecto Mais Importante" das suas vidas, serão muito mais felizes.
Nesse dia, poderemos aceitar com naturalidade que duas crianças se toquem, ou até que se beijem, emulando o que vêm nos adultos (conceito fabuloso e inovador, não é, esse de as crianças imitarem o comportamento dos adultos?).
Poderemos aceitar que não há - nem deve haver - diferença entre o homem que gosta de sexo e procura uma parceira diferente todos os dias (actualmente designado como "garanhão") e a mulher que faz o mesmo (actualmente designada de "vaca" para baixo); desde que não estejam a iludir ninguém, são livres de fazer o que lhes der na real gana.
Poderemos aceitar que, numa relação, vão haver "dias sim" e "dias não". E que às vezes ambos vão estar no mesmo comprimento de onda, e às vezes não. E que isso não se aplica apenas ao sexo. Simplesmente, como o sexo é aquela
Coisa-Fabulosamente-Fantástica-À-Qual-Devemos-Dedicar-Toda-A-Nossa-Energia (TM), isto transforma-se numa tragédia. O que é facto é que um elemento do casal querer sexo e o outro não é tão trágico como um querer peixe ao jantar e o outro querer ovos mexidos. Porém, por algum motivo que me escapa as discrepâncias gastronómicas na relação não são alvo de muitos estudos. Já o sexo é examinado até à exaustão (sim, o tricadilho - trocadilho tri-partido - foi propositado :) ).
Poderemos dar o real valor a frases como "ao fim de quatro anos de vida a dois o desejo diminui"; ou seja, 0. Qual é o problema com estas frases? São profecias que se realizam a si próprias. Se eu não souber que tenho que me preocupar com o 4º aniversário da relação, não me preocuparei (sim, fico um pouco aquém de La Palisse :) ). Ou seja, uma semana, durante o primeiro ano, em que eu e a minha companheira não temos sexo será exactamente igual a uma semana, durante o quarto ano, em que sucede o mesmo.
Ah, mas imaginemos agora que eu estou armado com esta valiosíssima pepita de conhecimento. Ao chegar à segunda situação (uma semana sem sexo no nosso quarto ano juntos), direi "Oh, meu Deus! Chegámos ao declínio!"; e pronto! Uma situação perfeitamente inócua corre o risco de se transformar num drama.
Mas, acima de tudo, poderemos esquecer de uma vez por todas o "sexo como desporto de competição", para roubar uma expressão do Coupling. Não interessa se eu hoje não atingi o orgasmo, ou se ontem foi ela que não chegou lá. Não é um objectivo. Não é suposto haver a preocupação de "cortarem a meta" juntos; não é suposto haver sequer a preocupação de "cortarem a meta". É uma experiência, uma viagem. E o destino dessa viagem é aquele que ambos quiserem, e não é obrigatório que seja sempre o mesmo destino.
Se, de facto, o que ambos desejam é o orgasmo simultâneo, força! Não há nada de errado nisso. Mas não existe motivo nenhum para isso se transformar num Santo Graal, procurado por toda a espécie humana.
Enfim, damos demasiada importância a este aspecto das nossas vidas. E isso significa que temos dificuldade em tratá-lo com o desprendimento que ele exige.
Acham que estou a exagerar? Então vejam a quantidade de artigos que aparecem semanalmente sobre o assunto nas "revistas de gaijas" e nas "revistas de gaijos armadas em revistas de gaijas"). Curiosamente, tudo artigos onde grandes "peritos" e "peritas" nos explicam o que temos que fazer para sermos felizes. Tenho alguma curiosidade em conhecer a vida desse pessoal, que deve ser plena de felicidade, mas isso será tema para outra altura :)
2. Let's talk about what??!!
Vivemos rodeados por referências sexuais. Basta ver a publicidade à nossa volta. Mas isso não serve para nos libertarmos dos tabús que nos perseguem.
E isso significa que somos capazes de dizer à nossa cara-metade que não gostamos de bróculos, detestamos sumo de tomate, não suportamos as novelas da TVI, e que a roupa das lojas chinesas é uma porcaria. Mas não somos capazes de lhe dizer que hoje gostaríamos que ela nos desse umas palmadas no rabo, ou perguntar-lhe se lhe podemos puxar o cabelo durante o "doggie style". Ao que parece, anda para aí muita gente que não é capaz sequer de dizer que hoje lhe apetecia o "doggie style".
