domingo, outubro 01, 2006

Imigração - Parte I

Data original: 2005-11-08

Um país que recebe imigrantes tem responsabilidades para com eles. Tal como um casal que decide ter filhos deve ter a responsabilidade de não ter mais do que os que consegue sustentar, também um país tem recursos finitos, e não pode pura e simplesmente escancarar a porta a todos os que quiserem entrar.

Numa primeira análise superficial, os aspectos mais importantes relacionados com esta "recepção" parecem-me ser os seguintes:

1. Económico
Diga-se o que se disser, é o aspecto mais importante de todos. O país que recebe o imigrante deve fazê-lo de forma a não só poder absorver a sua capacidade produtiva, mas também a não causar distúrbios no tecido produtivo já existente no interior das suas fronteiras.

2. Social
Apesar de todas as "poesias" que se declamam sobre a milagrosa "integração social", a verdade é que, se tudo correr bem no que respeita ao aspecto económico, não será por aqui que as coisas irão desabar. Problemas ao nível social não são, geralmente, problemas, mas apenas sintomas de problemas reais ao nível económico; aliás, isto aplica-se a toda a gente, e não apenas aos imigrantes.

3. Dar o exemplo (não soa bem, mas não me ocorre uma palavra... sugestões, anyone?)
Para além de proporcionar as condições para que o imigrante consiga subsistir condignamente, o país que o recebe deve também dar-lhe o exemplo do que deveria ser uma conduta digna de um país civilizado. E aqui começa o cancro que vai minar tudo...

O imigrante vem, p. ex., de África, de uma região onde está habituado a ver aldeias destruídas por rebeldes anti-governamentais, aldeias destruídas por forças governamentais em combates com os referidos rebeldes, aldeias destruídas por rebeldes anti-rebeldes anti-governamentais... enfim, creio que já se deram conta de qual o elemento comum nestes exemplos.

O imigrante chega, p. ex., a Portugal e pensa "OK, estou num país civilizado. Vamos lá ver como é isto". E pronto, está tudo estragado - aldrabões na política, criminosos nas autarquias, empresários que passam a vida a dizer que os outros têm que se adaptar às dificuldades dos tempos modernos enquanto vão pedindo facilidades para si próprios, tachos e empregos para amigos, e para amigos dos amigos, e para amigos dos amigos dos amigos. E um povo a condizer com todos estes belos exemplos que vêm de cima, claro. Não é de estranhar que o imigrante se adapte rapidamente.

Mas essa adaptação evidencia uma diferença importante; o portuga (aliás, o Ocidental) está habituado a entrar nestes joguinhos por causa de coisas idiotas e, em útima análise, inúteis - O plasma de 3.5 m, o iate de 100m, o carro da empresa, o lugar de garagem, a gaja de 5,000 euros à hora, etc; já o imigrante, vem habituado a fazer o mesmo ou pior por algo muito mais importante - o pão para comer (e, se for só isso, já pode dar-se por muito contente). Portanto, o imigrante vai seguir os exemplos que vê à sua volta, mas mantendo o mesmo relativismo moral que trouxe da sua terra. Não vai evoluir, não vai tentar ser uma pessoa melhor, porque olha à sua volta e não tem qualquer exemplo para o efeito.

Este aspecto, por si só, deveria servir-nos para criar vergonha. Mas preferimos utilizar a nossa criatividade para outros fins.

Pela minha parte, defendo a entrada controlada, de acordo com a capacidade de absorção do país; sou completamente contra a entrada de imigrantes como mão-de-obra temporária baratucha, para projectos faraónicos e inúteis; acho que somos demasiado generosos na atribuição da nacionalidade portuguesa; e concordo com a expulsão de quem não veio para cá para trabalhar - aliás, se pudesse corria até com os portugueses que não andam cá a fazer nada a não ser atrapalhar... mas aí teríamos um problema, porque ficava o país vazio...

No que diz respeito aos "projectos faraónicos e inúteis", sim, estou a referir-me à Santíssima Trindade da Inutilidade - o CCB, a Expo 98, e o Euro 2004. Admito que a recuperação da zona oriental da cidade foi um aspecto positivo da Expo 98 (apesar de estar agora a ser completamente destruído pelos nossos caros empreiteiros), mas continuo a dizer que não era preciso uma exposição mundial para isso.

Portanto, o país que recebe imigrantes tem a responsabilidade de gerir as entradas dos mesmos, tendo em conta os 3 aspectos acima. De uma maneira geral, todos os países da Europa têm sido umas nódoas neste domínio; entre as excepções, contam-se os países nórdicos, dos quais faz parte a Dinamarca. Sabem, a mesma Dinamarca que toda a gente acusou de xenofobia e racismo, quando declarou que entrava para a UE mas queria manter a sua política de imigração e restringir a movimentação de pessoas?

Parvalhões dos dinamarqueses! É muito melhor fazer como o resto da Europa, e receber toda a malta que nos aparecer à porta, mesmo que não tenhamos sequer um vislumbre de solução para um problema básico - uma vez cá dentro, o que vamos fazer com eles?