É que há uma coisa que eles dizem no artigo, e têm toda a razão - "As fantasias sexuais são fundamentais". Só acho que a frase peca por não ser suficientemente explícita. Se me permitem, vou refazê-la: "É fundamental que cada um dos elementos do casal divulgue ao outro as suas fantasias sexuais"; tal como faz com as suas outras fantasias - p.ex., os locais que gostaria de visitar.
E aproveito para, depois de ter pensado um pouco mais no assunto, explicar o motivo pelo qual dou tanta importância à conversa sem ambiguidades - obriga-nos a assumir as coisas. Conversa pode ser apenas conversa, mas desde que seja clara não deixa lugar para o mal-entendido, tão comum na subtileza.
No mail que me enviou, o Dinis referia um ponto com o qual concordo completamente, e que defendo - a telepatia, por sistema, não funciona. Sim, todos nós temos momentos especiais, em que um olhar diz tudo, em que um único toque nos dá uma sensação indescritível, nos provoca arrepios por todo o corpo. Nem uma palavra precisa de ser dita. Mas são apenas isso... momentos. Não faz qualquer sentido esperar que toda a vida decorra assim. E, para usar a expressão do Dinis, passamos da "telepatia" para a "tele-apatia", porque a outra pessoa não nos compreende. Como raios esperamos nós que a outra pessoa nos compreenda, se não temos sequer coragem para nos explicarmos?! :)
Sim, "coragem". A pessoa que não consegue falar do assunto não é uma pessoa "sensível que apanha todas as indirectas e as subtilezas, e que é cheia de grandes momentos de revelação". É simplesmente alguém que não tem coragem para dizer claramente à sua cara-metade aquilo de que gosta.
Não me vou prolongar muito mais neste ponto, porque já disse tudo isto milhentas vezes. Mas termino com uma frase que acabou de me ocorrer - nunca subestimem o papel da língua no sexo >:>
3. Egos vs. Eros
A certa altura, o artigo diz "Não tenho dúvidas que há um certo egoísmo masculino".
Se houve uma coisa que eu me fartei de ouvir foi "O homem é mais egoísta que a mulher". Tradicionalmente, até acredito que fosse verdade. Mas isso era porque a mulher tinha um papel demasiado submisso e dependente para poder ser egoísta. Agora, hoje em dia??!! Não, pessoal, hoje em dia é ela por ela... e ele por ele :D
Qual é a fronteira entre individualismo e egoísmo? Entre altruísmo e submissão? Como é que se mantém esta conta-corrente? Esta gestão existe - de forma mais ou menos consciente - em todas as relações. Quid Pro Quo - hoje, eu faço-te isto; amanhã, tu fazes-me aquilo.
A coisa começa a descambar quando o saldo se desequilibra. Quando, de uma forma consistente, começa a ser sempre o mesmo a ceder. Parece simples de evitar, claro. Mas depois, entra em campo uma nova variável - para além da quantidade de cedências, existe igualmente a qualidade das mesmas. E, como tudo o que involve qualidade, os conceitos são extremamente subjectivos e muito dados a interpretações distintas.
Ou seja, eu até posso achar que fiz imensos sacrifícios, mas a minha companheira pode achar que eu cedo apenas em coisas sem importância e que ela é que está sempre a ceder nos assuntos realmente importantes.
Aqui, não tenho muito para dizer. Não faço ideia de como gerir isto de forma a evitar conflitos. Até porque esta questão abrange toda a relação, ou seja, não se esgota no aspecto sexual.
Mas não tenho dúvidas que quanto mais cedo nos livrarmos do mito do egoísmo masculino vs. o altruísmo feminino, melhor. Da mesma forma, talvez fosse boa ideia não apresentar um problema de ambos como "as mulheres sofrem por causa dos homens". Mas para quê mudar o mundo? Como costumo dizer, temos o que queremos; se a mudança depende unicamente de nós, e tudo continua na mesma, é porque estamos contentes com o que temos, ou seja temos - claramente - o que queremos.
15 Comments:
Porra, Llyrnion, se soubesses quanto deste post se aplicaria à minha relação com o meu ex-namorado (enquanto tal, porque agora passado algum tempo, como amigos, está tudo muito bem)... :(
Continuo a afirmar que estou de acordo com muito daquilo que defendes. Apesar do meu discurso retrógrado, não recrimino nem trato de vaca para baixo uma mulher (ou homem, for all it matters) que tenha uma atitude mais desligada do que a minha em relação às suas relações com os homens e ao sexo.
E não poderia concordar mais com a necessidade de se estabelecer comunicação no casal (fretes é que não, obrigada!). Eu diria, em especial no que toca ao sexo, mas tu reiterarás a importância extrema que atribuo ao sexo e a consequente infelicidade que daí me advém, certo? :)
Por acaso, estás enganada :)
Eu sou dos primeiros a admitir que passo uma boa parte do meu tampo a falar de sexo. Não por lhe atribuir uma importância por aí além, mas por saber que só assim poderei dar a minha contribuição para torná-lo naquilo que é - algo perfeitamente normal, acerca do qual deveríamos poder falar sem grandes problemas ou tabús.
Admito que não está a ter grande efeito à minha volta :)
Portanto, acho que é importante falar de sexo, e muito. Mas não lhe dando aquele papel de coisa verdadeiramente fantabulástica, sem a qual as nossas vidas são desprovidas de qualquer sentido.
Quanto às particulridades das relações com amigos ou namorados, IME estas advêm do facto de sermos muito mais exigentes com as nossas caras-metades do que com os nossos amigos, esquecendo-nos que, quer uns, quer outros, são apenas humanos.
É normal que isso aconteça. Comigo já se passou o mesmo.
Para mim é tão natural como respirar, mas, ao mesmo tempo, trata-se de algo mágico, intenso e vivido ao expoente máximo, algo em que me entrego totalmente (desde que não seja desprovido de amor - já expliquei isto num comentário no blog do Homem Pasmado), logo nunca poderei encará-lo como uma banalidade. :)
Mas aceito que me rotules de exagerada e melodramática, ultra-romântica e outros epítetos semelhantes. Reconheço que não sou fácil de entender. Mas penso que compreendo o teu ponto de vista, Llyrnion.
Não se trata de rotular.
Desde que cada um saiba o que o satisfaz, e se comporte de forma "adequada" (não é o termo correcto, mas não me ocorre outro :) ), não há qualquer problema.
Temos visões diferentes do sexo, e talvez até do amor, não sei. Quanto tentei escrever sobre o assunto (a tal teorização de que falavas), reduzi o amor a dois pilares essenciais: sacrifício e confiança.
Se a minha interpretação do que tu dizes não estiver completamente errada :) tb percebo o q dizes. A maioria das pessoas que conheço tem, de facto, uma visão mais romântica de todo este assunto. As únicas pessoas que concordam comigo têm mais de 40 anos. Eu também estou quase lá, portanto, talvez seja da idade :D
Não me digas uma coisa dessas!!! Quer dizer que agora que eu me tinha convencido que o meu problema era interessar-me por homens da minha idade ou mais novos, tu vens dizer-me que quanto mais velhos mais longe daquilo que eu preciso vão estar?? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH!!!!!!!
:D
Sorry, não me expliquei bem...
A maioria dos homens que conheço não tem uma opinião muito diferente da minha. A não ser talvez atribuirem mais importância ao sexo do que eu... bem, OK, retiremos o "talvez" :D Ah, e obviamente, o amor não é um ingrediente minimamente necessário para o sexo.
É nas mulheres que eu reparo que existe esta mudança, com a idade. Portanto, se tudo decorrer conforme o esperado, o que irá mudar será aquilo que tu precisas.
Hum... porque será que me parece que não ficaste nada aliviada ou satisfeita com isto? ;)
Nada satisfeita... Começas a perceber como funciona o mundo patriciano... ;)
Eu sou diferente dos homens e de muitas mulheres precisamente por considerar o sexo indissociável do amor (mas não o contrário)... Oh well... Tenho de viver comigo mesma... :P
"Tenho de viver comigo mesma"
E não serias melhor encontrares alguém, em vez de "viveres contigo mesma"?
pois... :(
Llyrnion:
Um aspecto triste dessas revistas, é a insistência em não perguntar ao parceiro, para não parecer ignorante e “not cool”. Como se a pessoa nascesse ensinada! Acho que tenho um post sobre isso. Ou ainda não o coloquei…?
:-(
--
“… reduzi o amor a dois pilares essenciais: sacrifício e confiança. …”
- Sacrifício?
Se há coisa que excluo do amor é o sacrifício, o ciúme, o sentimento de posse…
Volto à questão da mudança por outra pessoa. Quem se sacrifica pela pessoa amada, é bem provável que cobre esse sacrifício! É também provável que a outra pessoa não goste da cobrança!
Aceito o sacrifício (com limites), pelos filhos, uma vez que temos obrigações por eles que não temos pela pessoa amada. Não é uma relação paritária.