Bem, vivemos em capitalismo, em economias de mercado. Um dos lemas mais antigos, e mais respeitados, é "laissez faire, laissez passer", que nós (membros da Civilização Ocidental) implementámos de forma brilhante, como o "deixa andar". Portanto, pá, a malta recebe os imigrantes e... prontos! Os gajos chegam, abancam-se, e está tudo fixe.

Se bem se recordam, há algumas semanas vimos imagens dramáticas de africanos que viajaram milhares de Km para serem impedidos de entrar na Europa pelos espanhóis. O caso foi denunciado como desumano, pelas mesmas TVs que agora se apressam a denunciar a incapacidade do governo de Paris. Pois, mas então, no que ficamos? Deixamos entrar toda a gente, ou esforçamo-nos por dar condições decentes a quem entra? É que as duas é assim a modos que impossível.

Tenho um alinhamento algo esquerdista em muitos temas, mas este não é um deles. Rejeito completamente a ideia do Louçã & Cª de que temos mais é que deixar entrar quem quiser. Aliás, é curioso que, p. ex., no que toca a questões ecológicas, a expressão "crescimento sustentado" seja utilizada com tanta frequência, e depois essas mesmas pessoas não se lembrem desse conceito quando falam de imigração.

Bem, hei-de continuar, que o tema não é fácil, e eu não sou perito, sou apenas um observador, como a ONU.

Entretanto, e falando especificamente de França, ou muito me engano ou ainda um dia poderemos ouvir um discurso de agradecimento de Le Pen a estes jovens entusiastas que andam por essa Gália fora (e agora já pela Bélgica e Alemanha, também) a afastar o nocturno frio invernal incendiando a propriedade dos outros; discurso esse onde o nosso JM irá agradecer, de forma igualmente calorosa, a estes imigrantes por todos os votos que conseguiu, graças a estas suas acções ponderadas e eficazes (sim, porque vai ser assim que eles irão, certamente, resolver os seus problemas); muito possivelmente, será no mesmo discurso em que irá demonstrar a sua gratidão, anunciando as medidas para correr com todos esses imigrantes de França. Sim, vou seguir com muita curiosidade os resultados da extrema-direita nas eleições vindouras.

Portanto, pá, para todos esses jovens injustiçados, a minha saudação: Allez, les mecs! Bravo, hein? Connards!

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro amigo,

Se puder visite o meu blog http://antoniorbtavares.blogspot.com/ (recente)ou no blog do Sol (semanário recente em Portugal) e faça pesquisa por antoniorbtavares.

Agradecia a sua opinião sobreo que escrevi.

01:29  
Blogger Llyrnion said...

Hallo, António.

Obrigado pela visita. Já li, e deixei o meu comentário.

Fiquei com a impressão q, apesar de termos ideias que se tocam em alguns pontos, há uma diferença fundamental na origem dessas ideias.

No meu caso, defendo que a Imigração deveria ser gerida de forma racional, pela responsabilidade que o país de destino tem para com o imigrante.

Tal cm disse, rejeito o pseudo-humanitarismo de deixar entrar td a gente e depois ignorá-los, ou deixá-los a viver uma vida de esmolas, venham elas dos privados ou do Estado.

Se os recebemos, então temos obrigação de lhes dar uma vida em condições. Se não temos possibilidades para isso, então temos que admitir que não os podemos receber.

Não é bonito? Não. Não é justo? Tb não. Mas a vida raramente o é.

No resto, no q toca à responsabilidade do país de destino para com o "seu povo"... enfim, no nosso caso, há outros problemas para resolver, que são bem mais prioritários do que este...

P.ex., acabar de vez com o futebol. Nada melhor do q acabar com um cancro, para nos sentirmos logo melhores :) E este cancro... epa, se conseguíssemos limpar este cancro, acho q seria quase um milagre.

O desporto continuaria, claro, que não tem culpa de nada. Mas os chulos e os mafiosos, esses teriam q procurar outro poiso, uma vez q a única coisa q lhes interessa - o dinheiro fácil - desapareceria. Talvez pudéssemos mandá-los tds pa Itália... mas acho q os italianos n estariam interessados nestes imigrantes :)

Cumprimentos.

10:07  
Blogger inBluesY said...

este é daqueles assuntos dificeis de ver por aqui, contudo lendo apenas sem misturar outros sentimentos, paret da essência está aqui, sim, e tb li o t/comnt que acho muito razoável.

sendo um -I- fico a aguardar o II.

uma questão para mim é de facto de base, os paises não tendo condições para os próprios não deviam permitir, é uma questão humanitária.

13:46  
Blogger Sea said...

Pois... esta questão é um pouco controversa.
Digamos que... há muita gente que nunca deveria entrar, nem ter entrado, neste país.
Kisses

14:18  
Blogger inBluesY said...

...sabes qdo vi 'os lisboetas' este tema era bem focalizado, contudo o que mais provocou arrepio foi precisamente ver ali na tela que as supostas nossas fragilidades, mesmo as mais subtis, dai não gostar 'tanto' do obvio, eram meticulosamente aproveitadas como mais valias.

fragilidades do sistema, onde sempre e sempre alguêm está à espera para aproveitar.

10:41  

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