Não quero, com a pessoa amada, ter esse tipo de relação.
Tenho horror a que dependam de mim!
Já tive essa experiência e creio que vou pagar por ela durante muito tempo.
:-(
Mas enfim, se te dás bem com o sacrifício, força com isso!
--
É engraçado que eu tinha ideia que, quanto mais a idade, menos “banal” era o sexo, tendo em conta a educação recebida…
--
“… A maioria dos homens que conheço não tem uma opinião muito diferente da minha. …”
- Huummmmm! E qual é a tua opinião?
Muitos têm dois conjuntos de valores:
O sexo é bom e deve ser (muito) praticado – pelos homens.
Mas não pelas mulheres!
E quando se trata de sexo extra-conjugal, para eles é diferente…
:-(
É assim que pensas?
--
“… o amor não é um ingrediente minimamente necessário para o sexo. …”
- Penso que os homens, na sua maioria, são assim…
--//--
Patrícia:
“… Eu diria, em especial no que toca ao sexo, mas tu reiterarás a importância extrema que atribuo ao sexo e a consequente infelicidade que daí me advém, certo? :) …”
- Talvez a infelicidade não venha da importância que dás ao sexo, mas das limitações que lhe impões.
--
“…logo nunca poderei encará-lo como uma banalidade. :) …”
- Talvez banalidade não seja a palavra correcta. Afinal, respirar é banal e de suma importância.
--
“… Eu sou diferente dos homens e de muitas mulheres precisamente por considerar o sexo indissociável do amor (mas não o contrário) ...”
- Não te preocupes, muitas, muitas mulheres, pensam como tu.
Hallo, HP.
Amor & sacrifício.
Sacrifício é, de facto, algo complexo de gerir - é o tal "quid pro quo". Mas é inevitável. De maneira como vejo a coisa, cada um terá que fazer sacrifícios, pequenos e grandes; seja pelos filhos, seja um pelo outro. E vai haver alturas em que fazes algo com todo o prazer, e vai haver outras alturas em q a mesma coisa é um sacrifício.
Não é questão de me dar bem com o sacrifício, é questão de ele ser necessário, a não ser q encontrasse uma pessoa que se "encaixasse em mim" na perfeição.
Quando falo em "banalidade" do sexo, refiro-me ao facto de não ser "The Ultimate Thing", aquela coisa que nos governa a vida, e sem a qual seremos todos infelizes, É um aspecto da vida, como outro qq, deverá ter atenção, como outro qq, mas sem ser levado demasiado a sério, e seguramente sem sofrer de tabús.
A propósito, a tal opinião de que falo, é esta - que o sexo é um aspecto da vida, como qq outro, sem nada de extraordinário.
Qt à dualidade de visão sobre o sxeo para homens/mulheres, não, não é essa a minha opinião.
Llyrnion:
”… De maneira como vejo a coisa, cada um terá que fazer sacrifícios, pequenos e grandes; seja pelos filhos, seja um pelo outro. E vai haver alturas em que fazes algo com todo o prazer, e vai haver outras alturas em q a mesma coisa é um sacrifício. …”
- Bem, se calhar o que diverge é a nossa concepção de sacrifício. E apercebo-me que não me expliquei bem. Vou tentar esquematizar a coisa:
1. Aceito que em qualquer relação se deva fazer concessões à outra pessoa!
Mas não as considero como sacrifício.
2. Aceito que se façam alguns sacrifícios pelos filhos e eventualmente alguns, menos (e muito mais fáceis), pelo cônjuge.
3. Aceito que, por questões externas ao casal (acidente, doença, por ex.) se façam grandes sacrifícios. Acredito naquela história de: para o bom e para o mau!
4. O que não aceito, para mim, é que se parta para uma relação com incompatibilidades de carácter, de formas de estar, de crenças, que se consideram correctas e que se terão de abandonar em prol da outra pessoa.
Se uma pessoa, não é à partida, compatível connosco, para quê forçar a relação?
Na esperança da mudança?
Tenho um post acerca disso. Tantos maus casamentos poderiam ser evitados se as pessoas não se iludissem ou não fossem tão pouco exigentes ou não estivessem tão desesperadas…
:-(
--
”… a não ser q encontrasse uma pessoa que se "encaixasse em mim" na perfeição. …”
- Pois, mas para essa “impossibilidade” existem os ajustes, as cedências. Não considero necessário assumir o sacrifício como uma inevitabilidade!
--
”… Quando falo em "banalidade" do sexo, …”
”… A propósito, a tal opinião de que falo, é esta - que o sexo é um aspecto da vida, como qq outro, sem nada de extraordinário. …”
- Eu entendi assim. Mas a palavra banal também tem uma certa conotação pouco lisonjeira.
Costumo dizer que o sexo é tão natural quanto ir ao cinema, quanto comer e beber! Se não exigimos fidelidade nessas actividades, porque o faríamos no sexo?
Só se o sexo fosse algo de especial!
A Patrícia, e muitas outras pessoas assim o pensam e assim o sentem, embora não o consigam fundamentar de forma inteligível para outras pessoas.
Parece-me que nesse aspecto também pensas como a P, ou estarei enganado?
--
”…Qt à dualidade de visão sobre o sexo para homens/mulheres, não, não é essa a minha opinião. …”
- E tens falado sobre isso com a maioria dos homens que conheces?
Bem, devemos movimentar-nos em maiorias diferentes!
eheheheheh!
Epa, não sei como é q este comment me escapou... :(
"Aceito que em qualquer relação se deva fazer concessões à outra pessoa! Mas não as considero como sacrifício."
OK, então é aqui q está a nossa falha de comunicação :)
A minha definição de sacríficio é mais lata.
"O que não aceito, para mim, é que se parta para uma relação com incompatibilidades de carácter, de formas de estar, de crenças, que se consideram correctas e que se terão de abandonar em prol da outra pessoa."
O problema é qd as coisas não se revelam à partida. Não por má fé, mas simplesmente por falta de atenção.
"Tenho um post acerca disso"
Ainda não ganhei coragem para fazer arqueologia no teu blog :)
"Tantos maus casamentos poderiam ser evitados se as pessoas não se iludissem ou não fossem tão pouco exigentes ou não estivessem tão desesperadas"
Geralmente, são aspectos q costumam ir hand-in-hand...
"Eu entendi assim. Mas a palavra banal também tem uma certa conotação pouco lisonjeira. Costumo dizer que o sexo é tão natural quanto ir ao cinema, quanto comer e beber!"
OK, aceito. Natural, então. Fica declarado publicamente que se eu voltar a dizer "banal", estás autorizado a intervir, dizendo: "Não, não é banal, animal! É natural" :D
"Parece-me que nesse aspecto também pensas como a P, ou estarei enganado?"
Não tenho opinião formada. Todas as minhas relações até hj foram monogâmicas, pq era nisso q cada uma das minhas companheiras acreditava. Se algum dia encontrar uma mulher q queira uma relação não-exclusiva, logo verei se consigo encarar a situação. Neste momento, não vejo pq não. Mas da teoria à prática, ainda vai uma bela distância.
"E tens falado sobre isso com a maioria dos homens que conheces? Bem, devemos movimentar-nos em maiorias diferentes!"
Sim, tens razão numa coisa - tenho q redefinir a maioria a q me refiro. Falo nisto com os amigos com quem tenho à vontade para tal. E, neste caso, altero a frase para "e nenhum tem uma opinião diferente da minha". E um deles até é casado :)
L:
OK, então é aqui q está a nossa falha de comunicação :)
A minha definição de sacrifício é mais lata.
Hp:
Epá, não a podes tornar muito lata, ou corres o risco de a descaracterizar.
Para mim, o sacrifício, exceptuando o mencionado em 3., são coisas pontuais, com princípio meio e fim. Já basta a porra da vida a lixar-me, era só o que faltava escolher uma pessoa (ou mais) para partilhar a vida e ainda por cima ter de me sacrificar. Mais vale só do que mal acompanhado…
:-(
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L:
O problema é qd as coisas não se revelam à partida. Não por má fé, mas simplesmente por falta de atenção.
Hp:
De boas intenções está o inferno cheio…
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Hp:
"Parece-me que nesse aspecto também pensas como a P, ou estarei enganado?"
L:
(…) Se algum dia encontrar uma mulher q queira uma relação não-exclusiva, logo verei se consigo encarar a situação. Neste momento, não vejo pq não. Mas da teoria à prática, ainda vai uma bela distância. (…)
Hp:
Vai sim, uma graaannde distância. E ainda estou “eternamente” grato à primeira mulher que me permitiu passar à prática!
"Epá, não a podes tornar muito lata, ou corres o risco de a descaracterizar"
Sim, começo a aperceber-me q tens razão. Acho q vou adoptar a tua nomenclatura de "cedência" vs. "sacrifício".
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